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09/08/2010

Pesquisa identifica perfis de mortalidade em idosos com desnutrição em BH

Renata Moehlecke


Em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) avaliaram declarações de óbito de quase 29 mil idosos acima de 60 anos de Belo Horizonte que apresentaram causas múltiplas de morte, a fim de observar o papel da desnutrição no processo. O estudo estabeleceu dez perfis de mortalidade e a desnutrição foi evidenciada cerca de cinco vezes mais pelo enfoque das causas múltiplas. “Embora associada ao aumento do número de óbitos, a desnutrição não tem sido devidamente evidenciada nas estatísticas oficiais de mortalidade. Isto porque, ao se tabular apenas uma causa – a causa básica de morte –, há uma perda de grande das informações”, explicam os pesquisadores no artigo. Do total de declarações analisadas, 294 mencionaram a desnutrição como causa básica e 1.411 a apontaram como uma das causas múltiplas.


 Segundo os pesquisadores, o risco de morrer no Brasil por desnutrição, durante a velhice, apresenta tendência crescente

Segundo os pesquisadores, o risco de morrer no Brasil por desnutrição, durante a velhice, apresenta tendência crescente


“A pesquisa mostrou sobremortalidade feminina (52,8%), maior concentração de mortes na raça/cor branca (50,9%), em viúvos (43,6%) e na faixa etária de 80 a 89 anos (35,2%)”, apontam os pesquisadores. Alguns dos perfis de mortalidade apresentados foram: idosos desnutridos do sexo masculino, com 4 a 7 anos de estudo, casados, morreram por desnutrição protéica na estação fria; mulheres desnutridas, solteiras e viúvas, com 90 anos e mais e nenhuma escolaridade, morreram no calor, especialmente no norte e nordeste de Belo Horizonte; idosos desnutridos com alta escolaridade, cor branca, 80 a 89 anos morreram com desnutrição protéico-calórica, em domicílios concentrados nas regiões centro-sul e oeste; e idosos desnutridos mais jovens (60 a 69 anos), das regiões da Pampulha, Nordeste, Barreiro e Venda Nova, com baixa escolaridade, cor preta e parda, morreram com marasmo nutricional em hospitais – má-nutrição quantitativa, subnutrição.


Segundo os pesquisadores, o risco de morrer no Brasil por desnutrição, durante a velhice, apresenta tendência crescente, relacionado a problemas sociais e desigualdades no acesso a alimentação adequada. “A má nutrição no idoso pode estar associada ainda a alterações fisiológicas do envelhecimento, a condições sócio-econômicas, a doenças que diminuem o apetite e absorção dos alimentos e a interação com medicamentos, já que os fármacos podem afetar a ingestão e o metabolismo de nutrientes”, elucidam os estudiosos. “Figuram também como causas da desnutrição no idoso o desconhecimento sobre o preparo dos alimentos e a nutrição adequada, problemas dentários, limitações físicas, dificuldade de visão e de ambulação, tremores, isolamento social, depressão, problemas mentais e alcoolismo”.


A pesquisa, para os estudiosos, demonstrou a limitação da análise que enfoca apenas a causa básica, tradicionalmente utilizada nas estatísticas oficiais de mortalidade, e o impacto da abordagem de causas múltiplas, ao evidenciar causas de morte que permaneceriam ocultas ou subdimensionadas pelo enfoque tradicional. “O melhor entendimento do conjunto de enfermidades que desencadeou o óbito de idosos com desnutrição poderá subsidiar medidas de intervenção direcionadas à assistência, prevenção e promoção da saúde”, afirmam os pesquisadores. “Os perfis de mortalidade identificados devem ser repensados, na prática, por instituições e profissionais de saúde, a fim de redirecionar e priorizar ações de melhoria da qualidade de vida e, ainda, planejar e definir políticas públicas direcionadas ao bem-estar da população idosa”.


Publicado em 6/8/2010.

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