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12/05/2010

Pesquisador destaca importância de aumentar vigilância contra norovírus

Marcelo Garcia


Os norovírus são hoje reconhecidos como a causa mais freqüente de surtos de gastroenterite de origem alimentar e são responsáveis por mais de 85% de todos os surtos de gastroenterite não bacteriana aguda. Em ambientes fechados e de convívio intenso de pessoas, tais como lares de idosos, cruzeiros, organizações militares, muitas vezes os norovírus são transmitido de pessoa a pessoa, resultando em grandes surtos. A importância de conhecer melhor os genótipos do norovírus e de desenvolver metodologias para identificar a origem dos surtos por ele ocasionados foi abordada por Jan Vinjé, da Divisão de Doenças Virais do CDC (Center for Disease Control), dos Estados Unidos, durante o 1º Simpósio Latino-Americano de Virologia Ambiental, Organizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no Rio de Janeiro. O pesquisador ressaltou, ainda, a relevância de entender os fatores relacionados a manifestações mais graves de gastroenterite viral e de estabelecer medidas sanitárias que evitem a contaminação humana através de água ou alimentos.


 Vinjé: um dos principais focos dos próximos estudos deveria ser o desenvolvimento de detectores rápidos de risco em alimentos, o que ajudaria muito no controle dos surtos associados ao vírus

Vinjé: um dos principais focos dos próximos estudos deveria ser o desenvolvimento de detectores rápidos de risco em alimentos, o que ajudaria muito no controle dos surtos associados ao vírus


Vinjé afirmou que estudos do CDC estimam que cerca de 30 a 50% dos surtos de origem alimentar são atribuíveis ao norovírus e aproximadamente um em cada dez americanos ficarão doentes com gastroenterite causada por norovírus a cada ano. “Pessoas de todas as idades são suscetíveis, mas os jovens, idosos e doentes podem sofrer conseqüências mais graves, tais como a desidratação, que requerem atenção médica”, esclareceu o pesquisador. “Os dados do CDC mostram que os norovírus são os principais responsáveis por surtos de gastroenterite de origem alimentar e sozinhos estão associadoa a mais casos do que todas as bactérias juntas, responsáveis por 23% dos surtos”, frisou. Em todo o mundo, estima-se que uma criança morra a cada 6 minutos devido à infecção por norovírus.


Sobre a origem dos surtos, o norte-americano apresentou diversos estudos recentes, de países como Canadá, Austrália e Dinamarca, relacionados a contaminação de alimentos como ostras, cerejas e framboesas. “A origem dos surtos de origem alimentar pode ser uma contaminação na fonte, ou seja, no próprio cultivo dos alimentos, por exemplo através da utilização de água contaminada para irrigação. No entanto, em geral ela está mais relacionada ao manuseio desses alimentos, seja na colheita ou preparação dos mesmos, por pessoas contaminadas e assintomáticas, com as mãos não devidamente higienizadas”.


Vinjé destaca as folhas verdes, moluscos e frutas como os principais alimentos associados a surtos de gastroenterite. “Estes três grupos representam cerca de 60% dos casos de contaminação. Se forem estabelecidas estratégias de vigilância para identificação de risco de contaminação nesses alimentos, a maioria dos casos de contaminação de origem alimentar poderia ser evitada”, acredita. “Por isso, acredito que um dos principais focos dos próximos estudos deveria ser o desenvolvimento de detectores rápidos de risco em alimentos, o que ajudaria muito no controle dos surtos associados ao vírus”.


O pesquisador apresentou recentes estudos que mostram avanços nos testes moleculares para a genotiopagem do vírus e rastreamento da origem da contaminação. “Entre os mais de 20 genótipos diferentes de norovírus, a maioria dos surtos de gastroenterite aguda são causadas pelo genótipo GII.4, responsável por diversas pandemias registradas desde 1990, quando foi identificado pela primeira vez”, destacou. “Analises genéticas sugerem uma grande evolução do genótipo GII.4 nos últimos 20 anos, com períodos de rápida transformação nesse período, provavelmente induzidos pela imunidade de rebanho”.


Para o norte-americano, os resultados encontrados permitem pensar no estabelecimento uma rede de vigilância de norovírus. “Já existe uma rede estabelecida nos Estados Unidos, com a participação de 16 estados, que realiza a coleta de informações epidemiológicas e a análise filogenética de outros enterovírus”, afirmou. “Podemos pensar na criação de uma rede mundial de vigilância do norovírus, que seria muito importante para a identificação de cepas emergentes e o monitoramento da variabilidade genética das novas variantes, em especial de GII.4”.


Vinjé também destacou resultados recentes que mostram que os estudos genéticos podem desempenhar um papel importante na susceptibilidade à infecção pelo vírus e que os indivíduos que expressam certos antígenos em suas superfícies mucosas são mais suscetíveis à infecção. “Estas moléculas podem servir como receptores para o vírus nas células, facilitando a infecção”, explicou. “Pesquisas recentes têm mostrado que estes ligantes também podem ser utilizados em ensaios para concentrar os norovírus presentes em alimentos, de forma a facilitar testes de contaminação e para determinar a origem de surtos de gastroenterite associados ao vírus”.


Embora não exista nenhum tratamento específico contra os norovírus, Vinjé acredita que as últimas pesquisas permitem avaliar a eficácia de aplicar novas medidas de sanitarização como forma de melhorar a proteção contra doenças transmitidas por alimentos contaminados. “Cuidados maiores com a higiene na manipulação dos alimentos, como a higienização correta das mãos e a utilização desinfetantes adequados antes do manuseio, poderiam impactar a transmissão do norovírus e de bactérias responsáveis por surtos de gastroenterite e de outras doenças”, concluiu o norte-americano.


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A cobertura completa do Simpósio


Publicado em 10/5/2010.

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