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03/01/2008

Projeto analisa assistência farmacêutica à malária na Amazônia Legal

Renata Moehlecke


Pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fiocruz estão investigando o modelo de assistência farmacêutica no âmbito das endemias na Amazônia Legal. O projeto, apelidado de Mafalda, visa avaliar a prescrição, a dispensação de medicamentos e adesão dos pacientes ao tratamento de malária não complicada (que não apresenta conseqüências graves) pelos parasitos Plasmodium vivax e Plasmodium falciparum. Segundo o Ministério da Saúde (MS), mais de 60% do território brasileiro têm condições propícias à transmissão da doença e cerca de 95% dos casos ocorrem na região abordada, onde são registradas quase 500 mil novas ocorrências por ano.


 Círculos em abóbora representam hemácias (células vermelhas do sangue): aquelas com pequenos pontos escuros estão infectadas por <EM>Plasmodium</EM>

Círculos em abóbora representam hemácias (células vermelhas do sangue): aquelas com pequenos pontos escuros estão infectadas por Plasmodium


A farmacêutica Claudia Osorio, coordenadora do projeto, esclarece que, de acordo com dados recentes do MS, foi possível observar uma redução de cerca de 15% do número total de casos de malária no país de janeiro a outubro de 2007. No entanto, houve um aumento de quase 34% na proporção de casos por P. falciparum, responsável pelo maior número de mortes, de 1999 a 2005.


O estudo foi efetuado em seis municípios de alto risco para a doença em quatro estados componentes da Amazônia Legal (Rondônia, Pará, Amazonas e Acre). A abordagem envolveu 600 adultos e 600 gestantes. O modelo avaliativo proposto analisou 25 indicadores relacionados ao contexto social, à organização do serviço, à prescrição dos medicamentos, à dispensação de medicamentos e à adesão ao tratamento. Os dados coletados, ainda em fase de análise, já apresentam alguns resultados preliminares.   


Do total de 15 unidades verificadas, quatro mostraram incoerências em relação à aplicação dos protocolos estabelecidos pelo MS e apenas uma unidade apresentou periodicidade no abastecimento de antimaláricos. “Esses locais podem funcionar de modo imediatista no que tange ao abastecimento de medicamentos, o que, por sua vez, pode acarretar em interrupções no tratamento dos pacientes, contribuindo para a resistência”, explica Claudia. “Além disso, essas pessoas residem em áreas de muita pobreza e têm pouca instrução, o que contribui para que não demandem aquilo de que necessitam”.


Dados preliminares revelam que pequena parte dos pacientes com malária por P. falciparum utiliza tratamento de primeira escolha, ou seja, o mais indicado para a doença. “Essa situação é grave, pois só prejudica o tratamento”, comenta. Ela ainda ressalta que quase metade dos pacientes diagnosticados afirmou não receber orientação na entrega do medicamento e que muitos dos rótulos não apresentavam indicações de uso adequadas. “O tratamento da malária é bem complicado, pois são muitos medicamentos em diferentes regimes terapêuticos”, esclarece a farmacêutica. “Já é difícil para uma pessoa com quase nenhuma instrução conseguir compreendê-lo e executá-lo corretamente e, mesmo que eles tivessem alguém para ajudá-los, os rótulos não possuem as indicações apropriadas”.   


Os resultados ainda apontaram outra dificuldade na adesão ao tratamento: muitos dos doentes não conhecem os efeitos adversos. “Se a pessoa começa a vomitar, o que é comum, ela imediatamente pára de tomar o remédio, o que também contribui muito para o desenvolvimento da resistência ao medicamento”, diz Claudia. “É preciso fazer com que as pessoas que prestam assistência, como médicos, enfermeiros e gestores das unidades, atentem para o cumprimento dessas medidas simples, que podem ajudar a diminuir a alta incidência da doença na região".

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