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20/06/2012

Pesquisadores são homenageados por estudos sobre impactos socioambientais de grandes empreendimentos

Tatiane Leal


O Espaço Saúde, Ambiente e Sustentabilidade na Cúpula dos Povos, uma articulação entre a Fiocruz, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), promoveu em 18 de junho um debate sobre os impactos socioambientais e à saúde de grandes empreendimentos como a ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA), o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e o Porto do Açu, todos no Estado do Rio de Janeiro. A mesa-redonda foi coordenada pelo professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/ Fiocruz) Alexandre Pessoa, que juntamente com o médico e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) Hermano Castro e a bióloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Uerj) Mônica Lima foram homenageados com a medalha de mérito Pedro Ernesto, concedida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Os pesquisadores receberam a honraria por seus estudos sobre os impactos socioambientais e o acompanhamento de pessoas com doenças causadas pelas obras da TKCSA.


 O professor da EPSJV/Fiocruz Alexandre Pessoa, a bióloga da Uerj Mônica Lima, o vereador Eliomar Coelho e o pesquisador da Ensp/Fiocruz Hermano Castro na homenagem<BR><br />
(Foto: Peter Ilicciev) 

 O professor da EPSJV/Fiocruz Alexandre Pessoa, a bióloga da Uerj Mônica Lima, o vereador Eliomar Coelho e o pesquisador da Ensp/Fiocruz Hermano Castro na homenagem

(Foto: Peter Ilicciev) 


O presidente da Fundação, Paulo Gadelha, esteve presente ao evento e reforçou que a Fiocruz busca preencher a lacuna da saúde na avaliação dos impactos dos grandes empreendimentos, um tema central da questão ambiental. “A Fundação investe com muita energia para antecipar e reduzir os impactos negativos, promovendo articulações com instâncias governamentais, empresas e agências de fomento, estando sempre conectada aos movimentos sociais. A forma de produção conjunta de saberes e práticas com esses movimentos é parte da nossa missão e do que somos”, reforçou Gadelha. “Podem contar conosco, não é à toa que estamos com essa força e presença na Cúpula dos Povos”, completou.


Segundo os integrantes do espaço, os impactos desses empreendimentos vão desde as doenças respiratórias causadas pela poluição até o desmantelamento da rede pesqueira local. O morador de Santa Cruz, região do entorno da TKCSA Jacir do Nascimento contou que teve que deixar de ser pescador e foi trabalhar no ramo construção civil. “Mudei de atividade forçado, não estou exercendo a função porque não existe mais peixe. Os que restaram, não tenho coragem de fornecer para as pessoas, por causa da poluição”, disse. Alexandre Pessoa ressaltou que o problema não é apenas da extinção de um peixe específico, mas de toda a atividade da pesca artesanal. “Falamos aqui do presente e do futuro dessa técnica social que funciona como um alto gerador de renda e é muito importante para a soberania alimentar das populações locais”, comentou.


O engenheiro de produção Marcelo Firpo, da Ensp/Fiocruz, também participou da mesa e defendeu uma ciência com alma, articulada com a realidade social. Firpo ressaltou que o problema dos impactos socioambientais dos grandes empreendimentos não é exclusivo do Brasil, mas é uma característica do modelo capitalista globalizado. “É a consequência de um modelo de desenvolvimento produtivista, extrativista e mercantilista”, observou.


Emoção marca entrega das medalhas


O reconhecimento dos esforços de Hermano Castro e Alexandre Pessoa, da Fiocruz, e Mônica Lima, da Uerj, pelos trabalhos de pesquisa sobre os impactos negativos das obras da TKCSA sobre a população do entorno, em Santa Cruz, veio pela medalha de mérito Pedro Ernesto, concedida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro por meio de projeto do vereador Eliomar Moreira. Os pesquisadores, que chegaram a ser processados pela TKCSA, receberam a homenagem bastante emocionados. “Essa medalha não cabe no meu peito, cabe no peito de todos que estão há tantos anos defendendo a saúde pública e buscando dias melhores”, disse Castro. Alexandre Pessoa lembrou os trabalhadores e pescadores de Santa Cruz, ressaltando sua coragem inviolável. “Que essa medalha se traduza no fortalecimento dessa luta”, desejou o engenheiro. “Obrigado por poder conhecer a casa e o barco de vocês. Saúde pública é isso”, afirmou. Estiveram presentes à homenagem o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) e o vereador Edison da Creatinina (PV), ambos do Rio de Janeiro.


A Fiocruz também esteve presente na Tenda 2 do Espaço Saúde, Ambiente e Sustentabilidade, com o tema Saúde, padrões de produção e consumo e desenvolvimento sustentável: há terra para todos? A roda de conversa, também em18 de junho, questionou a sustentabilidade do padrão de consumo atual.


Publicado em 19/6/2012.

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