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23/03/2009

Pesquisadoras recrutam voluntários para novo teste de diagnóstico da fibrose cística

Roberta Monteiro


De forma pioneira no Brasil, um novo teste diagnóstico para fibrose cística, doença genética que compromete principalmente o trato digestivo e o aparelho respiratório, vem sendo implantado no Instituto Fernandes Figueira (IFF), unidade materno-infantil da Fiocruz. Trata-se da medida da diferença de potencial nasal (DPN), exame incluído nos critérios diagnósticos para a fibrose cística da Cystic Fibrosis Foundation (CFF), assim como o teste do suor, o teste do pezinho ampliado e a análise genética. O teste faz parte da segunda etapa do projeto Validação e reprodutibilidade da medida da diferença de potencial nasal, desenvolvido pelas médicas Izabela Sad e Laurinda Higa, do Serviço de Pneumologia do IFF.


 Com a participação dos voluntários que aceitarem realizar o exame será possível chegar à última etapa do projeto, que é a implantação formal do exame no IFF

 Com a participação dos voluntários que aceitarem realizar o exame será possível chegar à última etapa do projeto, que é a implantação formal do exame no IFF


Segundo Izabela, o exame de DPN representa mais uma opção que possibilita o diagnóstico precoce da doença, alternativa que já vem sendo utilizada nos Estados Unidos, Canadá e em países da Europa, incluindo a Bélgica, local onde a pneumologista recebeu treinamento para a realização do teste e capacitação para sua implantação no país. “Como ainda não trabalhamos com o exame no Brasil, pretendemos a partir desse projeto criar um banco de dados com valores positivos e negativos, de forma a traçar o perfil da população em relação à doença. Isso será feito através dos resultados do exame de DPN feitos em três grupos compostos por pacientes com fibrose cística diagnosticada, pais de portadores da doença e pessoas saudáveis”, esclarece Izabela.


A médica explica que com a participação dos voluntários que aceitarem realizar o exame será possível chegar à última etapa do projeto, que é a implantação formal do exame no IFF - considerado o principal centro de referência (CR) para fibrose cística no Estado do Rio de Janeiro. A partir daí, será viável disponibilizar o exame de DPN aos pacientes do próprio Instituto, assim como a demanda externa do Rio de Janeiro, dos centros de referência dos demais estados do Brasil e dos países sulamericanos. Outra perspectiva é a ampliação do DPN para o resto do país por meio do treinamento de especialistas interessados na nova técnica.


O exame de DPN é um teste dinâmico, indolor, que dura cerca de 30 minutos, no qual se verifica, a nível celular, a função da proteína CFTR (proteína reguladora transmembrana da fibrose cística), cuja mutação genética é a principal responsável pelas características da doença. “Durante o exame, afere-se ao mesmo tempo o potencial elétrico no epitélio nasal e no antebraço do paciente, gerando assim uma diferença de potencial. No teste de DPN, o epitélio nasal é exposto a quatro tipos de soluções e de acordo com a reação a cada uma delas é possível obtermos o resultado do exame”, explica Izabela. Os interessados em participar do projeto como voluntários devem enviar um e-mail para izabela@iff.fiocruz.br.


Para a pneumologista do IFF Laurinda Higa, o novo teste de DPN deve ser indicado nos casos em que o teste do suor apresentar resultados normais e/ou duvidosos, associados a alguns sinais e sintomas sugestivos da doença. Vale ressaltar que mesmo com a implantação do exame de DPN, o teste do suor continua sendo o exame padrão-ouro para o diagnóstico da doença. Por ele dele é possível medir a quantidade de sódio e cloro no suor, já que uma das características dos portadores da fibrose cística é apresentar níveis altos de cloreto (sal) no suor. “Em pacientes com fibrose cística, quanto mais precocemente se estabelece o diagnóstico e tratamento, melhor o prognóstico”, afirma Laurinda.


A doença


A fibrose cística, também conhecida como mucoviscidose, é uma doença genética e não contagiosa, que causa alterações nas secreções de algumas glândulas do organismo. Estas secreções passam a ser produzidas com maior viscosidade e quantidade, comprometendo assim, o bom funcionamento de órgãos, como pulmões, fígado, pâncreas e intestino.


No trato respiratório, este muco espesso tende a se acumular nas vias aéreas, dificultando a passagem do ar e levando à retenção de bactérias. No trato digestivo, o aumento na viscosidade do muco pode levar à obstrução dos canais do pâncreas, dificultando a absorção de uma série de nutrientes pelo intestino. Este fato costuma provocar quadros clínicos caracterizados por diarreia crônica, desnutrição, má absorção dos nutrientes, gordura nas fezes e dificuldade de ganhar peso, além de sinusite de repetição, pneumonias crônicas por bactérias relacionadas à fibrose cística e disfunção pulmonar progressiva, podendo levar à insuficiência respiratória.


Segundo estimativa do Ministério da Saúde, aproximadamente 1,5 mil pessoas apresentam fibrose cística no Brasil. Isto equivale a uma criança acometida para cada 10 mil nascidas vivas. No IFF, encontram-se vinculados atualmente cerca de 130 crianças e adolescentes portadores da doença, que recebem tratamento e assistência multidisciplinar.


No futuro, quando a terapia gênica for realidade para esse grupo de pacientes, o DPN será indicado também como exame de monitoramento dessa terapêutica. Embora a doença ainda não tenha cura definitiva, o tratamento precoce em centro de referência, o acesso aos medicamentos e aos recursos laboratoriais, podem fazer toda a diferença no prognóstico e na qualidade de vida. Segundo o Ministério da Saúde, estes fatores contribuem muito para a redução da letalidade e o aumento da sobrevida dos pacientes, que vivem em média 40 anos nos países desenvolvidos e 18, nos países em desenvolvimento, como o Brasil.


O estudo faz parte do projeto Desenvolvimento e avaliação de tecnologias de diagnóstico da fibrose cística (FC) para o Sistema Único de Saúde (SUS), coordenado por Maria Virginia Peixoto e financiado pelos recursos da Rede de Pesquisa Clínica (PCL06) do Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde Pública-PDTSP da Vice-Presidência de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (VPPDT) da Fiocruz. A pesquisa recebe também recursos do projeto Desenvolvimento e avaliação de tecnologias de diagnóstico clínico e molecular da fibrose cística (FC), financiado pelo edital Pensa Rio da Faperj.


Publicado em 17/3/2009.

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