09/05/2008
Renata Moehlecke
Em todo o mundo, quase metade dos acidentes de trânsito com vítimas fatais estão associados ao uso de álcool por alguns dos responsáveis pela ocorrência. A maior parte desses acidentes acontecem com pessoas de 21 a 24 anos e 80% ocorrem entre as 20h e às 4h em noites de final de semana. Baseados nesses dados, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo, da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas de São Paulo e da Secretaria de Desenvolvimento Social e de Esportes de Belo Horizonte avaliaram os padrões de comportamento ao beber e dirigir na capital mineira. A aplicabilidade e a aceitabilidade do bafômetro na coleta de dados também foi verificada.
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Motorista é submetido ao teste do bafômetro em rodovia federal (Fobo: Fábio Pozzebom/ABr) |
Segundo os estudiosos, dados nacionais sobre o assunto são escassos. “Este estudo é um dos pioneiros a apresentar dados sobre tais padrões de comportamento numa grande capital do país”, afirmam no artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, da Fiocruz. Os resultados mostraram que 38% dos motoristas abordados apresentavam algum traço de álcool no ar expirado e que 19,6% estavam com os níveis da substância no sangue iguais ou acima do limite legal (0,6 g/l). “Esses achados apontam para um índice cinco vezes maior do que aqueles encontrados em pesquisas semelhantes realizadas em outros países”.
Para a análise, de dezembro de 2005 até o mesmo mês em 2006, motoristas (de carros, motocicletas e utilitários) foram parados, entre as 22h e às 3h da madrugada, em vias públicas de Belo Horizonte consideradas estratégicas e de tráfego intenso, com as maiores concentrações de bares, restaurantes e casas noturnas da cidade. Aos condutores era pedido que respondessem a um questionário anônimo e fizessem o teste de bafômetro, dando sua opinião sobre este. Os pontos de checagem contaram com o auxílio da polícia de trânsito e com o apoio da Sub-Secretaria Municipal Antidrogas de Minas Gerais. Era assegurado ao participante que os dados não seriam compartilhados com a polícia, mas se o entrevistado apresentasse teor alcoólico incompatível com a direção, era sugerido que trocasse de lugar com o acompanhante (se esse reunisse condições para tal) ou que aguardasse um pouco com a equipe.
Dos 913 participantes, 40,3% declararam ter ingerido bebida alcoólica no dia da entrevista e 36,7% recusaram o teste de bafômetro. Apesar de cerca de 84% dos condutores terem declarado serem favoráveis ao bafômetro, 90% dos que beberam não quiseram se submeter ao teste. “A discrepância desses dados pode indicar que mesmo motoristas conscientes sobre o risco de beber e dirigir, aparentemente sóbrios, podem estar intoxicados pelo uso do álcool, com senso subjetivo do beber seguro e certos da ausência de medidas preventivas e coercitivas ao dirigir alcoolizado, oferecendo, assim, risco para si mesmo e para outras pessoas”, comentam os pesquisadores. “Os achados deste estudo sugerem a relevância do problema na cidade de Belo Horizonte (e provavelmente no Brasil), a necessidade de pesquisas permanentes, do desenvolvimento de políticas públicas específicas para o assunto e do eficaz cumprimento da lei existente”.