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14/01/2011

Publicação apresenta e debate a noção de risco em saúde

Renata Moehlecke


Publicado pela Editora Fiocruz, o livro Correndo o risco – uma introdução aos riscos em saúde visa apontar como a temática se tornou popular nas últimas cinco décadas e como esse processo afetou o âmbito da promoção da saúde, no que diz respeito, por exemplo, a estilo de vida saudável, ao campo da genética ou a diferentes contextos socioculturais. A obra foi escrita por Luis David Castiel, Maria Cristina Rodrigues Guilam e Marcos Santos Ferreira, pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), e atenta para a impossibilidade de se superar todas as perspectivas colocadas por numerosos pressupostos preventivistas presentes no cotidiano.



“Parece existir coletivamente a percepção de que paira uma aura de ameaça sobre todos nós, podendo nos atingir, de modo particularizado, a qualquer instante. Especialmente, se não seguirmos os preceitos de prevenção em saúde, das normas de segurança no trabalho, das preocupações nas atividades cotidianas não só urbanas, mas também rurais. Hoje, há uma percepção de que se vive em um ambiente globalizado de risco – uma sociedade catastrófica”, afirmam os autores na apresentação do livro. “Este livro, ao traçar seus escritos sobre o risco, também corre risco de não satisfazer aos preceitos dos discursos dominantes da prevenção e da promoção da saúde que podem chegar a criar uma atmosfera de aversão obsessiva a todos os riscos que se corre ao longo da vida. Em termos breves: não costuma ser simples estar atento, de modo sustentado, a todos os possíveis riscos que nos ameaçam ao se viver a vida. Inclusive, inevitavelmente, viver implica correr riscos”.


Disposta de maneira didática no formato de perguntas e respostas, a obra pretende chamar a atenção do leitor para os exageros que essa perspectiva alarmante pode causar. “Claro que não se trata aqui de fazer apologia incauta e displicente da exposição desenfreada a reconhecidas ameaças à saúde e à vida, mas de mostrar como esse ambiente ‘riscofóbico’ pode configurar uma estratégia limitante e produtora de ansiedades e inseguranças ao propor formatos restritivos de condução do comportamento das pessoas”, comentam os autores. “Assim sendo, este livro adota uma postura crítica diante dessa configuração no âmbito da saúde. Para isso, se sustenta em autores e perspectivas conceituais socioculturais que criticam o excesso manifestado neste estado de coisas”.


Eles ainda acrescentam que a existência de uma verdadeira indústria de determinação ou avaliação de riscos, baseada em disciplinas como economia, engenharia, toxicologia, epidemiologia e biomedicina contribuem para a construção do espírito do risco nas sociedades modernas. “A proliferação de estudos sobre risco teve repercussões em termos de difusão pública por meio da mídia. Em consequência da divulgação de informações consideradas vitais para a sobrevida das populações, há o imediato interesse do público por tais questões (especialmente diante da possível imputação de irresponsabilidade, caso se assumam condutas descuidadas a este respeito), propiciando uma demanda para a qual a mídia procura apresentar as ‘últimas descobertas da ciência’ sobre os riscos, entre outros tópicos”, elucidam os autores. “Queremos apostar na probabilidade de que esta obra também possa ter a virtude de acalmar nossas ansiedades em relação a tantos riscos que, aparentemente ou não, nos avassalam, e também possa nos ajudar a ‘dormir com um barulho destes'”.


Publicado em 13/1/2011.

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