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09/04/2007

Pesquisadores testam uma nova droga contra a silicose

Catarina Chagas


Com elevado número de casos registrados no Brasil, a silicose – inflamação do tecido pulmonar resultante da aspiração contínua de partículas de sílica – figura no grupo das doenças ocupacionais de elevada incidência e, portanto, grande importância epidemiológica. Os tratamentos disponíveis com corticóides, no entanto, não são eficazes em todos os casos e muitas vezes a única alternativa para pacientes em estágio avançado é o transplante de pulmão. Um grupo de pesquisadores do Laboratório de Inflamação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), uma unidade da Fiocruz, trabalha para mudar este quadro. Em experimentos in vivo, eles obtiveram resultados promissores utilizando a flunisolida, substância atualmente aplicada ao tratamento da asma.


Durante o estudo, iniciado em 2004, a equipe desenvolveu um modelo de silicose experimental introduzindo partículas de quartzo por via nasal de camundongos. Ao contrário de experimentos anteriores, que introduziam as partículas cirurgicamente na traquéia dos animais, o método permite acompanhar todo o processo inflamatório. “Isso é importante para compreendermos melhor como a doença se estabelece, já que os pacientes chegam ao consultório geralmente em estágio avançado”, explica a bióloga Patrícia Machado Rodrigues e Silva, coordenadora do projeto.


Após 21 dias da contaminação com sílica – tempo necessário para que o organismo produza resposta inflamatória granulosa e fibrosa, que enrijece o tecido pulmonar e limita sua elasticidade –, os animais foram divididos em grupos para receber tratamento. Por sete dias consecutivos, receberam flunisolida, um esteróide de última geração e potente antiinflamatório, com forte ação local e menos efeitos colaterais que os corticóides comuns, ou o nitroesteróide NO-flunisolida, substância experimental modificada pelo acoplamento de uma molécula doadora de óxido nítrico, que potencializa o efeito antiinflamatório do composto parente.


Ambos os grupos apresentaram significativa reversão do quadro granulomatoso e fibrótico criado pela contaminação com as partículas de quartzo. Mesmo com as baixas doses de medicamentos aplicadas, os animais tratados apresentaram grande melhora da capacidade respiratória. Os resultados foram apresentados em congressos da área no ano passado e aguardam publicação em revista científica.


Atualmente, o trabalho, feito em parceria com as universidades de Michigan, nos Estados Unidos, e Calgary, no Canadá, está voltado para testes in vitro que ajudem a compreender melhor o mecanismo de ação da flunisolida e identificar alvos terapêuticos mais precisos. Em seguida, os pesquisadores buscarão colaboração de indústrias farmacêuticas que possibilitem os ensaios clínicos e os exames toxinológicos das drogas sugeridas.


“É muito importante que cheguemos a uma terapia eficaz contra a silicose”, ressalta Patrícia. “Embora a doença possa ser prevenida com a adoção de algumas medidas de segurança, como utilização de máscaras, as empresas e trabalhadores não têm essas informações ou não se preocupam em segui-las”. A silicose atinge principalmente trabalhadores envolvidos na construção civil, mineração e lavagem de navios. Geralmente, os sintomas – tosse seca e diminuição da capacidade respiratória – aparecem de forma mais significativa após 15 ou 20 anos de exposição constante às partículas de quartzo.

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