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05/09/2008

Profissionais da atenção básica à saúde revelam insatisfação e queixas

Fernanda Marques


Pesquisa feita nas regiões Nordeste e Sul contribuiu para o conhecimento das condições de trabalho e saúde de profissionais que atuam na atenção básica à saúde. Foram entrevistados quase 5 mil trabalhadores, como médicos, enfermeiros, agentes comunitários de saúde, auxiliares e técnicos de enfermagem, entre outros. Divulgados pela revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, os resultados revelaram profissionais que consideravam suas condições de trabalho inadequadas e apresentavam diversas queixas de saúde. De acordo com os autores da pesquisa, essa insatisfação requer atenção, pois ela pode comprometer a qualidade do cuidado de saúde oferecido à população.


 Segundo o artigo, metade dos entrevistados considera o ambiente físico do trabalho inadequado e quase dois terços têm opinião semelhante em relação às tarefas que desempenham (Foto: Unipar)

 Segundo o artigo, metade dos entrevistados considera o ambiente físico do trabalho inadequado e quase dois terços têm opinião semelhante em relação às tarefas que desempenham (Foto: Unipar)


O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas, da Universidade Católica de Pelotas e da Secretaria Municipal de Saúde e Bem Estar. Ele é um dos 15 artigos que compõem a edição especial da revista Cadernos de Saúde Pública dedicada à Atenção Primária à Saúde no Brasil. O artigo dos pesquisadores de Pelotas traz dados relativos a 41 municípios com mais de 100 mil habitantes: 17 no Rio Grande do Sul, 4 em Santa Catarina, 10 em Pernambuco, 3 na Paraíba, 3 no Rio Grande do Norte, 2 em Alagoas e 2 no Piauí.


A análise desses dados mostrou que os trabalhadores da atenção básica à saúde eram, em sua maioria, mulheres entre 31 e 45 anos de idade. Os resultados apontaram também que os funcionários do Sul eram, em média, mais bem remunerados que os do Nordeste. Cerca de 40% dos entrevistados tinham vínculo de trabalho precário (sem garantias trabalhistas) e apenas um terço deles recebia supervisão semanal no desempenho de suas atividades.


“A metade dos trabalhadores entrevistados considera o ambiente físico do trabalho inadequado e quase dois terços têm opinião semelhante em relação às tarefas que desempenham e às relações institucionais. As relações pessoais foram consideradas insatisfatórias para um terço da amostra no Sul, enquanto no Nordeste esta proporção atinge 90% da amostra”, dizem os pesquisadores no artigo. “Tais números são preocupantes, pois o trabalho é uma das fontes de satisfação de diversas necessidades humanas, como auto-realização, manutenção das relações interpessoais e sobrevivência”.


Quatro em cada dez participantes da pesquisa relataram problemas de saúde. Os principais foram as doenças do aparelho circulatório, as do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, e as do aparelho digestivo. Pouco mais de 15% dos profissionais apresentavam algum transtorno mental comum e 12% tinham o hábito de fumar. Além disso, um quarto dos entrevistados usava medicamentos regularmente e um quinto praticava a automedicação. “São necessários esforços no âmbito da gestão para apoiar esses trabalhadores, que são a base do sistema de saúde e protagonistas do desenvolvimento e da consolidação da atenção básica”, recomendam os autores.


Publicado em 05/09/08.

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