Início do conteúdo

21/12/2023

Radar Saúde Favela lança edição sobre Conferência Livre de Saúde nas Favelas

Luiza Toschi (Cooperação Social da Fiocruz)


25ª edição do Radar Saúde Favela, produzido pela Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz, apresenta um registro da Conferência Livre de Saúde das Favelas e Periferias, ocorrida em junho de 2023, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A conferência teve como tema Favelas e periferias pelo Direito à Vida e em Defesa do SUS e abordou as articulações em torno do direito humano à saúde e à vida, a partir da perspectiva da favela e das periferias. A revista traz as falas e intervenções ocorridas durante a conferência, além de um registro fotográfico do evento.

As Conferências livres são parte do processo que materializa o controle social do Sistema Único de Saúde (SUS), com proposição de teses e representantes que debatem temas caros aos serviços de saúde. “Uma das coisas que muitos militantes e organizações apontam é a dificuldade para parar e escrever, registrar e sistematizar processos de trabalho e de lutas. Essa edição especial tem a importância de ser um registro e uma memória das ricas discussões e debates que ocorreram no evento”, diz Fábio Araújo, sociólogo, pesquisador da Cooperação Social e coordenador do projeto. 

O Radar Saúde Favela (originalmente, Radar Covid-19 Favela) foi concebido no âmbito do Observatório Fiocruz Covid-19 e, atualmente, está alocado na Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz. O site Radar Saúde Favela foi lançado em fevereiro de 2023 e reúne as narrativas sobre saúde de moradores, lideranças populares e movimentos sociais. Artigos de opinião, podcast, vídeos e a própria edição da revista (desde agosto de 2020) são alguns dos formatos publicados pelo projeto. Os temas a serem abordados nas edições consideram sugestões de pauta, matérias e crônicas sobre saúde enviados por lideranças e comunicadores populares. 

“O Radar tem sido um espaço de escuta e reverberação das vozes das favelas e periferias e de suas reflexões e análises sobre a determinação socioambiental da saúde a partir das condições de vida de seus moradores e de suas organizações coletivas”, reconhece Fabio. Para ele, o eixo do protagonismo das favelas contribui para visibilizar as lutas sociais dos sujeitos periféricos em linguagens como a escrita e a produção de podcasts e ensaios fotográficos. 

Podcast como ferramenta para amplificar vozes pouco ouvidas 

Com seis episódios no ar, sendo dois recentes, o podcast Radar Saúde Favela tem sido reconhecido pelos parceiros dos coletivos populares como um instrumento importante de comunicação e legitimação das demandas das favelas por direitos. Os dois últimos episódios revelam a diversidade dos assuntos abordados em torno do eixo periferia e promoção da saúde: um deles trata da questão imigrante no Brasil; o outro traz a visão de uma agente comunitária de saúde sobre racismo, o SUS e outras tecnologias de cuidado. 

Euza Borges, nascida e criada no Morro dos Macacos, bairro localizado em Vila Isabel, Zona Norte do Rio de Janeiro, é agente comunitária de saúde e integrante da escola de samba Vila Isabel. Em seu depoimento ela fala sobre suas origens familiares e o aprendizado de outras tecnologias de cura e cuidado. A partir de sua experiência como mulher negra que circula pelo território e conhece por dentro a realidade local, Euza também fala sobre negritude, racismo e antirracismo nos espaços de saúde e o acesso dos moradores à clínica da família. Ouça o episódio.

Hortense Mbuyi é advogada, intelectual e militante. A imigrante congolesa reside no Brasil há quase 10 anos, quando deixou o Congo após sofrer perseguição política. Em seu depoimento para o podcast Radar Saúde Favela, ela reflete criticamente sobre a situação dos imigrantes em solo brasileiro, denunciando que o país tem uma política de receber, mas não tem políticas públicas de acolhimento e integração social de imigrantes. Ela revela desafios de acesso aos serviços públicos de educação, saúde, moradia e trabalho e o racismo. Hortense declara que foi no Brasil que viveu sua primeira experiência racista. Episódio disponível.

Fotografia de luta 

Para além dos espaços de denúncia e reflexão, o projeto atua também na perspectiva da arte e da cultura como promotoras de saúde e de autonomia de sujeitos periféricos. Neste sentido, o ensaio fotográfico tem sido apropriado como linguagem capaz de revelar identidades, registrar alegrias e valorizar a experiência das e dos moradores de periferias. Apenas no mês de novembro dois tipos de ensaios, com propostas diferentes entre si, foram disponibilizados no site.

Pipaterapia: instrumento e fundamento para a cultura suburbana, de autoria de Carolina Fernandes, indígena urbana, historiadora, fotógrafa e artista independente foi lançado no dia 14.  Os registros fazem parte da série “Lazer e subúrbio carioca” e foram produzidos em Bento Ribeiro em 2022 e em 2023. As imagens narram a importância da pipa como instrumento, tanto na infância, quanto na vida adulta.  

Para a artista, os costumes de um local proporcionam vínculos sociais e reforça o pertencimento em relação ao território. “Muitas vezes o lazer, além de uma categoria de saúde em si, ainda funciona de maneira mais profunda porque entretenimento gera emprego, gera vínculo, gera engajamento e gera pertencimento”, afirma Carolina. 

Sobre o processo de composição de Imagem-Ritual de Leah Cunha, mulher trans, negra, candomblecista, favelada e diretora artística do Laboratório de Composição de Imagem-Ritual foi publicado no dia 22/12. O ensaio reúne fotografias, videografias e performances criadas a partir da oficina ministrada por Leah, que toma como referência as tradições culturais negras. 

O ensaio reúne fotografias, videografias e performances criadas a partir da oficina ministrada por Leah Cunha (foto: Leandro Cunha)

 

“Levando em conta o invisível como parte fundante do visível, a oficina propõe a experimentação do sentido da visão apenas como parte do processo de composição da arte visual. O olfato, o paladar, os movimentos, a escuta e o tato são campos importantes para vivenciar as visualidades”, explica Leah. 

Além das fotos, a aba Ensaios do portal recebe artigos, crônicas, contos de diferentes gêneros literários. É um espaço que privilegia “as escritas de todos aqueles e aquelas que, direta ou indiretamente, vivem as periferias”. Acesse para acompanhar a produção artística e reflexiva de lideranças e parceiros do projeto.  

Radar Saúde Favela

O Radar Saúde Favela tem foco em produzir e difundir informa­ções sobre a situação de saúde e da sua de­terminação social em favelas e periferias de centros urbanos, lançando luz sobre as diversas dimensões de precariedade que afetam de forma diferenciada as popula­ções que habitam em territórios socioam­bientalmente vulnerabilizados. 

Voltar ao topo Voltar