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28/05/2007

Pesquisa valida análise de saliva para detecção rápida do vírus da hepatite A

Bel Levy


Uma nova metodologia para detecção do vírus da hepatite A com base em amostras de saliva, desenvolvida pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz, pode contribuir para o controle epidemiológico da doença durante surtos. Diferentemente do diagnóstico com base em amostras de sangue, utilizado hoje, o método inédito validado pelo Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia do IOC permite identificar os casos da doença mesmo em pessoas infectadas que estão no chamado período de janela imunológica (antes de produzirem anticorpos para combater o vírus). Apenas em 2005 a hepatite A atingiu mais de 18 mil brasileiros, segundo dados do Ministério da Saúde.


 A análise por PCR em tempo real de amostras de soro e saliva para detecção e quantificação do vírus da hepatite A indicou a presença de maior carga viral no fluido oral

A análise por PCR em tempo real de amostras de soro e saliva para detecção e quantificação do vírus da hepatite A indicou a presença de maior carga viral no fluido oral


A pesquisa analisou 127 pessoas envolvidas em um surto da doença ocorrido em outubro de 2005 em uma creche municipal na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. O trabalho, desenvolvido durante o mestrado da biomédica Luciane Amado, teve início ainda na graduação da pesquisadora, que verificou a possibilidade de utilizar amostras de saliva para a detecção de anticorpos das hepatites A, B e C – processo habitualmente feito a partir da coleta de sangue. Os resultados positivos estimularam a pesquisadora a dar continuidade à pesquisa. “O diagnóstico laboratorial e a investigação de surtos de hepatite A geralmente dependem de estudos sorológicos e epidemiológicos, mas alguns fatores, como a dificuldade de coleta de sangue em crianças, têm acelerado a procura de fluidos alternativos para o diagnóstico da doença”, avalia Luciane.


Na primeira etapa do estudo foram coletadas amostras de sangue e saliva da população envolvida no surto ocorrido na creche do Jacarezinho e de pessoas que tiveram contato com elas e que, apesar de não terem apresentado sintomas, poderiam estar infectadas. As análises constataram que 83% dos indivíduos estavam infectados e que a maioria (64%) era assintomática. “Através da técnica de PCR em tempo real foi possível detectar a presença do vírus em amostras de saliva em pacientes que estavam na fase aguda da doença e em pessoas em período de pré-soroconversão, quando o anticorpo contra o vírus da hepatite A ainda não está presente no sangue”, descreve Luciane.  A evolução assintomática da hepatite A contribui para a disseminação da doença e por isso detectar o vírus rapidamente é fundamental para o controle de surtos – daí a importância de um teste que permita a detecção do vírus mesmo no chamado período de janela imunológica.


A eficiência do novo método diagnóstico para a detecção molecular do vírus foi comprovada na segunda etapa da pesquisa que, por meio da quantificação da carga viral das amostras de saliva, demonstrou que o fluido oral apresenta maior virulência que amostras de sangue. “Um fato que surpreendeu a equipe foi a maior freqüência de vírus nas amostras de saliva: 37%, enquanto a análise de soro indicou uma taxa de 32%. A grande freqüência de vírus permite o diagnóstico precoce da doença, que pode assim ser detectada antes do aparecimento de sintomas”, a pesquisadora compara.


Depois dos resultados satisfatórios obtidos no mestrado de Luciane, o Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia do IOC pretende fazer pesquisas semelhantes e aplicar o método a outros surtos, que permitam estudos epidemiológicos mais amplos. “A coleta de saliva para detecção do vírus mostrou-se bastante eficiente tanto para o diagnóstico molecular do vírus quanto para o estudo epidemiológico de surtos e pode ser uma importante ferramenta para o controle da hepatite A, sobretudo entre crianças. Além de permitir o diagnóstico precoce da doença, ao contrário da coleta de sangue, o método é feito de maneira não invasiva, o que facilita todo o processo”, conclui Luciane.

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