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01/11/2011

Pesquisadores discutem o filme 'Contágio' em première para jornalistas

João Paulo Soldati


Enquanto a população mundial está sob risco de uma epidemia desconhecida, a comunidade científica busca a identificação de um novo vírus, transmissível pelo ar. Tudo isso em meio a boataria, interesses econômicos e muita paranoia. Esta é a linha narrativa de Contágio, novo filme do diretor Steven Soderbergh (Traffic e Onze homens e um segredo), que estreiou no Brasil na última sexta-feira (28/10). Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Foundation for Vaccine Research e representante da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro (SMSDC) foram convidados para discutir o longa em pré-estreia para jornalistas. A iniciativa repete a estratégia adotada em Londres e Paris, com a participação da London School of Hygiene e do Instituto Pasteur.


 O longa <EM>Contágio</EM> foi filmado em vários pontos do mundo, incluindo Hong Kong, Macau, Chicago, Atlanta, San Francisco, Abu Dhabi, Londres e Genebra. O ator Matt Damon é o protagonista. Foto: Divulgação

 O longa Contágio foi filmado em vários pontos do mundo, incluindo Hong Kong, Macau, Chicago, Atlanta, San Francisco, Abu Dhabi, Londres e Genebra. O ator Matt Damon é o protagonista. Foto: Divulgação





Não é de hoje que filmes-catátrofe arrastam uma multidão aos cinemas. Na tela, em Contágio, sentimentos como medo, impotência e pavor se espalham mais rápidos que o próprio vírus. “É interessante notar como a questão do pânico se espalha, como foi abordado no filme. Recentemente, em 2009, vivenciamos dois medos na pandemia de influenza H1N1, que foram: o que o agente infeccioso é capaz de realizar e o que as notícias são capazes de produzir”, pontuou Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratório e Sarampo (IOC/Fiocruz), que atua como referência nacional no tema junto ao Ministério da Saúde. Durante a influenza pandêmica, em 2009, o Laboratório teve importante participação, coordenando as atividades de diagnóstico laboratorial de casos.



Boato x realidade



No filme, a epidemia do vírus fictício MEV-1 se espalha rapidamente, chegando a dizimar 26 milhões de vidas. A comunidade médica mundial inicia uma corrida para encontrar a cura, enquanto uma enxurrada de boatarias se dispersa na internet. "Um bom sistema de comunicação dos órgãos públicos tem que ser claro para a sociedade, informando a imprensa corretamente e tendo-a ao nosso lado. A maioria dos boatos tem que ser checados”, afirmou Márcio Garcia, representante da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro (SMSDC).



De acordo com Patricia Brasil, médica-infectologista do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), as autoridades em saúde têm que ser objetivas. “O ministro da Saúde, nesta última pandemia (H1N1), se colocou muito bem. Ele foi para a TV colocando todas as limitações no enfrentamento ao vírus, os problemas e as dificuldades em logística, deixando bem claro para a população o que estava acontecendo. É preciso haver clareza para ninguém ficar inventando coisas como se fossem verdades”, disse. Mauro Schechter, professor titular de Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina da UFRJ e representante da Foundation for Vaccine Research, afirmou que o que falta é educação. “Porém, mesmo com educação, você vê que passados 30 anos da descoberta da Aids a população ainda acredita que o HIV não se transmite de mulher para homem”, contrapôs.



“A comunicação é um setor difícil de lidar e extremamente importante no momento de uma epidemia ou pandemia. Por exemplo, o plano brasileiro de contenção de pandemia de influenza tem como um dos itens fundamentais a comunicação. É fundamental definir quem comunica o quê. Em qualquer plano de contenção de pandemia existe uma hierarquia”, reitera Marilda Siqueira.


 A chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do IOC, Marilda Siqueira, participou do debate comentando a experiência durante a <EM>influenza</EM> pandêmica, em 2009. Foto: Peter Ilicciev

A chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do IOC, Marilda Siqueira, participou do debate comentando a experiência durante a influenza pandêmica, em 2009. Foto: Peter Ilicciev





Caso índice



Sobre o processo de uma investigação de qualquer doença, a virologista afirmou a importância de se localizar o caso índice. “Há uma preocupação muito grande em se encontrar a origem do vírus, até mesmo para entendermos o espalhamento dele e dar respostas à população de onde ele vem, se é um caso nacional ou importado”, destacou.



Segundo Marilda, vacinas para vírus que mutam com frequência, como o da gripe, necessitam de constante adaptação e produção. “No caso do vírus influenza, existe uma rede de laboratórios global, coordenada pela Organização Mundial da Saúde, que coleta materiais clínicos de unidades sentinelas. A cada amostra positiva, fazemos análise genética e antigênica para verificar a evolução do vírus”. Para ela, se for um agente novo, qualquer dúvida deve ser esclarecida entre os laboratórios de médio e grande porte. “A troca de informações é crucial para poder se chegar à identificação do agente”, pontuou.



Publicado em 1/11/2011.

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