27/03/2017
Renata Pomposelli (Projeto Eliminar a Dengue)
O projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil inicia a liberação dos mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, na região de Praia de Baía de Niterói, nos bairros de Charitas, Preventório, São Francisco e Cachoeira. Essa é a etapa mais aguardada do método inovador e natural que reduz a transmissão dos vírus da dengue, zika e chikungunya. As liberações dos mosquitos acontecem após a conclusão das etapas de comunicação e engajamento comunitário que levam informação e dialogam com a comunidade visando tanto a disseminação do conhecimento sobre a metodologia quanto o esclarecimento de dúvidas.
A partir de sexta-feira (24/3), os bairros receberão os Aedes aegypti com Wolbachia periodicamente durante alguns meses, dependendo da forma de liberação de mosquitos determinada para cada área. Além desses bairros, outros da região de Praia de Baía e toda a Região Oceânica de Niterói também receberão o projeto, dando sequência à expansão neste municiípio em 2017.
A escolha de Charitas, Preventório, São Francisco e Cachoeira dá continuidade à implementação realizada em Jurujuba (bairro de Niterói) do projeto-piloto. Assim como no Rio de Janeiro, o projeto dará continuidade a partir da Ilha do Governador, onde também foi implementado projeto-piloto, no bairro de Tubiacanga. A expansão chegará ao Rio de Janeiro em breve, em meados de 2017, onde atingirá cerca de 2,5 milhões de habitantes, em bairros das regiões norte, centro e sul, por um período aproximado de dois anos de duração.
“Estamos bastante otimistas com esta expansão do projeto, pois teremos a oportunidade de trazer mais um método à população para reduzir a incidência dessas doenças transmitidas pelos mosquitos, agora em maior escala”, ressalta o pesquisador e coordenador geral do Projeto no Brasil, Luciano Moreira.
Segundo o pesquisador, os projetos-piloto realizados em Jurujuba e Tubiacanga deram a base necessária ao desenvolvimento do plano para a expansão, desde a implementação de um modelo de aceitação pública, o aperfeiçoamento da logística, de materiais, até a otimização dos processos de criação dos mosquitos e à integração de novos dados informatizados.
Formas de liberação
O projeto utiliza duas formas de liberação de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia: a primeira é a liberação de mosquitos adultos em vias públicas e a segunda é a liberação de Aedes com Wolbachia através do Dispositivo de Liberação de Ovos (DLO), um recipiente fechado (semelhante a um balde com tampa) onde os mosquitos se desenvolvem. Os DLOs são colocados em áreas públicas e/ou propriedades privadas nos bairros que colaboram com a iniciativa. No interior do DLO há ovos de Aedes aegypti com Wolbachia, água e alimento para as larvas que vão nascer. Cerca de sete a dez dias após a instalação, os mosquitos já estarão adultos e voarão para fora, por meio dos furos existentes no dispositivo. É importante ressaltar que o DLO não possui produtos químicos ou tóxicos.
O uso de duas formas de liberação é parte da busca por metodologias que sejam ao mesmo tempo mais eficazes, de melhor custo-benefício e mais adequadas à cada área de implementação. “Devido à diversidade de características das cidades brasileiras, em termos de estrutura urbana e ambiental, escolhemos a melhor estratégia para cada área a ser trabalhada”, explica Moreira.
O método é seguro e sem qualquer risco para a população, animais e o meio ambiente. Além disso, não utiliza nenhum tipo de modificação genética. Como objetivo, tem a meta de substituir, gradualmente, a população de mosquitos Aedes aegypti de campo pelos mosquitos com a bactéria Wolbachia. Isso acontece através do cruzamento dos Aedes aegypti, na medida em que a bactéria é passada naturalmente da fêmea para os filhotes, que já nascem com a Wolbachia. Esse processo garante a autossustentabilidade do método .
Após as liberações, as populações de mosquitos das áreas são monitoradas para a verificação da presença de Wolbachia. Esta etapa deve perdurar por alguns meses.
Apoiadores e financiadores
O projeto é uma iniciativa do programa internacional Eliminate Dengue: Our Challenge. No Brasil recebe financiamento da Fundação Oswaldo Cruz, do Ministério da Saúde (Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis (Devit) e Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (Decit/SCTIE), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, do CNPq e do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).
A Secretaria Municipal de Saúde de Niterói e a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro atuam como parceiros locais na implantação do projeto, fornecendo contrapartida de pessoal e logística. O financiamento internacional inclui verba da Fundação Bill & Melinda Gates, via Universidade Monash na Austrália e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.