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18/02/2008

Pesquisadora coordena projeto de avaliação da pós-graduação em saúde coletiva

Informe Ensp


Ex-presidente da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), editora científica da revista Ciência & Saúde Coletiva, membro do conselho editorial de vários periódicos científicos e coordenadora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves) da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz. Esses são alguns atributos que podem ser utilizados para justificar a presença da socióloga Maria Cecília de Souza Minayo na coordenação do projeto Avaliação da pós-graduação na área de saúde coletiva sob a perspectiva dos atores, da cultura, das tendências e das várias formas de expressão acadêmica, aprovado pelo CNPq.


 Cecília: o excesso de rigor técnico ou certo tecnicismo podem estar prejudicando o crescimento e o desenvolvimento das áreas (Foto: Virginia Damas)

Cecília: o excesso de rigor técnico ou certo tecnicismo podem estar prejudicando o crescimento e o desenvolvimento das áreas (Foto: Virginia Damas)


Em entrevista ao Informe Ensp, Cecília Minayo comenta aspectos do projeto cujo objetivo é promover uma avaliação da pós-graduação brasileira em saúde coletiva no período de 1997 a 2007, que seja complementar à avaliação da Capes, e recubra aspectos não tratados por essa instituição. “Eu não tenho a menor dúvida que a avaliação da Capes constitui um bem, um patrimônio irretorquível da área de educação no Brasil. No entanto, queremos fazer perguntas e obter respostas para questões que dizem respeito à área enquanto política para o desenvolvimento científico e tecnológico do SUS”, explica.


Como surgiu a idéia da pesquisa e de que forma a Abrasco se insere na iniciativa?


Maria Cecília de Souza Minayo: Durante o período em que fui presidente da Abrasco, de 1994 a 1997, fizemos, com financiamento do CNPq e da Capes, uma avaliação da pós-gaduação strico sensu em saúde coletiva, saúde pública e outras denominações que compõem o campo. Nosso objetivo foi abordar temas, aspectos e questionamentos importantes para a área, mas que a Capes não cobre em seu processo avaliativo. Não cobre porque não é seu papel. Essa avaliação, coordenada por mim, teve um grande sucesso e ajudou a área a implementar uma série de ações, dentre elas, o estabelecimento de um Fórum Permanente de Coordenadores de Pós-Graduação da área, de todo o país, coordenado pela Abrasco. Dez anos depois, a proposta atual dá continuidade a esse trabalho. A iniciativa de sugeri-la e bancá-la foi do atual presidente da Abrasco, José da Rocha Carvalheiro, que me convidou para coordenar a pesquisa, dando prosseguimento ao que fizemos anteriormente. Com a colaboração de um seleto grupo de pesquisadores de nosso campo, eu organizei o projeto que foi enviado para o CNPq e aprovado na íntegra.


Como está sendo coordenar esse grande projeto que se divide em sete subprojetos? Eles foram pensados em conjunto?


Cecília: Eu penso que a coordenação desse megaprojeto será muito leve, pois à frente de cada subtema estão grandes pesquisadores. A minha função na coordenação vai consistir em propiciar condições para o trabalho e sintetizar todo o processo, por meio de encontros para debates com os coordenadores dos subprojetos e com os coordenadores de pós-graduação, que serão sempre chamados a colaborar em cada uma das etapas do trabalho. Não queremos fazer nada sem a legitimação deles, uma vez que é em função e em benefício dos cursos e programas que trabalharemos nesse processo. Os sete projetos abrangerão o estudo avaliativo do âmbito epistemológico de nosso campo, dos currículos e sua adequação, dos profissionais que os procuram, de como são selecionados e se formam em nossas instituições, dos egressos e onde estão alocados, da produção científica em suas linhas cientométricas e, de forma mais qualitativa, da colocação de nossa área no cenário nacional e internacional de ciência e tecnologia e de sua relevância para a consolidação do SUS. Todos os subprojetos foram pensados coletivamente numa oficina realizada por nós, em agosto de 2007, com todos os pesquisadores que comporão o projeto e correspondem à seleção de temas considerados relevantes para o desenvolvimento da Saúde Coletiva enquanto área de conhecimento e de práticas.


O que essa avaliação atual tem de similar à avaliação de 1994 a 1997 e o que traz de inovador? O que mudou no contexto da pós-graduação em saúde coletiva?


Cecília: A pesquisa avaliativa tem tudo a ver com a que foi realizada anteriormente e ao mesmo tempo é totalmente diferente. A Abrasco está buscando o mesmo objetivo, ou seja, conhecer os pontos cruciais nos quais ela deve colaborar para tornar a área cada vez mais "científica", pensar seus limites e interseções e, ao mesmo tempo, ser capaz de responder, com conhecimentos estratégicos, as "necessidades do SUS". Quanto às diferenças, primeiramente, precisamos ressaltar as mudanças havidas na pós-graduação em todo o país, o amadurecimento técnico e científico de nossa área, e também o nosso amadurecimento como pesquisadores. Naquela ocasião, fizemos um trabalho pioneiro do ponto de vista dos programas de pós-graduação, mas ainda bastante exploratório. Neste momento, o conhecimento cientométrico da área está mais consolidado. Já há vários estudos sobre o campo e sua produtividade e temos pelo menos quatro revistas da área em processo de consolidação crescente. A avaliação da Capes, por sua vez, também se aperfeiçoou sobremaneira. Esses são alguns elementos totalmente novos que, ao mesmo tempo, marcam o ponto de partida dos subprojetos e seu desafio.


Os programas e cursos de pós-graduação do campo de saúde coletiva estão em sintonia com as demandas do SUS?


Cecília: Do ponto de vista do SUS, a pesquisa buscará resposta para algumas perguntas cruciais, das quais lembrarei apenas duas. A primeira é em que medida o conhecimento gerado em nossas pós-graduações está sendo apropriado pelo sistema. A outra é sobre o papel que essa pós-graduação está exercendo na qualificação dos quadros profissionais que hoje ocupam postos de gestão nas três esferas de governo e postos técnicos na atenção à saúde.


Pensando na evolução da pós-graduação no Brasil, de forma geral e mais especificamente no caso da saúde coletiva, quais foram os benefícios que a avaliação feita pela Capes vem trazendo e que tipo de benefício vocês pretendem trazer com essa pesquisa?


Cecília: Eu não tenho a menor dúvida que a avaliação da Capes constitui um bem, um patrimônio irretorquível da área de educação no Brasil. A Capes foi capaz de criar um sistema de avaliação de programas de pós-graduação inédito, que foi sendo aperfeiçoado ao longo do tempo, com a experiência acumulada. Na sua construção, colaboraram e colaboram coordenadores, pesquisadores e professores de todas as áreas. Nesse processo, enxuto e universal, a Capes conseguiu produzir uma importante escala de valores e também sinalizar para todos onde está o caminho, qual é o rumo, o que pode e o que não pode ser feito e o que deve ser mais valorizado. Não há dúvida de que os melhores cursos são os mais bem avaliados. O sistema tem problemas? Tem. Hoje se aponta, por exemplo, que o excesso de rigor técnico ou certo tecnicismo podem estar prejudicando o crescimento e o desenvolvimento das áreas. Certamente, com espírito crítico, gestores e coordenadores de área conseguirão encontrar o equilíbrio sempre difícil.


Para a área de saúde coletiva, a Capes foi fundamental para a diminuição do tempo da formação, para o aumento da qualificação e a inclusão de doutores no quadro docente, para o incremento da produção científica e para o estabelecimento de limites e coerência aos programas. A área de avaliação da Capes que esteve conosco na primeira avaliação estará também nessa, assim como o CNPq. No entanto, queremos fazer perguntas e obter respostas para questões que dizem respeito à área enquanto política para o desenvolvimento científico e tecnológico do SUS, como já comentei anteriormente.

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