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08/07/2009

Plantas brasileiras se mostram promissoras contra o parasito causador da doença de Chagas

Fernanda Marques


Pesquisadores testaram in vitro o efeito dos extratos brutos de 92 espécies vegetais brasileiras contra o parasito Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas. Dos extratos testados, 11 apresentaram resultados satisfatórios, sendo que sete inibiram o crescimento do parasito entre 50% e 90% e quatro atingiram uma inibição de 100%. Os resultados desta pesquisa serão apresentados durante o Simpósio Internacional Comemorativo do Centenário da Descoberta da Doença de Chagas, que acontece de 8 a 10 de julho no Hotel Sofitel, em Copacabana, no Rio de Janeiro.


“Há muito tempo as plantas medicinais são utilizadas no tratamento de doenças parasitárias e muitos trabalhos corroboram a grande importância terapêutica atribuída a produtos de origem vegetal, bem como descrevem a atividade tripanossomicida de vários princípios ativos naturais”, explica a pesquisadora Renata Tomé Alves, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara,  uma das autoras do estudo. O ponto de partida da equipe da Unesp foi um trabalho feito em 1992, quando outro grupo de cientistas analisou a atividade dos extratos de 103 espécies vegetais e verificou que 32 deles inibiam totalmente o T. cruzi. Baseados nesses resultados, os pesquisadores da Unesp procuraram selecionar para o estudo extratos de plantas pertencentes às mesmas famílias vegetais que haviam apresentado bons resultados no trabalho de 1992.


“A ação tripanossomicida de alguns extratos já era esperada, pois a escolha das famílias foi baseada em um trabalho publicado anteriormente com resultados promissores. O que não esperávamos era a baixa citotoxicidade de alguns extratos vegetais, o que torna nossos resultados ainda mais satisfatórios”, conta Renata. Essa baixa citotoxicidade significa que, nos testes in vitro, os extratos brutos apresentaram atividade contra o parasito, mas não trouxeram prejuízos às células de mamíferos.


“A administração de um medicamento natural, com baixa toxicidade, ocasionaria menos efeitos colaterais no paciente. Outra vantagem seria o custo mais baixo para a população, principalmente se o medicamento fosse oriundo de um vegetal de fácil cultivo”, afirma Renata. No entanto, ainda é cedo para se falar em um medicamento natural contra doença de Chagas. “Esses resultados são iniciais. Por isso, ainda não temos condições de afirmar que eles possam levar ao desenvolvimento de um medicamento natural. A busca por um medicamento eficiente contra a doença de Chagas requer muitas etapas e, portanto, temos que avançar nas nossas pesquisas”, lembra a pesquisadora. “Mas estamos otimistas com os resultados obtidos até o momento”, acrescenta. Os extratos pertencentes à família Lauraceae produziram os melhores resultados até agora.


Por enquanto, os pesquisadores mediram a atividade inibitória dos extratos vegetais após 72 horas de incubação com o T. cruzi em sua forma epimastigota. A equipe da Unesp pretende, agora, testar os extratos contra outras formas do parasito. Além disso, eles vão identificar, em cada extrato, qual fração apresenta maior atividade e, dentro dessas frações, tentar isolar os compostos químicos responsáveis pela inibição do T. cruzi.


Publicado em 8/7/2009.

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