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27/03/2009

Projeto analisa situação da saúde sexual das áreas de fronteira do Alto Solimões

Ana Paula Gioia


Elaborar um diagnóstico situacional em doenças sexualmente transmissíveis (DST), de forma participativa e multidisciplinar, contemplando dimensões sócioantropológicas e clínico-epidemiológicas, é o objetivo do projeto Análise Situacional da Saúde Sexual no Alto Solimões (Assas), promovido pela Fundação Alfredo da Matta (Fuam) e pela Fiocruz Amazônia. O projeto visa estudar a situação de vulnerabilidade social associada à infecção por DST e a construção participativa de uma proposta de ações programáticas de prevenção e controle dessas doenças, de acordo com o contexto da tríplice fronteira no Alto Solimões.


 O trabalho visa contribuir para o desenvolvimento da pesquisa multidisciplinar na Região Amazônica e para o aprimoramento da capacitação dos pesquisadores e profissionais de saúde das instituições locais

O trabalho visa contribuir para o desenvolvimento da pesquisa multidisciplinar na Região Amazônica e para o aprimoramento da capacitação dos pesquisadores e profissionais de saúde das instituições locais


Financiado pelo Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa em Políticas Públicas em Áreas Estratégicas (Poppe/Fapeam), o Assas é coordenado pelo pesquisador e doutorando em saúde coletiva da Fiocruz Amazônia Antônio Levino da Silva Neto. É um estudo interdisciplinar e transversal, que transita pelas áreas da geografia, antropologia, medicina e epidemiologia, com componentes de observação, entrevistas em profundidade, grupos focais e estudos de prevalência das DST e Aids para construir um diagnóstico da vulnerabilidade da população que vive na área de fronteira constituída pelos municípios de Tabatinga, Atalaia do Norte e Benjamin Constant, área de contexto híbrido onde circulam muitas pessoas com nacionalidades, culturas e interesses diferentes, onde as regras de controle, vigilância e barreiras construídas para um país não é valido para o outro.


O trabalho de campo teve início com a coleta de dados epidemiológicos de DST/Aids existentes e o levantamento dos recursos humanos dos serviços de saúde destinados ao atendimento dessas doenças dos municípios pertencentes à área de fronteira, utilizando o registro etnográfico das entrevistas e observação participante. Na primeira fase também foram feitos contatos institucionais e articulações com a comunidade para explicar o modelo de pesquisa que seria desenvolvido e preparar as bases para receber a equipe que executará o trabalho. Para a fase sócioantropológica foi realizado um mapeamento e a marcação dos “pontos quentes” definidos como mapas temáticos, construídos a partir das bases cartográficas das cidades, que mostram as áreas de maior concentração de pessoas em condições de vulnerabilidade às DST/Aids.


Partindo das informações sócioculturais do comportamento sexual e condições de vulnerabilidade as DST/Aids, está previsto a elaboração do perfil clínico-epidemiológico das DST na população vulnerável, estimando as taxas de prevalências das doenças em amostras representativas, por meio de exames laboratoriais, para a realização de um cálculo amostral, que permitirá uma visão da magnitude do problema na região de fronteira.


O trabalho visa contribuir para o desenvolvimento da pesquisa multidisciplinar na Região Amazônica e para o aprimoramento da capacitação dos pesquisadores e profissionais de saúde das instituições locais, bem como, orientar a elaboração de estratégias de intervenção no âmbito das políticas públicas, sugerindo aos os gestores locais a implantação de um programa de ações de controle de DST/Aids.


Segundo Levino, foi feita uma abordagem diferente, saindo da pesquisa epidemiológica tradicional. Neste trabalho a preocupação está voltada para a cadeia de transmissão da doença e identificação dos indivíduos expostos ao risco de adoecer. Para ele, o envolvimento das pessoas que participam do circuito social da vida noturna, relacionadas ao contexto das DST, é fundamental nas ações de prevenção ao mesmo tempo em que os lugares considerados pontos de encontro são vistos como potencialmente adequados para intervir através do processo de incentivo as práticas seguras.


“Deslocamos o foco de observação considerando o contexto social e os aspectos culturais, tendo assim noção dos fatores predisponentes ou determinantes para então criar uma estratégia de intervenção bem definida a partir da realidade local. Estamos trabalhando com o conceito de vulnerabilidade que olha as pessoas como indivíduos inseridos em um contexto, mas que possuem possibilidade de conhecer e entender a estratégia de prevenção, tornando-se um agente proativo da saúde, por meio de um empoderamento de auto-cuidado que faz com que a pessoa construa possibilidades individuais e coletivas para enfrentar o problema. A idéia não é proibir o sexo, mas estimular as práticas saudáveis com o uso de preservativos”, explicou.


Para a segunda fase do projeto está prevista a realização de inquérito epidemiológico das principais DST (sífilis, gonorréia, clamídia, hepatite B, HPV e HIV) por meio de entrevistas por questionário a serem aplicados no momento da consulta/coleta de material para os exames laboratoriais e da realização de estudos sobre formas de tratamento e uso de preservativo entre os portadores de DST.


Segundo a ginecologista, diretora da Fuam e doutoranda em saúde coletiva pela Fiocruz Adele Benzaken, a pesquisa pretende devolver os resultados às áreas de fronteira pela realização de oficinas, implementação de políticas públicas de controle das DST e a divulgação dos resultados nos meios científicos. “O sentido deste trabalho está em devolver aos locais estudados os resultados obtidos em forma de benefícios para a população por meio de estratégias de prevenção que deverão ser continuadas pela equipe local”, concluiu Benzaken.


Publicado em 26/3/2009.

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