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24/03/2020

Profissionais de saúde em tempos de Covid-19

Maria Helena Machado*


O Brasil tem dois patrimônios no âmbito da saúde: o SUS e os mais de 3 milhões e meio de profissionais de saúde que nele atuam.

Fruto de um processo histórico de três décadas, o SUS assegura, pela Constituição Federal, saúde a toda a população brasileira. Á época de sua criação na década de 1980, o país contava com pouco mais de 18 mil estabelecimentos de saúde, 570 mil empregos  e uma equipe bipolarizada entre médicos e atendentes de enfermagem (nível elementar de escolaridade). Trinta anos depois, o SUS é hoje o maior patrimônio público, com mais de 200 mil estabelecimentos  — hospitalares e ambulatoriais  —, 3,5 milhões trabalhadores empregados, sendo boa parte de nível superior. A equipe  passa a ser multiprofissional, constituída de médicos, enfermeiros, farmacêuticos, odontólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, além de técnicos e auxiliares de saúde (enfermagem e demais áreas).

É fato incontestável que o SUS, operado na rede pública (federal, estadual e municipal) e na rede privada/filantrópica conveniada, é sustentado e movido por um enorme contingente de trabalhadores. É fato também que esses trabalhadores são essenciais ao sistema e imprescindíveis ao processo civilizatório de nosso país.

Ser profissional da saúde significa, antes de tudo, ter vocação e missão especiais. A crise sanitária que impõe o novo coronavírus nos incita a reafirmar essa premissa: profissional de saúde é um bem público.

O enfrentamento da pandemia da Covid-19 em nosso país tem sido possível por conta exatamente do SUS e de seus trabalhadores. Falamos de profissionais atuando na assistência direta à população nos hospitais e ambulatórios, na ciência e tecnologia produzindo e disponibilizando saberes, conhecimentos, tecnologia e insumos, na gestão pública, enfim, prestando serviços de alto valor social.

Contudo, sabemos das mazelas que o SUS vem enfrentando com crescimento da terceirização e da informalidade da inserção desses profissionais. Pesquisas recentes com categorias essenciais da saúde (médicos e enfermeiros, por exemplo) revelam aumento da carga de trabalho diária e salários baixos. A adoção do multiemprego e o prolongamento da jornada de trabalho semanal é uma realidade em todo o país, seja no setor público ou no privado. O desgaste profissional, o estresse, o adoecimento e os acidentes de trabalho acabam assumindo dimensões insustentáveis.

Se estamos falando de um bem público, precisamos voltar nossas atenções e refletir, juntos, a essencialidade do trabalho deles, representados aqui pelos médicos, pela enfermagem e todos os demais profissionais  que compõem esse contingente. Aqui vão nossa gratidão, nosso reconhecimento, nossa confiança e esperança que venceremos essa batalha sanitária.

*Maria Helena Machado é pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz).

O artigo foi originalmente publicado no jornal O Globo (23/3/2020).

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