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16/03/2011

Pesquisa sobre doença hemolítica será tema de congresso internacional

Roberta Monteiro


Apesar dos avanços em relação ao tratamento, a doença hemolítica por incompatibilidade de Rh ainda é responsável por elevadas taxas de morbidade e mortalidade do feto ou do recém-nascido no período a partir da 22ª semana de gestação até sete dias completos após o nascimento. Com o objetivo de avaliar a eficácia do uso da imunoglobulina humana no tratamento da doença, o Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) fez uma pesquisa envolvendo recém-nascidos e gestantes após diagnóstico da doença. Centro de referência para atendimento de gestantes aloimunizadas, ou seja, que produzem anticorpos devido à exposição do indivíduo a antígenos não próprios, e para treinamento das equipes de unidades de saúde cadastradas no Programa de Profilaxia da Aloimunização Rh (D) do Estado do Rio de Janeiro, o IFF foi convidado a ministrar uma palestra sobre o tema no 21º Congresso Regional da Sociedade Internacional de Transfusão Sanguínea, que ocorrerá de 18 a 22 de junho, em Lisboa, Portugal.


 Cerca de 10% das gestações tem incompatibilidade Rh (D) materno-fetal e, entre estas, 5% apresentam aloimunização, sendo a sensibilização muito rara durante a primeira gravidez

Cerca de 10% das gestações tem incompatibilidade Rh (D) materno-fetal e, entre estas, 5% apresentam aloimunização, sendo a sensibilização muito rara durante a primeira gravidez


Para a chefe do Serviço de Hemoterapia do IFF, Maria Cristina Pessoa, a oportunidade de participar do congresso representa reconhecimento internacional do ensaio clínico desenvolvido no IFF por uma equipe multidisciplinar e que resultou na sua tese de doutorado Uso da imunoglobulina humana em recém-nascidos com anemia hemolítica por aloimunização Rh (D): ensaio clínico duplo cego, randomizado, defendida em 2009, no próprio Instituto. A principal causa da doença hemolítica do recém-nascido, também conhecida como eritroblastose fetal, é a incompatibilidade sanguínea Rh (D), que ocorre quando uma mulher Rh (D) negativo engravida de homem Rh (D) positivo. Durante sua primeira gravidez, no momento do parto ou de um aborto, pode haver uma pequena hemorragia. Se o feto for Rh (D) positivo, a mulher entrará em contato com o antígeno D, que não possui, e se sensibilizará, passando a produzir anticorpo anti-D em um prazo que varia de duas semanas a dois meses. Quando engravidar outra vez, haverá passagem do anticorpo anti-D pela placenta. Dessa forma, a doença destrói as hemácias Rh (D) positivas do feto ou do recém-nascido, pela ação de anticorpos maternos anti-Rh (D) transportados por meio da placenta, que pode levar à anemia profunda e à icterícia (pele amarelada).


Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 10% das gestações tem incompatibilidade Rh (D) materno-fetal e, entre estas, 5% apresentam aloimunização, sendo a sensibilização muito rara durante a primeira gravidez. Em média, 50% dos fetos são levemente afetados e não precisam de tratamento intra-uterino. Dentre os restantes, 25% nascem vivos e 25% morrem intra-útero. “Considerando que a frequência média de mulheres Rh negativo no Brasil é em torno de 10% e o número anual de partos é de aproximadamente 3 milhões, teríamos cerca de 300 mil mulheres Rh negativas com risco potencial para a aloimunização”, destaca a pesquisadora.


A pesquisa foi desenvolvida no IFF, entre 2006 a 2009, com 92 recém-nascidos, sendo 46 no grupo de tratamento e 46 no grupo controle. Neste período, um grupo de recém-nascidos recebeu imunoglobulina e outro soro fisiológico nas primeiras seis horas de vida. Todos os bebês do estudo receberam tratamento com fototerapia de alta intensidade, de forma a neutralizar o efeito desta terapia sobre o quadro clínico da doença hemolítica Rh. Para a realização da exsanguineotransfusão (EXT) foram considerados os critérios recomendados pela Academia Americana de Pediatria.“Sabemos que os benefícios da EXT na doença hemolítica Rh estão bem estabelecidos, porém, seus riscos são altos e as taxas de mortalidade podem chegar a 2 %”, comenta a médica.


A pesquisadora diz que há alguns anos a imunoglobulina humana endovenosa tem sido utilizada em centros neonatais, com o propósito de diminuir a necessidade de exsanguineotransfusão (EXT) entre os recém-nascidos ictéricos. “Apesar do ensaio clínico realizado no Rio de Janeiro não ter apresentado resultados favoráveis ao uso da imunoglobulina endovenosa na doença hemolítica do recém-nascido, esta conclusão ainda não é definitiva”, explica.


Publicado em 15/3/2011.

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