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10/01/2023

Radar Saúde Favela debate sobre literatura, periferia e saúde

Nathalia Mendonça (Cooperação Social da Presidência)


A nova edição do Radar Saúde Favela trata dos entrelaçamentos existentes entre o campo da literatura e da saúde nos territórios periféricos. Os textos abordam a atuação de coletivos e movimentos sociais no fomento ao consumo e produção de literatura nos territórios de favelas e periferias brasileiras. A edição também apresenta a discussão sobre a participação social nas reinvindicações por equidade e justiça social e incentivo à cultura. 

A seção Debates desta edição é composta pela Carta da Periferia Brasileira de Letras à sociedade e à política brasileira. A Periferia Brasileira de Letras (PBL), projeto da Cooperação Social da Fiocruz, é formada por uma rede de coletivos literários de atuação em periferias. Durante quatro meses em 2022, uma articulação dos 13 coletivos literários da PBL, atuantes em periferias de oito estados  participaram de atividades de formação, escuta ativa e participação social (com mais 156 coletivos desses estados) que culminaram na escrita da carta. O documento apresenta propostas para o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) a partir do debate sobre territórios saudáveis em periferias. 

A seção também conta com o artigo O fazer literário não se restringe as letras impressas em livros, de Jucelino Sales, doutor em literatura, escritor e membro do coletivo Papo Reto, de Brasília, e de Luiz Eduardo de Almeida Souza, doutor em Estudos de Linguagens, poeta, músico e membro do Coletivoz Sarau de Periferia, de Belo Horizonte. Os autores abordam o fazer literário, as múltiplas expressões literárias e a disputa do conceito ampliado de literatura marginal e periférica. 

A seção Memória do informativo apresenta o texto A literatura vai salvar a periferia de Edson Santana, integrante da União de Negros e Negras pela Igualdade (Unegro). O autor destaca os 100 anos da Semana de Arte Moderna e os 100 anos da morte de Lima Barreto, trazendo um tom crítico à semana de 22. Edson Santana também relata sua experiência como integrante da rede nacional de grupos e coletivos literários da Periferia Brasileira de Letras (PBL) destacando também a importância da leitura e da escrita, a presença de bibliotecas comunitárias para o acesso da população periférica às produções literárias. 

Ensaios é a nova seção do Radar Saúde Favela, um espaço que privilegia as escritas de todas as pessoas que vivem as periferias em suas diversas formas. Serão apresentados artigos, crônicas, contos, diferentes gêneros literários, além de ensaios fotográficos. O texto Slam, a liberdade é revolucionária, de Lara Nunes, graduanda em Letras pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), membro da Periferia Brasileira de Letras (PBL) e representante do Slam das Muié, conta a história do poetry slam no Brasil, uma batalha de poesia falada onde a palavra poética, política e performática é protagonista. 

A seção também conta com o texto de Isadora Escalante, da Rede Baixada Literária, que traz o panorama sobre as bibliotecas comunitárias e a participação social no território da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, especificamente em Nova Iguaçu, onde as 22 mulheres integrantes  trabalham com o objetivo de democratizar o acesso à literatura desde 2009. A Rede consolidada no território tem um movimento literário que reúne vários atores e é fruto de uma identidade coletiva fundada pelas relações comunitárias em torno da leitura e pelo enfrentamento ativo em busca da igualdade e justiça social. 

A editoria O que tá pegando abre com o texto de autoria coletiva também da Rede Baixada Literária sobre o projeto cultural Ocupa Literatura na Baixada Fluminense.  A ideia do projeto é ocupar com Literatura diferentes espaços e incentivar a leitura literária nos territórios por onde passa. O projeto é patrocinado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa por meio do Edital Retomada Cultural RJ 2. A Rede Baixada Literária é um coletivo de 20 bibliotecas comunitárias que atua em Nova Iguaçu há mais de dez anos em prol da democratização do acesso ao livro e à leitura.  

Na mesma seção e encerrando o informativo, o texto Bom Jardim Literário: resiliência da literatura nas favelas de Fortaleza, apresenta o projeto Periferia que Lê, nascido no início de 2020 junto com a pandemia do Covid-19 no Brasil, quando o educador social Marcos de Sá deu início a um projeto de doação de livros em uma instituição na qual era voluntário. No bairro do Bom Jardim, onde se concentra uma das maiores periferias de Fortaleza, Ceará, foram implementadas as geladeiras literárias (chamadas geladotecas), que democratizaram o acesso à leitura no bairro. O projeto ganhou proporção em outras ações de coleta de livros, criação de informativos impressos ressaltando reflexões e textos poéticos produzidos por artistas locais e gerou também o nascimento de um coletivo literário revelando vinte vozes na literatura dentro da própria comunidade, o Periferia que Escreve

O Radar Saúde Favela é o novo informativo produzido pela Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz. Gestado no primeiro ano da pandemia de Covid-19 no Brasil, o projeto foi um dos produtos da Sala de Situação Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro, vinculada ao Observatório Covid-19 Fiocruz. Estruturado com base no monitoramento ativo de fontes não oficiais, o antigo Radar Covid-19 Favela trouxe análises populares e científicas sobre a situação de saúde em territórios periféricos, visibilizando iniciativas populares e enfrentamento à pandemia no decorrer de suas 17 edições, publicadas entre agosto de 2020 e junhos de 2022.  

O material publicado resulta da formação de uma rede de interlocutores valorizando a produção compartilhada de conhecimento, o acesso e a participação ativa de moradores de favelas e de seus movimentos sociais e o direito à comunicação pública. Para colaborar com depoimentos, denúncia ou reportagens no informativo, envie e-mail para radarsaudefavela@fiocruz.br.  

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