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25/08/2009

Presidente de Serra Leoa visita a Fiocruz em busca de cooperação

Ricardo Valverde


O presidente de Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, visitou a Fiocruz em 20 de agosto para conhecer a instituição e saber como a Fundação pode auxiliar o país africano na área da saúde. O país tem a mais baixa classificação no IDH (0,336) e a maior taxa de mortalidade infantil (161 por mil crianças nascidas vivas) do mundo, além do sétimo maior índice de pobreza humana. A expectativa de vida é de 42 anos, a quarta pior do planeta. Depois de mais de dez anos de guerras e conflitos armados, Serra Leoa começa a curar as feridas e o presidente Koroma tem pressa em reconstruir o país. Ao recebê-lo, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, apresentou as linhas de atuação e pesquisa da instituição, dando foco nos estudos em doenças tropicais – uma das áreas que mais interessam às autoridades de Serra Leoa. A visita do dirigente africano ocorre seis meses depois de uma missão oficial da Fundação ao país e também à nação vizinha, Libéria, e que produziu um relatório acerca de possíveis cooperações.


 O presidente de Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, é recebido pelo presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha. Fotos: Peter Ilicciev/CCS 

O presidente de Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, é recebido pelo presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha. Fotos: Peter Ilicciev/CCS 


Após a apresentação de Gadelha, Koroma narrou as dificuldades vividas pela população leonesa, ampliadas pela guerra, e o renascimento a partir do fim do conflito e da volta da democracia. Em seguida, a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Maria do Carmo Leal, discorreu sobre a experiência da Fundação em formação e capacitação em outros países – outro setor que também interessa a Serra Leoa. A reunião serviu, além de um primeiro contato com os dirigentes africanos, para que a Fiocruz, no futuro, venha a ajudar o país a estruturar seu sistema de saúde – dilapidado após anos de guerra civil.


 Reunidos na Biblioteca do Castelo da Fiocruz, representantes de Serra Leoa e da Fiocruz discutem possibilidades futuras de cooperação 

 Reunidos na Biblioteca do Castelo da Fiocruz, representantes de Serra Leoa e da Fiocruz discutem possibilidades futuras de cooperação 


As autoridades de Serra Leoa definiram, entre as suas prioridades na saúde, o desenvolvimento de um programa antimalária – a maior causa de mortes no país –, a capacitação de recursos humanos e a doação de medicamentos para HIV/Aids. Extremamente carente, o país dispõe de apenas uma faculdade de medicina (Colégio de Ciências da Saúde), que forma de 15 a 20 médicos anualmente – em todo o território trabalham apenas 68 médicos, entre eles oito cirurgiões, cinco pediatras e um psiquiatra. Cerca de 80 ONGs internacionais atuam no país na área da saúde. De acordo com o ministro da Saúde e Saneamento de Serra Leoa, Soccoh Kabia, “existe um plano estratégico com oito componentes principais: cuidados básicos, cuidado pré-natal, cuidado pós-natal, treinamento de enfermeiras, infraestrutura, cuidado continuado, malária, avaliação e treinamento”.


 Gadelha apresenta a Koroma o Castelo Mourisco, prédio histórico e sede da Fiocruz, em Manguinhos, no Rio de Janeiro 

Gadelha apresenta a Koroma o Castelo Mourisco, prédio histórico e sede da Fiocruz, em Manguinhos, no Rio de Janeiro 


Entre os pedidos de cooperação, Serra Leoa lista os seguintes: treinamento de profissionais em áreas clínicas, com ênfase em pediatria, obstetrícia, cirurgia, fisioterapia e saúde mental; programa de controle de vetores; instalação de laboratórios para apoio diagnóstico; e treinamento de professores da faculdade de medicina. Num primeiro momento, a Fiocruz poderia destacar profissionais que fizessem um diagnóstico da situação materno-infantil do país e trazer o gerente do Programa de HIV/Aids, Momodu Sesay, ao Brasil, para que sejam estudadas parcerias. A possível cooperação brasileira com Serra Leoa dependerá da ampliação das relações institucionais e diplomáticas entre os dois países. O Brasil não tem embaixada em Serra Leoa e não mantém acordo de cooperação.


Ernest Bai Koroma


Eleito presidente de Serra Leoa em 17 de setembro de 2007, com 54,6% dos votos, o líder de oposição Ernest Bai Koroma afirmou em seu discurso de posse que seria o "presidente de todos os leoneses" e não só de quem o escolheu. Disse ainda que governaria "sem favoritismos ou temores". A posse de Koroma foi a primeira vez, nos 48 anos de independência de Serra Leoa, em que um governante eleito entregou o poder a outro designado pelas urnas. Desde a independência do Reino Unido, em abril de 1961, a história do país tem sido marcada pelas tristemente célebres (e comuns) mazelas africanas: guerra civil, golpes de Estado e denúncias de manipulação de votos.


Koroma, líder do Congresso de Todos os Povos (APC), obteve 950.407 votos. Ele é o sexto presidente de Serra Leoa desde que o país se tornou independente e o primeiro eleito depois que os "capacetes azuis" das Nações Unidas saíram do país. Eles garantiam a segurança desde o final da guerra civil (1991-2002). Mais de 50 mil pessoas morreram no conflito, que deixou ainda 2 milhões de pessoas desabrigadas e destruiu a infraestrutura de Serra Leoa.


Nascido em 1953, o presidente Koroma formou-se em economia em 1976, pela universidade mais antiga da África Ocidental, Fourah Bay College, que foi criada em 1827. Sua gestão tem sido marcada pelo esforço de reconstruir o país depois da guerra civil que devastou Serra Leoa, de combater a corrupção e o tráfico de drogas e de ampliar as relações internacionais. Em abril, ele foi confirmado candidato de seu partido nas eleições presidenciais de 2012.


Serra Leoa


Serra Leoa tem uma área total de 71.740 quilômetros quadrados e uma população estimada em 6,2 milhões de habitantes. O país apresenta clima tropical, com um ambiente diversificado, que varia de savana para florestas tropicais. A capital da república é Freetown, sede do governo e a maior cidade, com aproximadamente 1 milhão de habitantes. Serra Leoa tem o terceiro maior porto natural do mundo. Serra Leoa é  rica em minerais, como diamante, ferro, platina e bauxita. As indústrias compreendem instalações para a transformação dos produtos agrícolas e florestais e de diamantes. Mesmo assim, Serra Leoa é o país mais pobre do mundo e seu PIB é baixíssimo. Para se manter, recebe uma pequena ajuda humanitária de outros países. A religião muçulmana abrange cerca de 60% da população, o cristianismo por volta de 30% e 10% professam crenças tribais africanas.



Publicado em 25/08/2009.

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