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01/11/2012

Pesquisador da Fiocruz ganha prêmios por estudo sobre vacina contra Chagas

Érica Lopes


O projeto de pesquisa Vacinação com vírus influenza e adenovírus recombinantes ganhou destaque nacional nos últimos dias. Seu autor é o jovem doutorando Rafael Polidoro Alves, que atua no Laboratório de Imunopatologia do Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR/Fiocruz Minas), sob a orientação do imunologista Ricardo Gazzinelli e do virologista Alexandre Vieira Machado, ambos também da unidade da Fundação em Minas Gerais. O estudo ainda contou com a colaboração dos pesquisadores Maurício Martins Rodrigues da Universidade de São Paulo (Unifesp) e Oscar Bruna Romero da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).


 Rafael Polidoro, da Fiocruz Minas, que recebeu o Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia (C&T) na categoria <EM>Jovem Pesquisador</EM> devido ao estudo<EM>.</EM> Foto: Movimento Brasil Competitivo.

Rafael Polidoro, da Fiocruz Minas, que recebeu o Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia (C&T) na categoria Jovem Pesquisador devido ao estudo. Foto: Movimento Brasil Competitivo.





O trabalho baseia-se em dois vírus gerados em laboratório. Um produzido por Polidoro, um vírus influenza geneticamente modificado. E outro, um adenovírus, construído pelos professores Oscar Bruna Romero e Alexandre Machado. A proposta é o desenvolvimento de uma vacina a partir dos dois tipos de vírus atenuados (baixa capacidade de produzir doença infecciosa) e de uma proteína copiada do Trypanosoma cruzi, (protozoário que causa a doença de Chagas). Um dos resultados esperados é que a vacina possa ter uma resposta imunológica protetora contra influenza, adenovírus e contra o Trypanosoma cruzi, principalmente.



Sob a supervisão de Machado e Gazzinelli, Polidoro construiu e caracterizou vírus influenza recombinantes que carregam o gene do T. cruzi. Num segundo momento, ele vacinou camundongos com duas doses de vírus recombinantes. Na primeira vacinação, foi utilizado o vírus influenza recombinante. Quatro semanas mais tarde, os animais receberam uma dose de reforço de vacinação, na qual foi utilizado um outro vírus, chamado adenovírus, o qual também foi modificado geneticamente para carregar o gene do T. cruzi.



Ao testar a resposta imunológica, constatou-se que 14 dias após a segunda dose já havia anticorpos contra a proteína do T. cruzi no sangue dos animais vacinados com os vírus recombinantes. Além disso, vinte e um 21 dias após a vacinação, foi possível detectar a presença de células do sistema imune, os chamados linfócitos T CD8, os quais são de grande importância para o controle da infecção. Esses linfócitos se mostraram capazes tanto de destruir as células infectadas quanto de produzir proteínas chamadas de citocinas as quais tem papel na defesa contra a infecção pelo T. cruzi.



“O mais importante, contudo foi a constatação de que quando os animais vacinados foram infectados, vinte e oito dias após a vacinação de reforço, com uma quantidade de parasitas Trypanosoma cruzi, que é cinco vezes maior do que aquela necessária para matar os animais, cerca de 80% dos animais vacinados sobreviveram à infecção. Para confirmar a eficácia da ¬vacina, Polidoro comparou os resultados com grupo de animais que receberam os vírus sem a proteína do T. cruzi e constatou que todos morreram cerca de 20 dias após a infecção.


Portanto, na avaliação experimental em animais, o pesquisador mostrou que o influenza recombinantes foi capaz de estimular linfócitos, quando combinados com adenovírus que carregavam o segmento da proteína ASP-2 de T. cruzi.



Quanto à importância do estudo, Polidoro destaca que “apesar de termos muitos resultados de caracterização de resposta imunológica, o dado mais importante é o de proteção, porque mesmo que sejamos incapazes de explicar porque uma vacina funciona imunologicamente,se ela proteger contra a infecção letal é a verdadeira finalidade dela”. O vírus gerado pelo estudante poderá ser usado também para combater outros tipos de doença como a leishmaniose e outros tipos de gripe.


Premiações



Por causa da pesquisa, Rafael Polidoro tem ganhado vários prêmios. Em 2010 recebeu o Global Travel Award, do Bill and Melinda Gates Foundation, que o permitiu apresentar o trabalho em congresso internacional, já com resultados em animais.


Em 2011, com os resultados de proteção, Polidoro recebeu o prêmio de Melhor Doutorado da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).


Neste ano, na categoria Jovem Pesquisador recebeu o Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia (C&T),  e na última semana, na categoria Melhor Trabalho foi premiado no  Immuno 2012 - Prêmio Theresa Kipnis-LFB.



Publicado em 1°/11/2012.

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