Início do conteúdo

19/10/2007

Prevalência de esquistossomose é tema de trabalho premiado

Elizabeth Fleury


Acaba de sair o resultado da segunda etapa do Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS - 2007 e o pesquisador Martin Johannes Enk, da Fiocruz, teve seu trabalho classificado entre os seis primeiros lugares da categoria Doutorado. O resultado definitivo do prêmio será conhecido no dia da cerimônia oficial de entrega, marcada para 22 de outubro, em Brasília, durante a sessão de abertura do evento Pesquisa para a saúde: desenvolvimento e inovação para o SUS. O evento ocorrerá no período de 22 a 24 de outubro e visa avaliar a Política Nacional de Ciência e Tecnologia e Inovação em Saúde, apresentar nova proposta para a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde e discutir o sistema nacional de inovação e o complexo industrial da saúde no Brasil. Enk trabalha no Laboratório de Esquistossomose do Instituto de Pesquisa René Rachou (IRR), unidade da Fiocruz em Minas Gerais.


 O estudo desenvolvido por Enk aumenta em três vezes a capacidade de diagnosticar a doença

O estudo desenvolvido por Enk aumenta em três vezes a capacidade de diagnosticar a doença


Intitulado Análise crítica da metodologia estabelecida para determinar prevalência e controle de esquistossomose em área de baixa endemicidade (Chonim de Cima, Governador Valadares, Minas Gerais, Brasil); Recomendações de novas abordagens integradas, o trabalho do pesquisador, um médico austríaco de 44 anos que está há nove no Brasil, apresentou à comissão organizadora um trabalho que resume sua tese de doutorado, recentemente defendida.


Os pesquisadores Paulo Marcos Zech Coelho e Virgínia Torres Schall, orientadores da tese de Enk, comemoram a distinção obtida pelo trabalho que, segundo eles, já é reconhecido como uma experiência inovadora na área. Coelho, chefe do Laboratório de Esquistossomose do IRR, explica que o estudo premiado consistiu em um “levantamento da esquistossomose com enfoque em diagnóstico em áreas de baixa endemicidade”. A partir desse estudo, foi possível detectar a real prevalência de infectados na região pesquisada, taxa que com o uso de um combinado de técnicas subiu de 13,8% para 35,4%.


Coelho afirma que o estudo mostrou que “o estabelecimento de prevalência com o uso de apenas uma lâmina de Kato-Katz – conforme metodologia oficial – subestima definitivamente a real prevalência de esquistossomose. Só 1/3 de infectados são detectados”. Também foi demonstrado que a curva de prevalência real da esquistossomose em área de baixa endemicidade difere da que classicamente havia sido estabelecida, mostrando que a prevalência continua elevada acima da faixa etária de 20 anos e não apresenta a queda característica após essa idade, como até então estava estabelecido. A explicação é que aqueles indivíduos com carga parasitária muito baixa não eram detectados com uma ou apenas duas lâminas de uma única amostra de fezes examinadas de acordo com a técnica de Kato-Katz. Os testes foram feitos com uso de um conjunto de dez lâminas Kato-Katz, unindo isso a uma nova técnica desenvolvida na tese (técnica quantitativa que é uma adaptação da técnica de centrifugação em éter sulfúrico). Foi desta forma que seu estudo mostrou que a prevalência real de esquistossomose era de 35,4% e não de 13,8% (taxa encontrada pelo critério do Ministério da Saúde)”, conclui Coelho.


Especialista em diagnóstico de Chagas, o diretor do IRR, Álvaro Romanha, acredita que o trabalho de Enk dá uma contribuição muito importante ao controle da esquistossomose. “O estudo desenvolvido por ele aumenta em três vezes a capacidade de diagnosticar a doença, simplesmente aumentando o número de amostras de fezes e de lâminas examinadas/amostra. Esta informação direciona as medidas de intervenção, tratamento e controle da doença. Até o presente, detectava-se somente 1/3 dos indivíduos infectados em uma região de baixa endemicidade”. Romanha explica que o perfil epidemiológico da esquistossomose mudou ao longo do tempo, predominando menores taxas de prevalência e de formas graves, com ampliação da área geográfica. Portanto, diz ele, fazia-se necessário o desenvolvimento ou o aprimoramento do método diagnóstico para se adequar a esse novo perfil da doença. “Adicionalmente, Enk desenvolveu duas cartilhas informativas sobre a doença com imagens e linguagem simples que permitem a difusão do conhecimento da doença entre os profissionais da saúde e a população. Ele transformou o conhecimento cientifico em beneficio para a população”, diz.


Com o estudo, Enk também validou a “técnica do escolar como indicador de infecção por esquistossomose na população geral”. A “técnica do escolar” foi descrita por outro pesquisador da Fiocruz-Minas, Cristiano Massara, como técnica estatística de estimar a prevalência a partir de testes aplicados na população de estudantes do Ensino Fundamental. A tese de Massara foi orientada pela pesquisadora Virgínia Schall. “Utilizamos a técnica de forma ampliada, usando-a para toda a população. Avaliam-se os escolares, testando quem é positivo e quem é negativo, resultando em uma divisão da população em quatro subgrupos – escolares, moradores de casas de escolares positivos, moradores de casas de escolares negativos e moradores sem escolares. A partir do momento em que foi confirmada a infecção do escolar, você trata os escolares, trata sem exame de fezes os moradores de casas de escolares positivos e faz exames de rotina no restante da população. Em resumo, essa técnica permite identificação e tratamento de mais positivos do que a técnica em vigor”, explica o autor do estudo. Com a nova técnica, economiza-se tempo e dinheiro.


Também foi criada uma cartilha para educação em saúde, explicando os caminhos da doença dentro do corpo humano e no meio ambiente, incluindo o ciclo evolutivo do Schistosoma mansoni, mostrando formas de infecção e prevenção da doença. Um dos critérios usados na montagem das cartilhas é adotar o uso de fotografias das diferentes formas evolutivas do parasito e não ilustrações, combinando isso com uma linguagem acessível. O grupo alvo deste material educativo é constituído de professores, profissionais de saúde, escolares a partir de 12 anos. A distribuição será feita pelas secretarias de Saúde, além de estar disponível na internet pelo Programa Integrado de Controle da Esquistossomose.


O autor do estudo premiado lembra que seu trabalho só foi possível com a colaboração de inúmeros parceiros – entre instituições de pesquisa e estudiosos do assunto. “Isso foi um trabalho de cooperação de várias instituições, como Secretaria de Saúde de Minas, Diretoria das Ações Descentralizadas em Saúde de Governador Valadares e o Programa de Ações Comunitárias em Saúde. Em segundo lugar houve a colaboração de três laboratórios do Instituto René Rachou: Esquistossomose, Educação em Saúde e Helmintologia e Malacologia Médica”, afirma Enk.


Lançado pelo Ministério da Saúde em 2002, o Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia tem como meta estimular a produção científica voltada às necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS). “A premiação é uma forma de reconhecimento à comunidade científica por seu imprescindível papel no desenvolvimento social e econômico do país”, informa o site do Ministério da Saúde a respeito do assunto. Anualmente são 24 contemplados, sendo um premiado e cinco menções honrosas em cada categoria. São quatro categorias: Especialização, Trabalho Publicado, Mestrado e Doutorado.

Voltar ao topo Voltar