Início do conteúdo

12/05/2009

Pesquisa investiga formas de violência entre casais de jovens

Informe Ensp


Meninas estão agredindo tanto quanto meninos, de acordo com o estudo Vivência de violência nas relações afetivo-sexuais entre adolescentes, feita por pesquisadoras do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/Fiocruz). O estudo, feito nas cinco regiões brasileiras, investigou cerca de 4 mil adolescentes entre 15 e 19 anos de escolas públicas e privadas. A pesquisadora Kathie Njaine, coordenadora do projeto junto com Cecília Minayo e Simone Gonçalves de Assis, destacou que o comportamento das mulheres observadas na pesquisa é uma resposta às agressões sofridas. Além disso, determinadas formas de agressão por parte das meninas, em alguns casos, era maior que a dos meninos, como por exemplo a agressão verbal. "É claro que a agressão física também aparece", comentou Kathie, "mas ocorre em menor proporção e é menos violenta que a agressão dos meninos".


 

 Dentre as formas de agressão encontradas na pesquisa estão as violência verbais, físicas, sexuais e também as relacionais

Dentre as formas de agressão encontradas na pesquisa estão as violência verbais, físicas, sexuais e também as relacionais


O objetivo do estudo foi verificar as formas de violência nas relações afetivo-amorosas entre casais de namorados adolescentes (15 a 19 anos). "A ideia não foi entrevistar casais, e sim adolescentes, principalmente os que já passaram pela experiência do namoro e do 'ficar', como são denominadas pelos jovens as relações amorosas sem compromisso. Também não temos um quadro sobre as causas dessa violência. O grande objetivo do estudo foi investigar a prevalência e as formas de violência entre jovens no país", disse Kathie.


Dados da pesquisa apontam que em Manaus, primeira capital estudada, 80% dos adolescentes já vivenciaram formas de violência no namoro ou no "ficar". Dentre as formas de agressão encontradas na pesquisa estão as violência verbais, físicas, sexuais e também as relacionais. "Formas tradicionais e modernas de agressão. Um exemplo é o uso de sites de relacionamento na internet para expor fotos íntimas e pessoais e, assim, denegrir a imagem da ex-companheira ou ex-companheiro. Nós não percebemos diferenças muito grandes de gênero nas formas de agressão, salvo na violência física e sexual", explicou Kathie.


Em Manaus a pesquisa já foi concluída e as informações das outras capitais ainda estão sendo tratadas e analisadas. Dados preliminares mostram também características regionais e culturais de violência. "No Norte, a questão do machismo aparece muito forte, acompanhada por grande submissão das meninas nas formas de se relacionar. Mas essa não é a única causa de violência, e isso é preocupante", denunciou a pesquisadora. "Percebemos também que os adolescentes tendem a reproduzir as formas de relacionamento dos adultos. Muitas vezes presenciam isso dentro de suas próprias casas", ressaltou.


De acordo com a pesquisadora, não existe, no país, uma rede de serviços estruturados na área de educação nem da saúde que apóie esses adolescentes. "Essa é uma etapa negligenciada pelos adultos. Os jovens vivenciam experiências extremamente negativas a ponto de cometerem suicídios. Quando sofrem essas decepções afetivo-sexuais, se sentem muito sós e, normalmente, se aconselham com outros adolescentes tão imaturos quanto eles. Esses dramas precisam ser tratados e orientados para não se tornarem a única realidade da vida desses jovens; para não se transformarem em experiências que eles reproduzirão em seus próximos relacionamentos", recomendou.


A ideia é que esses dados sejam o fomento para novos projetos e materiais que supram essa lacuna existente no Brasil. Queremos produzir materiais que possam ser utilizados por escolas, profissionais de saúde e também pelas famílias. Criar parcerias com todos os setores que lidam com adolescentes. "Embora saibamos que existem muitos programas exitosos e interessantes voltados para esse público, nunca foi feito um estudo dessa magnitude no país. Agora, teremos subsídios para novas ações.


O estudo foi financiado pela Fundação Ford e, além da parceria com as secretarias de Educação das capitais estudadas - Manaus, Porto Velho, Teresina, Recife, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Florianópolis, Porto Alegre, Cuiabá e Brasília -, também contou com a colaboração de pesquisadores das dez universidades federais das capitais estudadas. Os dados consolidados da pesquisa feita em Manaus foram apresentados por Kathie no 12º Congresso Mundial de Saúde Pública, em Istambul, na Turquia, realizado no fim de abril.


Publicado em 12/5/2009.

Voltar ao topo Voltar