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10/06/2005

Pesquisadores criam um modelo animal para estudo do dengue tipo 2

Sarita Coelho


Pesquisadores do laboratório de ultra-estrutura viral do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) conseguiram consolidar um modelo animal para a infecção do dengue tipo 2 em camundongos. Eles comprovaram que as alterações provocadas pela enfermidade nos tecidos desses animais são similares às que ocorrem nos homens. Com isso, será possível utilizar o camundongo como modelo no estudo de candidatos a vacinas e fármacos contra o dengue. Um artigo sobre a pesquisa acaba de ser aceito para publicação pela Virology, periódico de divulgação científica internacional. Na Fiocruz, o modelo já foi testado com êxito em um estudo experimental com vacina de DNA.


Iniciado há sete anos, o estudo feito no IOC tem diferenças em relação à maioria dos modelos animais existentes. Enquanto outras pesquisas trabalham com vírus e/ou camundongo modificados, ou injetam o vírus diretamente no cérebro dos animais, os pesquisadores da Fiocruz utilizaram o vírus circulante no Rio de Janeiro, isolado a partir do soro de pacientes infectados. O vírus foi inoculado pela via intravenosa (na veia) ou intraperitoneal (no peritôneo) em camundongos sadios, sem qualquer adaptação prévia. "Assim, o modelo fica mais próximo do que ocorre na realidade", explica a bióloga Monika Barth, chefe do laboratório e coordenadora do estudo. Após o processo de infecção dos animais, as alterações morfológicas nos diversos tecidos foram estudadas para verificar as possíveis similaridades com a infecção pelo vírus dengue em humanos.


De acordo com os pesquisadores, o alvo principal do estudo é o tecido hepático (do fígado). "Esse é o tecido mais acometido pela infecção pelo vírus do dengue em humanos", justifica Monika. Como o organismo se constitui como um sistema - conjunto de elementos de tal forma relacionados que a mudança no estado de um dos elementos provoca alterações em todos os outros - não será preciso estudar todos os órgãos do camundongo em futuros testes de vacinas e fármacos. Com esse modelo, basta que os cientistas analisem apenas o fígado.


As pesquisas feitas no fígado dos camundongos infectados pelo vírus do dengue mostraram que as células inflamatórias migram para o órgão congestionando as vias de passagem do sangue. Também há um aumento de volume das células do fígado e a necrose de parte delas. O mesmo ocorre em humanos. A equipe realizou estudos em outros órgãos, como o rim, cerebelo, medula e pele. Um artigo científico publicado por eles sobre as alterações no pulmão revela que há migração das células inflamatórias para o tecido pulmonar, diminuição da área de trocas gasosas e focos de hemorragia e edemas, similar ao que acontece nos homens infectados pelo vírus.


O próximo passo da pesquisa será investigar a infecção por outros sorotipos de vírus do dengue e também a re-infecção no modelo animal. Débora Barreto, que integra a equipe, já está estudando as alterações no organismo dos camundongos infectados com o vírus do dengue sorotipo 1. O mesmo será feito, posteriormente, para o sorotipo 3. Essa fase da pesquisa será essencial para novos estudos e experimentos ligados ao desenvolvimento de uma vacina. As estatísticas mostram que os tipos mais severos do dengue, capazes de levar à morte, estão relacionados a uma segunda infecção por um sorotipo diferente ao da primeira infecção. O conhecimento sobre as alterações teciduais ocorridas em camundongos nas três versões da doença e na re-infecção por um sorotipo diferente pode auxiliar num melhor entendimento da doença em humanos. Também participaram do estudo os biólogos Marciano Viana Paes e Ângela Teixeira Pinhão.


O modelo animal para dengue já foi testado com êxito em um estudo experimental feito pela Fiocruz. Uma pesquisa feita em 2003 no Laboratório de Imunopatologia do IOC testou uma vacina de DNA contra o dengue tipo 2 em camundongos, obtendo bons resultados. Coordenado pela bióloga Ada Maria Barcelos Alves, o estudo foi publicado na revista Vaccinia.

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