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06/10/2006

Pesquisadora defende que enfocar cientificamente a arte ou abordar artisticamente a ciência derruba as barreiras entre as duas

Fábio Iglesias


“Uma vez que você usa uma abordagem científica na arte ou emprega um método artístico na ciência, você na prática mostra que nenhuma barreira real existe”. Quem defende essa tese é a escultora americana Rhonda Shearer, que apresentará a palestra Art or Science? It`s both..., nesta segunda-feira (09/10), durante o simpósio Ciência e Arte 2006. O evento é uma parceria entre a Fiocruz (por meio do Museu da Vida e do Instituto Oswaldo Cruz), o British Council e o Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis, com apoio da Faperj e do CNPq.


No site da ONG Art Science Research Laboratory a senhora fala da falsa divisão existente entre arte e ciência. Que elo utiliza para aproximá-las? 


Rhonda: A noção de que há uma separação entre ciência e arte é uma convenção, não uma realidade objetiva. Por exemplo, filosofia e psicologia foram por um tempo apenas um campo. No caso da arte e da ciência, a diferença entre elas recai num esquema maior e mais poderoso de categorização que projeta a ilusão de que é real.  A fundamental dicotomia que opõe masculino versus feminino ou geométrico versus orgânico e mente versus emoções. Eu nem preciso dizer que a ciência é categorizada como masculina e mental enquanto a arte como feminina e emocional.


Com isso dito, as revoluções científicas explodem belamente e re-configuram os esquemas geométricos que literalmente formam nossas opiniões. Um exemplo é a crença pré-Copérnico de que no Sistema Solar o planeta Terra era central, e assim, o corpo planetário mais importante, de acordo com nossos valores. Quando a ciência mudou, não foi apenas uma simples troca que tornou o Sol como centro. A Terra foi, de fato, rebaixada.  Os esquemas de categorização são em si mesmos fundamentais no mapeamento e na ordenação de nossos pensamentos e valores. Eu chamo esta teoria de Flatland Hypothesis. Minha opinião é de que a própria mente opera usando geometrias. Quando as geometrias mudam, pensamentos e valores mudam. Historicamente, revoluções em geometrias criaram revoluções na arte e na ciência.


Quais são os prejuízos dessa divisão para o conhecimento?


Rhonda: Se os limites entre a ciência e a arte se reduzissem, isso poderia ajudar a arte a ganhar financiamento e respeito. Entretanto, a ciência poderia ser desvalorizada se mais associada à arte. Outra vez, nós estamos lidando com uma profunda polarização social. A arte é emoção e o feminino. No século 19, quando era trabalho de homem, o secretariado era um trabalho muito respeitado e com alta remuneração - quando se transformou em “trabalho de mulher”… bem, você sabe o resto. O mesmo poderia acontecer à ciência se demasiadamente associada com a arte.


Outros estudiosos tentaram aproximar esses dois campos?


Rhonda: Minha experiência diz que os cientistas são muito mais abertos, confortáveis e interessados em aproximar o assunto da arte/ciência. Minha opinião é que os artistas e os historiadores de arte deveriam aprender mais ciência e matemática. Para compreender Marcel Duchamp em toda a profundidade, por exemplo, você necessita estar familiarizado com o trabalho de Henri Poincaré, “o pai da teoria do caos” e geometria fractal.


Como essa visão pode ser transmitida para as novas gerações de artistas e cientistas?


Rhonda: A melhor maneira de ensinar a arte/ciência é pelo exemplo e estudo de casos que mostram que a separação entre a arte e a ciência é fluida. Uma vez que você usa uma abordagem científica na arte; ou emprega um método artístico na ciência, você na prática mostra que nenhuma barreira real existe. É uma questão de tradição social e acadêmica. Aplicar métodos através dos limites é um meio muito poderoso que significa produzir o trabalho original em outro campo. Em anos recentes, eu ampliei meu trabalho de “arte e ciência” através de estudos disciplinares para incluir também todos os humanities (1) junto com a ciência.


1. Humanities – Grupo de assuntos acadêmicos unidos pelo comprometimento de estudar os aspectos da condição humana com uma abordagem qualitativa que em geral impede que um único paradigma venha a definir uma disciplina.

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