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12/05/2010

Pesquisa sugere ampliar cidadania ecológica em curso de automobilística

Renata Moehlecke


Em tese recentemente defendida em ensino de biociências e saúde no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o biólogo Jorge Lemos analisou se as questões ambientais discutidas em um curso técnico de nível médio de automobilística contribuem para uma formação cidadã. O estudo contou com a participação de 13 docentes e 78 alunos matriculados ou formados no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ) desde o início do curso, em 2001, até 2008. A pesquisa concluiu que apesar dos professores e alunos reconhecerem que a prática profissional gera impactos significativos no meio ambiente, não há ainda um alcance de uma cidadania crítica plena durante o processo formativo.


“No Brasil, as questões ambientais passaram a ter lugar na educação profissional no nível médio, cabendo aos seus docentes um papel mais estratégico na formação dos futuros profissionais da área técnica e tecnológica, a fim de assegurar uma qualificação imbuída de uma visão crítica, que permita aos discentes associá-la ao desenvolvimento sócio- ambiental”, comenta o pesquisador. “A educação profissional precisa estar comprometida com a transformação de métodos de trabalho e com a formação do cidadão”.


Segundo Lemos, o curso de automobilística foi selecionado dentre os 14 cursos oferecidos pelo Cefet-RJ por apresentar em seu currículo oficial uma perspectiva que privilegia o debate de questões ambientais, já que é voltado para a área industrial e o segmento da cadeia produtiva de automóveis. “A complexidade desse curso é visível, já abrange quase todas as indústrias e tecnologias da eletrônica, informática, elétrica, mecânica, metal-mecânica, química, materiais e outras”, explica o pesquisador. “A questão da qualidade ambiental perpassa por todas as suas fases de processo, já que são indústrias sabidamente ‘poluidoras’”.


No entanto, Lemos aponta que, mesmo os alunos tendo relatado em quase 100% dos casos ter conhecimento e preocupação com questões ambientais, como poluição do ar, camada de ozônio, desertificação, esgotos e poluição industrial, ecossistemas, dentre outros, eles ainda não relacionam com facilidade esses assuntos com a atividade realizada na carreira seguida. “Apesar da relevância dos temas mencionados, as justificativas não foram vinculadas com a área técnica de automobilística”, afirma o biólogo. “Sabe-se, entretanto, que o automóvel é um grande poluidor, o óleo de motor não deve ser desprezado num corpo hídrico para não poluí-lo; as emissões de gases do veículo, principalmente, o CO2, por ser um gás estufa que ocasionará o superaquecimento global; finalmente, o lixo que pode ser decorrente de sucatas de veículos. Porém, faz-se necessário não só ter o conhecimento desses impactos ambientais, mas também colocar em prática uma atitude ecologicamente correta na atividade profissional”.


No que concerne o foco ambiental, a pesquisa revelou que a preocupação é mais latente nos alunos egressos do que nos que ainda estão realizando o curso técnico. “Foi possível perceber que a maioria dos alunos de primeiro quanto os de sexto períodos não tinha um foco para as questões ambientais, enquanto metade dos egressos avaliados apresentaram a preocupação”, aponta o pesquisador. Diante dos dados, Lemos resolveu analisar a origem da preocupação com as questões ambientais nos alunos egressos. “A pesquisa constatou que 32% desses formados disseram que o ensino formal foi o responsável pela obtenção de um foco para as questões ambientais, ou seja, a preocupação foi originada antes de serem matriculados no curso técnico de automobilística; outros 25% relataram obter as informações no meio familiar”.


Os dados obtidos mostram que somente 47% dos alunos matriculados vinculam os temas ambientais mencionados com a área profissional, 22% não articulam essas temáticas com o curso, 20% não se lembraram dos temas ambientais que causaram algum impacto, 11% desses disseram que nada foi impactante dentre os temas ambientais. “De acordo com as percepções dos sujeitos envolvidos na pesquisa, as questões ambientais imbricadas no referido curso foram trabalhadas ao longo de todo o processo formativo”, diz Lemos. “Os professores e alunos reconheceram que a própria prática profissional da área de automobilística gera impactos significativos e que uma formação adequada, abordando temas ambientais específicos, é um fator essencial para a formação cidadã nessa área. No entanto, a construção de uma cidadania com criticidade não foi alcançada”.


Publicado em 7/5/2010.

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