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19/02/2008

Pesquisador apresenta resultados de trabalho sobre vetores da febre amarela

Renata Moehlecke


Um estudo permitiu analisar as configurações bioecológicas e morfológicas de quatro espécies de mosquitos do gênero Haemagogus (Hg. capricornii, Hg. janthinomys, Hg. leucocelaenus, Hg. tropicalis), vetores efetivos ou potenciais do vírus da febre amarela silvestre, que apresentam comportamento bastante diversificado em todo território brasileiro. Trata-se da tese de doutorado recém-defendida pelo pesquisador do Laboratório de Diptera do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz Jeronimo Alencar, aluno do programa de Ciências Biológicas (zoologia) do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).


 O mosquito <EM>Hg. janthinomys</EM>, considerado o principal vetor da febre amarela no Brasil 

O mosquito Hg. janthinomys, considerado o principal vetor da febre amarela no Brasil 


O trabalho de Jeronimo é formado por seis artigos que apresentam os principais resultados de sua pesquisa. No primeiro, o pesquisador descreve a distribuição geográfica desses insetos no Brasil e destaca dois novos registros de espécies do gênero no Norte e Nordeste do país: o Hg. celeste, encontrado no Amazonas e Amapá, e o Hg. spegazzinii, presentes no Tocantins e no Ceará. “Esses vetores já tinham sido encontrados em outras localidades brasileiras, mas é a primeira vez que são detectados no norte e no nordeste do país”, diz. “São, então, mais duas espécies que devem ser consideradas como possíveis transmissores do vírus da febre amarela nessas regiões”.


O segundo artigo oferece informações sobre a preferência horária para hematofagia (sugar sangue como alimento) desses mosquitos, a partir da avaliação da influência de fatores ecológicos e climáticos (como temperatura, umidade relativa do ar etc). “O conhecimento dos perfis alimentares de culicideos [mosquitos] é uma importante ferramenta para delinear métodos estratégicos de controle de várias doenças freqüentemente transmitidas por esses insetos”, afirma o entomologista. “Foi observada uma atividade horária significativa nas primeiras horas de crepúsculo vespertino, embora essas espécies sejam pela literatura definidas como de ‘ciclo diurno’”. Em um outro artigo, o pesquisador ainda sugere que as espécies Hg. capricornii e Hg. leucocelaenus (a mais comum no Brasil) têm hábitos alimentares ecléticos em relação ao hospedeiro (sendo os principais primatas – humanos e macacos – e aves), mostrando-se altamente adaptativos (oportunistas) quanto ao ambiente.


Jeronimo também verificou, em condições controladas de laboratório, a taxa de eclosão de ovos da espécie Hg. janthinomys, considerado o principal vetor da febre amarela no país. Ele constatou que as estações chuvosas são determinantes na ocorrência da espécie, pois os ovos depositados pelas fêmeas podem rapidamente produzir adultos após cada chuva forte o suficiente para submergi-los. “Isso indica que a produção de adultos pode ocorrer durante todo o ano, a menos que as condições meteorológicas sejam desfavoráveis”.


Os últimos dois artigos se dedicam, respectivamente, à análise morfológica de fêmeas e machos de espécies do gênero Haemagogus e ao exame e descrição de ovos de Hg. tropicalis. Jeronimo comenta que, por medidas de prevenção contra doenças como a febre amarela, torna-se necessário avaliar as possibilidades de observar separadamente essas espécies e/ou populações através de técnicas apuradas, como a morfometria (mensuração de formas). Em relação aos ovos, o pesquisador aponta que a obtenção de suas características morfológicas pode ser uma das ferramentas-chave para a identificação de mosquitos em determinadas áreas em um tempo bem curto, o que agiliza pesquisas de um modo geral.

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