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13/12/2007

Primeira tese de doutorado em doenças infecciosas investiga toxoplasmose

Isis Breves


A primeira tese de doutorado do Programa de Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec) da Fiocruz investigou um possível surto de toxoplasmose em Barra Mansa (RJ). A tese, da médica-veterinária Isabel Cristina Fábregas Bonna, é intitulada Estudos eco-epidemiológicos, sorológico e clínico da infecção por Toxoplasma gondii (Nicolle & Manceaux, 1909) e região rural do município de Barra Mansa, RJ (2004-2006). “O projeto teve início por meio de uma demanda da comunidade, com um alerta da possível ocorrência de um surto de toxoplasmose sistêmica em humanos no bairro de Santa Rita de Cássia”, explica Isabel.


 Coleta de sangue em frangos da região rural de Barra Mansa

Coleta de sangue em frangos da região rural de Barra Mansa


A suspeita foi levantada por médicos do Programa Saúde da Família da região, que encaminharam sete pacientes para o Ipec. “Nenhum paciente encaminhado ao Instituto apresentou sorologia compatível com a toxoplasmose aguda, porém todos foram soro-reagentes para IgG anti-Toxoplasma gondii, ou seja, indica que em algum momento da vida tiveram contato com o parasita. Em geral, nas pessoas imunocompetentes a toxoplasmose é benigna e auto-limitada, porém a infecção se mantém por longos períodos ou até por toda a vida, com sorologia positiva para IgG específico. Para o diagnóstico da toxoplasmose aguda é feita a pesquisa de anticorpos específicos da classe IgM. Dos sete pacientes, quatro desenvolveram retinocoroidite, lesão frequentemente associada à doença que pode causar danos progressivos à visão, sugestiva de toxoplasmose ocular”, continua a recém-doutorada.


A partir destes casos, a realização de um estudo na região da zoonose se tornou fundamental. “Mediante aos resultados desses pacientes e pelas características ambientais de Santa Rita de Cássia, foi feito um inquérito epidemiológico que visou detectar as possíveis fontes de infecção para humanos e animais. A parte humana da investigação deste estudo foi coordenada pela médica infectologista Elisabeth de Souza Neves”, afirma Isabel. A pesquisa teve como objetivo identificar indicadores eco-epidemiológicos, sorológicos e clínicos da infecção e como diretriz verificar a existência de um surto humano da doença, identificar possíveis fontes da toxoplasmose, acompanhar humanos soro não-reagentes para T. gondii e correlacionar sorologicamente os gatos reagentes para o vírus da imunodeficiência felina e da leucemia felina, com a prevalência de anticorpos IgG e IgM anti-T. gondii.


“Para a realização do inquérito foi firmada uma parceria com a Secretaria de Saúde de Barra Mansa, além da colaboração de diversos setores da Fiocruz como o Laboratório em Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animais Domésticos do Ipec, o Laboratório de Toxoplasmose do IOC, os ambulatórios de Toxoplasmose e o de Oftalmologia do Ipec. Inquéritos epidemiológicos, em regiões geograficamente limitadas retratam as reais condições de vida da população com a identificação dos principais problemas de infra-estrutura e assim direcionam as ações públicas, principalmente em saúde. A conclusão final da pesquisa foi que no momento do estudo não houve a ocorrência de um surto de toxoplasmose. Entretanto, pôde ser realizada uma prevenção primária com ênfase no acompanhamento de humanos soro-não reagente para T. gondii, os quais participaram de palestras educativas periódicas e receberam orientações verbais e escritas”, conclui a recém-doutora.


Segundo Isabel, “os principais fatores sócio-epidemiológicos envolvidos na manutenção e dispersão da infecção por T. gondii na região foram “trabalhar nas hortas”, “ingerir verduras cruas” e “ter gatos na residência”. Estes resultados sugerem a participação dos felinos como fator central da contaminação ambiental e risco para adquirir a toxoplasmose.


O objetivo do Programa de Doutorado do Ipec é formar pesquisadores qualificados para o desenvolvimento de pesquisa clínica na área das doenças infecciosas. “O programa é destinado a desenvolver no profissional uma visão integral, multidisciplinar e interprofissional da pesquisa clínica em doenças infecciosas. Ele foi criado em 2004 e temos vários motivos para comemorar. Além de a defesa ter sido concluída antes do prazo, já que o curso tem duração de quatro anos e a data limite seria março de 2008, na avaliação deste ano pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes) obtivemos o conceito 5, o que significa alto nível de desempenho”, explica o coordenador do Programa de Pós-graduação Stricto sensu da unidade, Armando de Oliveira Schubach.

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