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20/10/2006

Pesquisadora canadense esclarece questões sobre resistência antimicrobiana

Bel Levy e Raquel Aguiar


A Fiocruz receberá especialistas nacionais e estrangeiros para discutir a resistência de microorganismos causadores de doenças às drogas produzidas para combatê-los durante o III Simpósio de Resistência aos Antimicrobianos – I Simpósio de Resistência a Drogas Quimioterápicas, que será realizado de 24 a 27 de outubro, no Hotel Glória, no Rio de Janeiro. A pesquisadora Lai King Ng, diretora do Programa Nacional de Bacteriologia e Doenças Entéricas da Agência de Saúde Pública do Canadá, é uma das convidadas. Em entrevista, a pesquisadora comenta sobre a resistência a antimicrobianos no caso das doenças sexualmente transmissíveis de origem bacteriana. Lai também destaca a resistência da bactéria Salmonella a antimicrobicidas e suas conexões em relação à cadeia alimentar. O evento é organizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC), uma unidade da Fiocruz.


A Salmonella é um importante agente causador de doenças entéricas. Quais os métodos utilizados pelo Canadá para realizar a vigilância da resistência microbiana nesse caso específico?

Lai:
O Canadá desenvolve uma vigilância integrada sobre a resistência antimicrobiana da Salmonella junto à cadeia de produção alimentar. Isto é, dos produtores de alimentos aos consumidores. O Programa Integrado para Vigilância Antimicrobiana do Canadá (Cipars, na sigla em inglês) também coleta informações sobre o uso humano de antimicrobianos, além de sua aplicação na produção de alimentos. O objetivo é coletar informações-chave para estruturar políticas para o uso destas drogas. Este conceito está descrito no relatório anual da Cipars.


Esses métodos são aplicáveis a outras regiões?

Lai:
A vigilância sobre a cadeia produtor-consumidor é aplicável a outros casos, mas o ideal é ajustar a medida às situações específicas de cada local, de acordo com suas capacidades e prioridades. Alguns países, como Estados Unidos e Dinamarca, têm programas integrados para a vigilância sobre a resistência antimicrobiana da Salmonella. Os países que ainda não têm devem ser encorajados a desenvolver e implementar a vigilância integrada de forma a contribuir para o controle global da resistência.


A forma mais conhecida de transmissão da Salmonella é a alimentar e poucas pessoas sabem que a bactéria pode ser transmitida sexualmente. Outras doenças sexualmente transmissíveis (DST), como gonorréia, sífilis e clamídia, também são causadas por bactérias e, portanto, são tratadas com antimicrobianos.  No caso específico das DST, quais os problemas colocados pela resistência antimicrobiana?

Lai:
Doenças sexualmente transmissíveis causadas por bactérias, como sífilis, gonorréia e clamídia, exigem tratamento urgente porque podem causar seqüelas graves. A sífilis, por exemplo, aumenta o risco de contração de HIV. Para garantir a eficácia do tratamento, a vigilância da resistência microbiana é fundamental.


Podemos mensurar o impacto da resistência antimicrobiana sobre a população no caso das DST?

Lai:
Umas das estratégias para o controle da expansão de DST provocadas por bactérias é fornecer tratamento antibiótico. Se o esquema terapêutico não surtir o efeito esperado a transmissão dos patógenos é potencializada e uma maior parcela da população pode ser contaminada. O impacto da resistência antimicrobiana pode ser mensurado por programas de vigilância e estudos epidemiológicos.


Neste contexto, o desenvolvimento de novas drogas é a única saída?

Lai:
Além do tratamento antibiótico, existem outras medidas de saúde pública para a prevenção e o controle de doenças, como a investigação de contatos, identificação de pacientes de alto risco, programas de educação e desenvolvimento de vacinas.

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