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25/10/2007

Propriedades medicinais de plantas e biodiversidade estão na 'Memórias do IOC'

Marcelo Garcia


A investigação das propriedades medicinais e farmacológicas de plantas nativas do Brasil é tema de duas pesquisas publicadas na última edição das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. Um estudo realizado pela Unesp analisou as propriedades imunológicas do cipó-caboclo (Davilla elliptica) contra a bactéria Mycobacterium tuberculosis, responsável por mais de 8 milhões de casos de tuberculose por ano, segundo a OMS. O estudo mostra que a utilização de um extrato criado a partir da planta, quando aplicado em uma cultura de macrófagos, células responsáveis pela defesa do organismo contra infecções, aumenta a produção de H2O2, NO e TNF-α. Esta propriedade contribui para aumentar ou restaurar a capacidade do organismo combater a bactéria.


 <EM>Panstrongylus mitarakaensis</EM>, espécie descoberta na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa e cujo processo de descrição está detalhado nesta edição da revista

Panstrongylus mitarakaensis, espécie descoberta na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa e cujo processo de descrição está detalhado nesta edição da revista


Em outro estudo, feito por pesquisadores do Rio de Janeiro e de Santa Catarina, foram analisadas as propriedades bactericidas e fungicidas de extratos obtidos a partir da casca de frutos cítricos (Citrus spp) contra a ação de bactérias oportunistas e fungos patogênicos bastante comuns. A pesquisa aponta que alguns dos extratos se mostraram tão eficientes que poderiam ser usados clinicamente para o combate a infecções de pele. Segundo a investigação, este resultado também pode ajudar no desenvolvimento de alternativas para o tratamento de fungos e bactérias resistentes a drogas conhecidas, o que tem complicado o tratamento de doenças como Aids ou câncer.


Já uma pesquisa desenvolvida em Pernambuco comparou as variantes B e F do vírus HIV-1, quanto à sua epidemiologia, suas mutações e a resposta de cada um ao tratamento antirretroviral, que se mostrou bem semelhante. Outro retrovírus também analisado nesta edição foi o HTLV-1, responsável por várias doenças, como a leucemia das células T do homem adulto. O estudo, que envolveu profissionais do Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz (CPqGM), unidade da Fiocruz na Bahia, da Universidade de Oxford e de outras instituições, fez o mapeamento das características moleculares do HTLV, o que poderá contribuir para o processo de desenvolvimento de novas vacinas, inclusive contra a Aids.


Pesquisadores do Ceará e da Alemanha também publicaram um estudo sobre a ocorrência de doenças sexualmente transmissíveis (DST) em mulheres em idade reprodutiva do município de Pacoti (CE), situado a 100 quilômetros de Fortaleza. Das mais de 700 mulheres analisadas, 45% apresentavam algum dos problemas pesquisados, sendo o HPV o  mais comum. Cerca de 10% delas apresentavam mais de uma dessas infecções simultaneamente. Os dados são relevantes, sobretudo porque a ocorrência de DST e de vaginoses bacterianas são apontados pelos cientistas como fatores que aumentam o risco da contaminação pelo vírus da Aids.


Outro estudo, de pesquisadores de São Paulo, caracterizou algumas  seqüências expressas (EST - expressed sequence tags) do protozoário Leishmania (Leishmania) amazonensis, uma das espécies responsáveis pela leishmaniose humana no Brasil, até então pouco estudada. A descoberta pode ajudar a identificar os genes relacionados à sobrevivência do parasita e à sua interação com o hospedeiro, o que abre possibilidades para o desenvolvimento de novos métodos de controle.


A nova edição das Memórias dá destaque, também, ao trabalho de descrição de novas espécies, que contribui para o conhecimento sobre a biodiversidade. Uma delas, Panstrongylus mitarakaensis, do gênero Panstrongylus, foi descoberta por pesquisadores da França e da Guiana Francesa, na fronteira entre este país e o Brasil. Essa é a 14ª espécie descrita do gênero, presente desde a Argentina até a Nicarágua. Em outro artigo, pesquisadores do Museu de La Plata e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia encontraram pela primeira vez três espécies da família Ceratopogonidae vivendo no caule da planta Phenakospermum guyannens, comum na América do Sul, especialmente na Amazônia, onde é conhecida como floresta de sororoca. O artigo descreve pela primeira vez a espécie Culicoides (Mataemyia) felippebauerae, além da larva e a crisálida da espécie Forcipomyia (Phytohelea) musae.


Ainda nessa edição, foram descritas duas novas espécies de flebotomíneos, insetos responsáveis pela transmissão da leishmaniose, Evandromyia gaucha e Brumptomyia angelae, ambos da Região Sul; além de um novo gênero e uma nova espécie de nematódeo  parasita da ordem dos Nematodes, encontrados no interior do estômago de cotias que habitam a região do Rio Negro, no Norte do Brasil. Por fim, estudos sobre Taenia solium, Staphylococcus spp., Biomphalaria glabrata, Aspergillus flavus, Trypanosoma brucei e Neisseria meningitidis também foram tema de artigos desta edição das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, disponível gratuitamente aqui.

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