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20/03/2019

Presidente da Fiocruz está entre os 100 Mais Influentes da Saúde

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)


A premiação do 100 Mais Influentes da Saúde, evento organizado pelo Grupo Mídia, em 14 de março, reuniu em um jantar 500 personalidades de toda a cadeia da saúde. “Reunimos as principais lideranças do setor, que merecidamente recebem esta homenagem. São pessoas que buscam levar o melhor da Saúde para todos os cantos do país, cada um dentro de sua expertise”, disse o CEO do Grupo Mídia, Edmilson Jr. Caparelli. Entre os 100 Mais Influentes está a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima. “É uma grande honra e uma imensa responsabilidade. Atribuo este reconhecimento a um trabalho de mais de 30 anos de dedicação à Fiocruz, à saúde pública e à defesa da necessidade de construirmos um pensamento independente sobre o projeto de país que desejamos construir para as futuras gerações”, afirmou Nísia.

Presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima está entre os eleitos, que são escolhidos pelo Conselho Editorial do Grupo Mídia, baseado em pesquisa de mercado e votação aberta pelo site da revista Healthcare Management (foto: Grupo Mídia)

 

Este ano, a premiação, em sua sétima edição, teve dez categorias: Gestor na Saúde; Tecnologia; Arquitetura e Infraestrutura; Indústria; Saúde Suplementar; Entidades Setoriais; Empresário; Referência; Autoridade Pública; e P, D & I. Os eleitos são escolhidos pelo Conselho Editorial do Grupo Mídia, baseado em pesquisa de mercado e votação aberta pelo site da revista Healthcare Management.

Entre as autoridades presentes estavam o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Francisco de Assis Figueiredo; o presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Mauro Junqueira; o presidente do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), Manoel Carlos Neri da Silva; o diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Leandro Fonseca; o secretário da Saúde do Estado de São Paulo, José Henrique Germann Ferreira; e o deputado federal Antônio Brito.

Abaixo, a entrevista que a presidente Nísia Trindade concedeu à revista Healthcare Management.

Quais foram as suas principais conquistas neste último ano, no setor da Saúde?

Nísia Trindade Lima: As conquistas alcançadas sob minha gestão na Presidência da Fiocruz devem ser vistas em perspectiva histórica e, portanto, como parte de um esforço de várias gerações de pesquisadores, tecnologistas, analistas, técnicos e gestores em uma trajetória de quase 120 anos de trabalho institucional de ciência, tecnologia e inovação em defesa da saúde e da qualidade de vida. Em 2018, entre as principais conquistas, destaco a aprovação da Política de Inovação da Fiocruz, em consonância com a lei 13.243/2016, atualizada pelo decreto 9.283 de 2018. Aprovamos a política interna de inovação da Fiocruz, adaptada às nossas características, permitindo desta forma fortalecer diferentes iniciativas institucionais. E o mais importante: todas as iniciativas – sejam as que contam com as fortalezas de nosso ecossistema próprio de Inovação – que abrange da pesquisa em todas as unidades à produção de insumos para a saúde no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) e no Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) – sejam as que contam com parcerias diversas com o setor público e o setor privado, a exemplo das Parcerias do Desenvolvimento Produtivo em Saúde (PDPs), têm por finalidade o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e as necessidades de desenvolvimento sustentável e autônomo em nosso país. Como INCT vinculada ao Ministério da Saúde, cabe à Fiocruz um papel central no que, a partir de conceito formulado no âmbito da instituição, tornou-se uma política de Estado: o Complexo Econômico Industrial da Saúde.

Em adição a este esforço, para otimizar o ambiente de CTI da Fiocruz, iniciamos em 2018 o programa Inova Fiocruz com linhas de apoio a projetos em todas as etapas da cadeia de inovação. Foram lançados quatro editais associados, visando desde preencher lacunas do conhecimento científico, com apoio diferenciado aos pesquisadores em início da carreira (editais Geração de Conhecimento e Novos Talentos), até editais voltados ao apoio de novas ideias e novos produtos para a sociedade, a partir do conhecimento científico e tecnológico da Fiocruz.     

Na área de produção de medicamentos, em 2018 a instituição passou a oferecer um novo medicamento para o SUS, contra a tuberculose, e fechou parceria para produzir outros cinco produtos de primeira linha para a rede pública – contra HIV/Aids, contra hepatite C e para evitar a rejeição de órgãos transplantados. E estabeleceu mais de dez acordos de cooperação com estados brasileiros e instituições científicas nacionais e estrangeiras. Foi ainda um ano de forte atuação na área de vigilância, especialmente nas ações relativas a febre amarela, zika, dengue, chikungunya e sarampo. Alcançamos resultados importantes no fortalecimento dos Laboratórios de Referência para o SUS.

Somam-se a estas importantes ações iniciativas no campo da formação de recursos humanos, a exemplo da pós-graduação dedicada às atividades do Complexo Econômico e Industrial da Saúde (PGCEIS). Este programa visa proporcionar apoio científico e tecnológico para o setor produtivo, por meio da integração entre orientadores acadêmicos (da Fiocruz) e tecnológicos (das empresas) para a solução de problemas propostos pelo setor produtivo. Este esforço centrado na capacitação de pessoas para atuar em área estratégica para o país também foi priorizado pelo apoio aos nossos programas de pós-graduação profissional, centrados na atualização do conhecimento de profissionais com atividades associadas à temática tecnológica e à busca de soluções inovadoras. Tivemos, neste campo, a chance de ampliar nossa atuação com a criação do doutorado profissional em Farmanguinhos, que se une a outras iniciativas já existentes de formação profissional.

Vale finalmente ressaltar que a atuação da Fiocruz na produção de insumos para a saúde pública extrapola a atuação junto ao SUS.  A instituição vem contribuindo historicamente com a destinação de vacinas para mais de 75 países por meio de parcerias com organizações como a Unicef, Opas e OMS. Este papel estratégico foi reforçado, com garantia de sustentabilidade das ações, com a Lei 13.801 de 2019. Resultado de intenso trabalho junto ao Governo Federal e ao Congresso Nacional e sancionada pela Presidência da República este ano, a nova lei ampara a atuação institucional no cumprimento de compromissos de fornecimento de vacinas e outros insumos de saúde a organismos internacionais, permitindo o uso de fundação de apoio para esta finalidade. Desta forma, mesmo em um cenário de dificuldades, estamos conseguindo apoiar fortemente o Sistema Fiocruz de Ciência Tecnologia e Inovação reforçando a importância destas atividades para a Saúde de nossa população, e ao mesmo tempo, para o desenvolvimento do país.

Como considera a responsabilidade de ser eleita um dos 100 Mais Influentes da Saúde?

Nísia Trindade Lima: De fato, é uma grande honra e uma imensa responsabilidade. Atribuo este reconhecimento a um trabalho de mais de 30 anos de dedicação à Fiocruz, à saúde pública e à defesa da necessidade de construirmos um pensamento independente sobre o projeto de país que desejamos construir para as futuras gerações.

Sou a primeira mulher e a primeira cientista social a presidir a Fiocruz e tenho consciência da imensa responsabilidade e dos grandes desafios relacionados a essa missão. Para tanto, tenho defendido o papel da Fiocruz, como instituição de Estado, com papel estratégico em nosso país e como um ator relevante na saúde global e na promoção de uma cultura da paz, em conformidade com os objetivos da Agenda 2030. Este papel há muito vem sendo reconhecido e, por esta razão, a Fiocruz faz paz parte hoje das definições do Plano de Ação Global para Vidas Saudáveis e Qualidade de Vida, sob responsabilidade da OMS e de um conjunto de agências internacionais.

Considerando os enormes desafios do campo da saúde, acredito que todos os que estão sendo agraciados por esse prêmio têm o papel de buscar contribuir para a promoção da saúde, como base para efetivação dos direitos de cidadania, e a articulação para o desenvolvimento científico e tecnológico de acordo com as necessidades do país.

Quais são as expectativas para 2019 na instituição?

Nísia Trindade Lima: Vivemos em um mundo e em um tempo marcado por fortes assimetrias regionais, nacionais e globais, assim como de emergência e a reemergência de doenças; envelhecimento da população de diferentes países e mudanças do seu perfil epidemiológico; precarização do saneamento básico e crise hídrica; contaminação de corpos de água com dejetos industriais e agrotóxicos; doenças ocupacionais; e configuração de territorialidades de exclusão e vulnerabilidade ambiental, dentre outros temas relacionados aos determinantes sociais da saúde.

O Brasil, por sua vez, está inserido em um contexto de profundas transformações sociais, que terão impacto decisivo na saúde pública. Nos próximos 20 anos, segundo o IBGE, o país terá um crescimento populacional de 10,1%, acompanhado de profunda mudança demográfica e epidemiológica. O quadro de crescente complexidade epidemiológica se aprofundará, com o predomínio das doenças crônicas na carga de doenças. As doenças transmissíveis e as emergências sanitárias continuarão a ter uma presença central nas condições de saúde e na pauta do SUS, fortemente impactadas pelas mudanças climáticas. O cenário em saúde no Brasil do século 21 se caracterizará, portanto, por alta complexidade, com requisição de intervenção sistêmica.

Ciente de que esses processos precisam ser compreendidos, para aperfeiçoamento da atuação institucional, me dedicarei a preparar a instituição para os desafios das próximas décadas nas dimensões nacional e global da ciência, tecnologia e inovação em saúde. Em 2020, ano em que a Fiocruz completará 120 anos, quero fortalecer a prospecção e uma visão consciente de futuros possíveis e desejáveis. É crucial fortalecer a Fiocruz, nas suas diferentes áreas de atuação, em âmbito nacional, tendo como eixos centrais a preservação e o avanço do SUS; a ampliação das estratégias do Complexo Econômico e Industrial da Saúde; a contribuição para a redução de assimetrias globais em ciência, tecnologia e inovação.  Trata-se sobretudo de agir para fortalecer o sistema universal de saúde, considerando as transformações em curso no contexto da 4ª Revolução Tecnológica.

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