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31/03/2010

Pesquisa sobre programas sociais elabora indicadores para avaliação em saúde

Informe Ensp


A perspectiva das cidades saudáveis vem se consolidando como uma estratégia de promoção da saúde desde 1986 e busca fortalecer a colaboração intersetorial, evitando a superposição e fragmentação das ações. Nessa direção, a pesquisa Avaliação de ações intersetoriais em saúde, coordenada pela pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz)Rosana Magalhães e financiada pelo Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde Pública (PDTSP) da Fiocruz, visa desenvolver metodologias para avaliação do alcance das iniciativas e estratégias intersetoriais em saúde a partir do estudo da implementação dos programas Bolsa Família e Saúde da Família no bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro.


 Mônica Avelar Magalhães, Rosana Magalhães e Fabio Peres, que participam do estudo<BR><br />
(Foto: Virginia Damas/Ensp)

Mônica Avelar Magalhães, Rosana Magalhães e Fabio Peres, que participam do estudo

(Foto: Virginia Damas/Ensp)


De acordo com Rosana, o principal objetivo do projeto é a construção de uma matriz de dimensões e indicadores capaz de orientar processos decisórios que envolvem profissionais, gestores e técnicos no cotidiano dos serviços em cada contexto local. A pesquisa parte do pressuposto de que é importante combinar o conhecimento sociológico, epidemiológico e geográfico para o entendimento do espaço social não como um conjunto de variáveis isoladas e independentes, mas como espaço em que há interação recíproca entre pessoas, grupos e diferentes recursos. "A saúde é uma questão complexa e dificilmente pode ser alcançada com ações isoladas. Políticas públicas intersetoriais tendem a ser mais efetivas no alcance de mudanças", defende Rosana.


Tendo como ponto de partida os bancos de dados do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, dados do Sistema de Informação da Atenção Básica do Governo (Siab) e também dados oriundos dos próprios programas Bolsa Família e Saúde da Família, o esforço do projeto tem sido mapear condições de saúde e acesso aos programas sociais em três comunidades do Complexo de Manguinhos: Mandela de Pedra, Samora Machel e Parque Oswaldo Cruz visando à construção de um Sistema de Informação Georreferenciada (SIG). "Essas áreas piloto desafiam a lógica tradicional das políticas públicas na medida em que é difícil localizar famílias por meio das formas tradicionais de endereçamento. No projeto, a espacialização das informações sobre as famílias requer o apoio dos agentes comunitários de saúde na medida em que tem um conhecimento aprofundado do território em que atuam".


Outra integrante do projeto, a pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Cientifica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) Mônica Avelar Magalhães explica que a construção de SIG permite integrar dados de diferentes fontes e apresentar mapas espacializados que podem servir para localizar eventos de saúde na área, discriminar situações de maior vulnerabilidade e, sobretudo, comparar diferentes aspectos da realidade local. Pelo SIG, também é possível fazer um acompanhamento longitudinal das famílias por meio da alimentação contínua, integrada e sistemática de dados.


Rosana enfatizou ainda que "a equipe tem enfrentado algumas dificuldades devido à rotatividade de profissionais da Estratégia de Saúde da Família (ESF) e ao confronto entre as lógicas da gestão e da pesquisa, mas essas dificuldades têm sido contornadas na medida em que há um interesse comum no desenho de uma abordagem avaliativa que possibilite a apreensão do território de Manguinhos em toda a sua diversidade e dinâmica". Mônica comenta que o uso de informações georreferenciadas para a delimitação de áreas de risco já é bastante difundido, mas, no cotidiano da gestão local dos serviços de saúde, ainda é reduzido frente ao seu potencial.


Rosana explica que, a partir da base cartográfica e fotografias aéreas disponibilizadas pelo Instituto Pereira Passos, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento da Prefeitura do Rio de Janeiro, as famílias das áreas englobadas no projeto, que inclui a área coberta pela Estratégia de Saúde da Família nessas comunidades, foram localizadas e, a partir daí, receberam um código para serem identificadas pelas equipes da ESF. As variáveis escolhidas para a espacialização foram a inserção no programa Bolsa Família, gestantes beneficiárias do Bolsa Família, moradores hipertensos e com tuberculose.


"Ainda não conseguimos concluir a espacialização, mas esperamos, com o maior envolvimento dos agentes e profissionais da ESF, construir ao final da pesquisa uma ferramenta útil para os gestores e que ela possa gerar importantes aprendizados para o contexto de Manguinhos e também para outros contextos de implementação de ações intersetoriais em saúde voltadas à redução de iniquidades sociais", considera Rosana.


Mônica constatou também que o fluxo de dados muitas vezes não é informatizado e não permite um acompanhamento sistemático e contínuo de ações e projetos. Além disso, os dados levantados no cotidiano não retornam aos profissionais e gestores de maneira inteligível. Com isso, não são capazes de orientar processos decisórios. Diversas vezes os centros e unidades de saúde desconhecem as múltiplas demandas e necessidades da população ainda que existam montanhas de dados e informações, pois elas não são confrontadas.


Publicado em 29/3/2010.

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