Ao buscar conhecer mais profundamente os aspectos socioambientais como parte dos determinantes sociais do adoecimento da população no território de Manguinhos, os pesquisadores do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Rosália Maria de Oliveira e Paulo Roberto de Abreu Bruno desenvolveram o projeto Diagnóstico Socioambiental do Território Teias Manguinhos. A pesquisa integra a iniciativa da Vice-Presidência de Pesquisa e Laboratórios de Referência (VPPLR/Fiocruz), elaborada no âmbito do Programa de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Saúde Pública da Fiocruz (PDTSP/Teias): Portfólio Rede de Pesquisa no Território de Manguinhos [1], uma parceria entre academia, serviços de saúde e sociedade civil. Inicialmente, essa pesquisa teve o propósito de investigar aspectos socioambientais próximos à Refinaria de Manguinhos. No entanto, seu escopo foi ampliado para todo o território e agregou dados sobre o lixo, vetores, enchentes, renda da população, coleta de lixo e abastecimento de água.
A participação na Rede PDTSP-Teias, segundo o Portfólio, viabilizou a parceria com outros projetos para a análise socioambiental. Compreender os problemas do cotidiano valorizando as experiências de vida no território e fomentar a aproximação e troca compartilhada de saberes com os atores sociais locais foram alguns dos aspectos propiciados por tal parceria. Essas articulações visaram ao surgimento de estratégias conjuntas de ação para o enfrentamento das iniquidades, na perspectiva da promoção da saúde e fortalecimento do tecido social local. Atualmente, o projeto está na etapa de análise dos resultados, e o produto é o mapeamento do território, expressado pela espacialização das análises de contaminantes de solo e condições socioambientais nos pontos geográficos. A coordenação ainda pretende sistematizar a produção em um Atlas Socioambiental do Território de Manguinhos, cujo tema já foi abordado em matéria publicada no ano de 2013 [2] pelo Informe Ensp Pesquisa analisa região da Refinaria de Manguinhos.
Os coordenadores apontaram como principal desafio a etapa de formação da equipe para a pesquisa de campo. Segundo eles, essa etapa consumiu aproximadamente seis meses de trabalho não previstos no desenho inicial do projeto. Entretanto, sua estruturação e capacitação agregaram jovens moradores de Manguinhos ao projeto, o que suscitou grande satisfação em Rosália e Paulo Bruno. De acordo com Rosália: “A metodologia de coleta de amostras foi trabalhosa, tendo em vista a realização de inúmeras campanhas para validar o método”.
Outro ponto ressaltado por ela sobre o processo de recolhimento de amostras foi o aspecto relativo à violência local, como a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no território. Para Rosália, esse fato provocou o atraso no processo de trabalho e a impossibilidade do cumprimento de todas as etapas da pesquisa. “O projeto precisou realizar ajustes relacionados tanto à execução como ao tempo de financiamento. De modo que obter financiamento para sua conclusão tornou-se outro desafio nas mãos da equipe, cujo sucesso foi obtido com a aprovação de um novo edital Papes/Fiocruz”, detalhou.
Conforme explicaram os pesquisadores da Ensp, a motivação para inserir esse projeto na Rede PDTSP-Teias pode ser traduzida como forma de incentivo à construção de novos produtos e processos de trabalho voltados à temática de saúde ambiental. Nessa pesquisa, de acordo com o Portfólio, priorizou-se a atuação em territórios urbanos vulneráveis por compreender que se tratam de espaços ocupados pelas camadas menos favorecidas da população em situação de desproteção no que se refere à garantia de direitos sociais e civis básicos para a atenção, prevenção e promoção da saúde.
Além de Rosália e Paulo Bruno, integram o projeto Danielle de Almeida Carvalho, Graciara da Silva, Geralda de Almeida, Otavio de Leo Cabrera, Eduardo Júnior Andrade Santos, Felipe Miceli de Farias e Cristine Ariel Campos da Silva.