Início do conteúdo

01/02/2023

Plataforma audiovisual visa registrar e recuperar saberes tradicionais e ecossistemas do Nordeste

Solange Argenta (Fiocruz Pernambuco)


Desenvolvido em conjunto por diversas unidades da Fiocruz e entidades parceiras, um novo projeto busca fortalecer ações de reflorestamento, agricultura e cuidado em saúde em territórios indígenas do Nordeste. O estudo é desenvolvido em dois territórios, das etnias Xukuru de Ororubá, em Pernambuco, e Tingui-Botó, em Alagoas. Ambas inseridas no semiárido e vulnerabilizadas pela desertificação e agravamento de problemas de saúde ligados à alimentação. Tendo por base uma pesquisa anterior, desenvolvida com os mesmos parceiros, que resultou, entre outros produtos, na criação de uma plataforma de audiovisual Narrativas Indígenas do Nordeste (NIN). 

Iniciado em agosto de 2022, o projeto prevê o desenvolvimento de atividades de educação e comunicação junto aos Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e aos Agentes Indígenas de Saneamento (Aisan). A próxima capacitação será realizada com os AIS e Aisan Tingui-Botó, na segunda semana de março. “A ideia é intensificar processos de recuperação de saberes e práticas tradicionais que avancem na recuperação dos ecossistemas para a produção de alimentos e plantas tradicionais, tornando tanto os ecossistemas como as populações locais mais resilientes”, explica o coordenador do projeto e pesquisador da Fiocruz Pernambuco, André Monteiro.

A adoção de metodologias sensíveis 'co-labor-ativas' - que visam pesquisar “com” os povos e não “sobre” eles – permitirão a esses agentes trabalhar a promoção da saúde numa perspectiva ampliada, que integra os saberes institucionais e os tradicionais. Entre elas as Guianças, assim denominadas pelos Tingui-Botó, e Guianças do Trapiá, como são conhecidas pelos Xukuru de Ororubá, que são turnês guiadas, onde os sábios detentores das tradições e conhecimentos de cura conduzem uma caminhada pelos territórios para promover a troca de saberes a respeito do poder das plantas e da força dos encantados para o equilíbrio espiritual. A partir desses métodos, será feita a identificação e registro das árvores, sementes, cascas e seus usos medicinais e terapêuticos nos territórios, bem como dos processos de degradação ambiental relacionados à saúde. 

Estão previstas a criação de estufas de mudas, casas de sementes e planos de manejo ambiental nos dois territórios, assim como a produção de documentários a serem disponibilizados na plataforma de Narrativas Indígenas do Nordeste. A formação e certificação dos Agentes Indígenas de Saúde e dos Agentes Indígenas de Saneamento nos territórios, visando qualificar suas atividades e apoiar suas atuações, resultará na confecção de  cadernos de promoção da saúde nesses locais, além da  realização mesas redondas e oficinas presenciais e virtuais ao longo de 2023. 

Diversas instituições integram esse trabalho. A Fiocruz Pernambuco, por meio do Laboratório de Saúde, Ambiente e Trabalho (Lasat), a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), via Núcleo Ecologias, Epistemologias e Promoção Emancipatória da Saúde (Neepes), a Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz) e os Territórios Indígenas Xukuru de Ororubá (PE) e Tingui-Botó (AL). Colaboram também: a Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), o Núcleo Interdisciplinar de Cinema e Educação (Nice) da Universidade Federal de Sergipe, o Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas, a Universidade de Pernambuco/Campus Garanhuns e a VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz. O financiamento é do Programa Inova Fiocruz – edital Encomendas Estratégicas - Saúde Indígena

Saude Indigena

Mais notícias

Voltar ao topo Voltar