Início do conteúdo

06/11/2009

Pesquisa no Estado do Rio avalia assistência em planejamento reprodutivo

Renata Moehlecke


Pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) avaliaram a perspectiva de mulheres, moradoras de áreas urbanas e rurais, sobre suas experiências e o atendimento realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no que diz respeito à contracepção e ao planejamento reprodutivo. A pesquisa referente ao Rio de Janeiro, publicada na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, faz parte de um estudo mais abrangente, que envolve centros de pesquisa em quatro outros estados brasileiros: Amazonas, Pernambuco, Goiás e Santa Catarina. Os resultados apontaram que existe uma maior diversidade no uso de métodos contraceptivos na capital, em contraste com o interior, onde apenas a laqueadura se apresenta como alternativa à pílula.


 Na capital, existe uma maior diversidade no uso de métodos contraceptivos, em contraste com o interior, onde apenas a laqueadura se apresenta como alternativa à pílula (Foto: Matthew Bowden / Wikipedia) 

 Na capital, existe uma maior diversidade no uso de métodos contraceptivos, em contraste com o interior, onde apenas a laqueadura se apresenta como alternativa à pílula (Foto: Matthew Bowden / Wikipedia) 


As 60 participantes, que tinham entre 18 e 49 anos, foram selecionadas em duas unidades básicas de saúde da capital e de uma unidade do Programa Saúde da Família (PSF) no interior, na área rural. As mulheres já haviam iniciado sua vida sexual, entre os 12 e os 28 anos, com exceção de uma moça de 21 anos do interior, e 70% delas se declararam casadas. “Mais de 90% delas tinham experiências reprodutivas, sem distinções entre o contexto urbano e rural”, afirmam os pesquisadores. “A média foi de 2,7 gestações por mulher: 31% tiveram uma gravidez e 45,6% declaram dois ou três episódios, enquanto 22,8% relataram de quatro até dez casos”.  


Os dados também indicaram que aproximadamente um terço dos casos foi de gestações definidas como “desejadas”, sendo os outros dois terços referidos como “não queria ficar grávida”, “não queria ficar grávida naquele momento”, “não queria ter filhos”, “não queria ter mais filhos” ou “era indiferente”. “Entretanto, o fato de declararem não querer ter filhos não correspondeu a um comportamento contraceptivo coerente, pois somente um terço das mulheres fazia uso de algum método contraceptivo quando engravidou”, comentam os pesquisadores. “Há um descompasso entre a manifestação expressa de não querer uma gravidez e a efetiva tomada de precaução nas relações sexuais”.


Segundo os pesquisadores, as mulheres forneceram diversas justificativas para não usarem nenhum método anticoncepcional, embora não quisessem engravidar. “Chama a atenção a recorrente frase ‘pensava que não podia engravidar’”, dizem os autores no artigo. “Há casos em que elas diziam acreditar que não engravidariam amamentando, sentindo-se ‘naturalmente’ protegidas; porque consideravam ainda estar sob o efeito de métodos hormonais cujo uso fora interrompido algum tempo antes; porque entendiam que o uso contínuo de um método hormonal por alguns anos as protegia ainda por algum tempo depois de sua retirada, como se impregnasse o organismo para além do seu uso cotidiano; bem como o fato de ‘não pensar no assunto’, denotando uma certa displicência com tais cuidados”. 


Quanto aos métodos por elas utilizados, as mulheres contaram que, em média, foram três diferentes ao longo de suas trajetórias contraceptivas. A maioria das paticipantes do interior usou até dois métodos, enquanto as da capital asseguraram a experimentação de dois até oito tipos. A pílula foi o método mais conhecido e utilizado, sobretudo no início. As mulheres da área rural afirmaram começar a prevenção com a pílula e passar, na metade dos casos, para a laqueadura tubária (também conhecida como ligadura). “Foram encontradas 13 mulheres esterilizadas no momento da entrevista, sendo dez no interior, em contraste com apenas três da capital”, contam os pesquisadores. “O alto número de usuárias laqueadas, se comparado ao da capital, comprova menor possibilidade de escolha e acesso aos métodos contraceptivos reversíveis”.


Quando se trata de obter algum método contraceptivo, as entrevistadas relataram se dirigirem a serviços públicos de saúde ou farmácias, muitas vezes sem orientação médica. “A maioria sabia que a unidade de saúde na qual se encontravam oferecia métodos para evitar filhos e também grande parte respondeu afirmativamente à existência de palestras sobre o tema”, destacam os pesquisadores. “A maioria das usuárias do PSF, no interior, foi categórica ao afirmar que este tipo de atividade não existia no posto que freqüentavam”. Os autores acrescentam que o trabalho educativo em grupo, na capital, amplia as possibilidades de escolha de métodos e aprendizado coletivo, embora o acesso ao dispositivo intrauterino (DIU) e à ligadura ainda seja considerado problemático, devido às dificuldades no atendimento. 


Além disso, os pesquisadores chamam atenção para o fato de que os serviços de saúde terminam priorizando o atendimento em contracepção a partir do momento em que a mulher já iniciou sua trajetória reprodutiva. “Proporcionar as usuárias a possibilidade de iniciar sua vida sexual sem risco de gravidez imprevista não integra as prioridades na organização dos serviços”, comentam os autores. “Lógica semelhante está subjacente à atitude das unidades de saúde em relação às adolescentes, que atuam somente quando a moça chega à unidade já grávida, em busca de assistência pré-natal”.


Para ler a íntegra do artigo, clique aqui.


Publicado em 6/11/2009.

Voltar ao topo Voltar