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15/09/2006

Pesquisa que avalia os significados do brincar em hospitais ganha prêmio

Roberta Monteiro


Investigar e discutir estratégias de promoção do brincar no ambiente hospitalar foi o objetivo da pesquisa Os significados da promoção do brincar em hospitais, desenvolvida por Rosa Mitre, coordenadora do programa Saúde e Brincar do Instituto Fernandes Figueira (IFF), unidade materno-infantil da Fiocruz, e pelo pesquisador Romeu Gomes. O trabalho foi um dos 56 premiados entre os sete mil inscritos no 11º Congresso Mundial de Saúde Pública e 8º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, promovido pela Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), que ocorreu de 21 a 25 de agosto, no Rio de Janeiro.


A pesquisa teve como base 33 entrevistas realizadas com profissionais em três hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS), que funcionam como centro de referência na área da saúde da criança, localizados em Porto Alegre, São Paulo e Recife. As entrevistas buscaram saber o significado do brincar para os profissionais que trabalham com atividades lúdicas nestas instituições.  O resultado mostra que estes profissionais vêem o brincar como agente facilitador da interação entre eles, crianças e seus acompanhantes, o que contribui para a diminuição do sofrimento inclusive deles e a sensação de isolamento gerada pela internação hospitalar.


De acordo com dados do Datasus, no Brasil, o número de internações hospitalares na área da pediatria é bastante elevado, sendo superado apenas pelas internações em clínica geral, clínica cirúrgica e obstetrícia, o que significa mais de um milhão de crianças internadas por ano. Segundo Rosa, a experiência da hospitalização na infância pode ser considerada uma situação traumática, tanto para a criança quanto para a própria família. “Para os profissionais que trabalham com a hospitalização infantil, o brincar não é visto apenas sob a perspectiva da recreação, e sim como instrumento que permite à criança ter acesso a sua própria linguagem, o que minimiza a angústia, a ansiedade e o medo”, afirma Rosa.

 

A preocupação em proporcionar às crianças internadas um local que fuja aos padrões sombrios do ambiente hospitalar já faz parte da rotina do IFF desde 1994, quando o Saúde e Brincar foi iniciado. Rosa explica que a internação representa uma ruptura na vida da criança e que o brincar é necessário em todas as etapas de seu desenvolvimento. “Brincar possibilita recuperar um pouco do universo infantil para o hospital e tornar o período de internação menos traumático”, garante Rosa, que acompanha cerca de 540 crianças por mês que estão internadas ou em atendimento ambulatorial no IFF.


A coordenadora do programa afirma que ainda existem barreiras para a implantação de ações terapêuticas que utilizam o lúdico, devido à banalização do brincar, e que para que se construa esta atividade é necessário o envolvimento não só dos profissionais da área, mas de toda a instituição. “As políticas públicas voltadas para a saúde da criança tanto devem assegurar o aperfeiçoamento das intervenções técnicas, como promover a construção de conhecimentos multidisciplinares que possibilitem uma abordagem mais complexa da hospitalização infantil, buscando uma maior integralidade da assistência”, ressalta Rosa.

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