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13/12/2012

Prática da violência psicológica é comum entre adolescentes namorados no Recife


Com um histórico de estudar a violência existente entre casais de namorados adolescentes, o Laboratório de Estudos de Violência em Saúde (Leves) da Fiocruz Pernambuco, em pesquisa recente, revelou mais informações sobre essa prática no Recife. Com base em dados estatísticos mostra que a coação psicológica é o tipo de agressão mais comum entre esse público (82,8%), seguido da física (19,9%) e da associação entre esses dois tipos de ato violento (18,9%). Outra constatação é que as adolescentes agridem mais fisicamente os namorados (61,7%) do que eles a elas (38,3%) e que esse tipo de violência é praticada de forma crônica (54,1%) pelas jovens.


 Um dos fatores que influencia na prática da violência verbal é o fato do jovem estar num relacionamento com mais de um ano de duração e vivenciar a violência física na sua comunidade

Um dos fatores que influencia na prática da violência verbal é o fato do jovem estar num relacionamento com mais de um ano de duração e vivenciar a violência física na sua comunidade





A pesquisa Violência física e psicológica entre adolescentes namorados do Recife: prevalência, co-ocorrência, cronicidade, fatores associados e padrões de direcionalidade também revela que a prática associada das violências física e psicológica está relacionada ao fato dos adolescentes namorados, de ambos os sexos, terem sofrido agressão corporal do pai e/ou dos irmãos, em relacionamentos anteriores e ter praticado violência verbal em envolvimentos antecedentes. Quase 84% dos entrevistados disseram ter cometido ou sofrido violência física e/ou psicológica no namoro.   



No estudo, a violência psicológica foi classificada em três escalas: verbal (insulto, depreciações, etc), ameaça (de agressão física ou termino do namoro, por exemplo) e relacional (tentar colocar os amigos do namorado(a) contra ele(a), espalhar boatos sobre o companheiro (a) etc). Dentre elas, a verbal foi a mais prevalente, com registro de 80%, e de maior nível de bidirecionalidade, ou seja, sendo praticada tanto pelo namorado quanto pela namorada.



Um dos fatores que influencia na prática da violência verbal é o fato do jovem estar num relacionamento com mais de um ano de duração e vivenciar a violência física na sua comunidade. Neste último caso as chances de exercer a agressão psicológica no namoro são de quatro vezes mais. De acordo com a responsável pela pesquisa, a odontóloga Alice Kelly, além de ser o tipo de coerção preponderante entre os namorados adolescentes, a violência psicológica leva à física, que raramente ocorre isoladamente. “Dados apontam que aqueles que praticam a violência verbal em namoros anteriores apresentam quase 11 vezes mais chances de praticar violência física crônica no atual relacionamento”, explica.



Em relação à violência física, ela chama a atenção para a necessidade de serem feitos mais estudos sobre a prática desse tipo de agressão pelos adolescentes que namoram. Alice esclarece que, embora já seja amplamente aceito pela literatura o fato das meninas serem mais praticantes da violência no namoro do que os meninos, muitos autores afirmam que a violência cometida por eles é mais severa e repetitiva. Isso explicaria o fato de serem as mulheres as principais vítimas de casos extremos de violência conjugal e as que sofrem as sequelas mais graves, como mostram as estatísticas oficiais e os noticiários policiais.



A aceitação da violência feminina foi mais um aspecto investigado nesse estudo. Embora esse tipo de agressão aconteça entre namorados adolescentes, como mostra esse estudo, os ataques físicos e/ou moral exercidos por elas não foram percebidos pelos entrevistados como uma prática violenta, o que revela ser esse ato das garotas aceito pela sociedade. Os adolescentes entrevistados consideraram mais grave namorado humilhar namorada (64,1% disseram ser muito grave e 31,8%, grave) do que a situação inversa (56,7% muito grave e 39,4% grave). Da mesma forma julgaram mais grave namorado agredir namorada (88,8% muito grave e 10,6% grave) comparado a namorada agredir namorado (70,2% muito grave e 25,5% grave).



Na pesquisa foram ouvidos estudantes de onze escolas privadas e públicas de Recife, com idade entre 15 e 19 anos, em 2008. Ter ficado, namorado ou mantido relações sexuais eram condições exigidas para participar do estudo. O trabalho foi desenvolvido por Alice Kelly no doutorado em saúde púbica da Fiocruz Pernambuco e orientado pela pesquisadora Luíza Carvalho. A pesquisa fez parte de um estudo maior sobre a violência entre adolescentes namorados, desenvolvido em dez capitais do Brasil e coordenado pelo Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves), da Fiocruz.


Outros dados da pesquisa


2,5% praticou, mas não sofreu violência

2,8% sofreu, mas não praticou

10% das adolescentes disseram apenas ter perpetrado violência. No caso dos rapazes o percentual foi de 1,5%

11% dos adolescentes se disseram vítima da violência da namorada e 1,1% das garotas vítimas do namorado


Publicado em 11/12/2012.

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