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12/11/2007

Projeto analisará uso de selênio como suplemento alimentar para cardiopatas

Isis Breves


O Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec) da Fiocruz está desenvolvendo o projeto Efeito do tratamento com selênio na progressão da cardiopatia na doença de Chagas: ensaios clínicos em pacientes crônicos, com a finalidade de diminuir a morbidade da enfermidade no Brasil e na América Latina. “No Ipec estamos atentos a novas tecnologias para a doença cardíaca. O paciente com cardiopatia chagásica recebe medicações que vão atenuar os problemas cardíacos causados pelo parasito”, explica o infectologista Pedro Emmanuel Americano do Brasil, que integra a equipe do projeto Selênio, coordenado pelo também infectologista Alejandro Marcel Hasslocher Moreno, e que tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos cardiopatas com o uso da substância selênio.


 Barbeiro (vetor da doença de Chagas) que acabou de se alimentar com sangue humano

Barbeiro (vetor da doença de Chagas) que acabou de se alimentar com sangue humano


O projeto Selênio é realizado com os pacientes do Ipec em parceria com Instituto Oswaldo Cruz (IOC). “O selênio (Se) é um nutriente essencial para todos os organismos e desempenha o papel de anti-oxidante. É incorporado pelos animais principalmente pelos alimentos. Algumas patologias, como as cardiopatias, têm sido correlacionadas com a diminuição de níveis séricos da substância. A deficiência nutricional de Se, ou a sua redução sérica, está associada às doenças cardiovasculares, a algumas miocardiopatias congestivas, a maior morbidade e mortalidade cardiovascular, que são o infarto e doença da artéria coronária”, explica Brasil. Segundo o infectologista Pedro Emmanuel Americano do Brasil, o diferencial do atendimento no ambulatório de Chagas do Ipec é a assistência específica para a doença, que em seu estado crônico exige atenção do profissional de saúde para aumentar a expectativa e a qualidade de vida do paciente


O projeto surge como decorrência natural de resultados pré-clínicos anteriores, indicando que a redução nos níveis séricos de Se pode ser um co-fator da gravidade da miocardiopatia chagásica”, afirma Brasil. Estudos demonstram que a suplementação com 100mg de selênio pode prevenir a morte por arritmias, cardiomegalia, e proporcionar aumento da fração de ejeção ventricular em modelos animais de infecção de doença de chagas. “a suplementação pode ter também efeitos imuno-estimulantes”.


O coordenador do projeto ratifica ainda que “12,5% a 89% dos pacientes com alterações ecocardiográficas também apresentaram níveis reduzidos de Se sérico. Além disso, camundongos com uma dieta adequada em Se apresentam maior sobrevida na fase aguda da infecção experimental por Trypanosoma cruzi assim como a suplementação nutricional com Se contribui para a redução na intensidade de lesões miocárdicas detectáveis nas fases aguda e crônica da infecção prevenindo também a dilatação ventricular na fase crônica”.


Com essas questões apresentadas envolvendo o Selênio, o projeto da Fiocruz vai analisar a seguinte hipótese: o tratamento com Se pode interferir significativamente com a progressão da disfunção cardíaca na doença de Chagas? Alejandro afirma que esse ensaio clínico poderá comprovar que, sob efeito do tratamento com Se, ficará expressivamente diminuída a evolução da disfunção cardíaca em pacientes cardiopatas.


“O estudo será conduzido por cinco anos de acompanhamento em 130 pacientes, segundo cálculo amostral para assegurar a veracidade dos resultados. Os pacientes receberão 100mg de selenito de sódio em dose única diária por um ano, e serão acompanhados com referência a diversos parâmetros. Serão comparados os que receberão a medicação com os que tomarem o placebo para estimar o risco de progressão da cardiopatia na doença de Chagas e observar entre outros fatores, novos possíveis preditores de progressão da miocardiopatia chagásica, relacionados à resposta imune”, detalha Brasil.


“Se esse estudo obtiver bons resultados poderemos causar um impacto positivo na qualidade de vida e sobrevida dos pacientes com problemas cardíacos causados pelo parasito da doença de Chagas”, conclui Alejandro.

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