Início do conteúdo

26/07/2023

Radar Saúde Favela: podcast aborda a Chacina de Acari

Luiza Toschi (Cooperação Social da Fiocruz)


O dia 26 de julho é uma data emblemática de luta para os movimentos sociais urbanos do Rio de Janeiro. Nesta quarta-feira, se somam exatos 33 anos do desaparecimento de 11 jovens negros e pobres da comunidade de Acari, zona norte do município, em um sítio em Magé. A Chacina de Acari é mais um dos gravíssimos casos de violação de direitos e crime hediondo sem solução. Com o objetivo de fortalecer e reconhecer a luta das famílias e manter viva a memória da reivindicação por justiça e direitos fundamentais, o Radar Saúde Favela – coordenado pela Cooperação Social da Fiocruz - lança nesta data seu novo episódio do podcast Saúde Favela: Mães de Acari – a segunda geração. Ouça este episódio.

No episódio os ouvintes poderão conhecer a perspectiva das irmãs dos jovens desaparecidos e os impactos da chacina em suas vidas. De acordo com pesquisadores da violência urbana e com os próprios familiares das vítimas, o caso fustiga não apenas pelo crime, mas também a visibilidade alcançada a partir do movimento das Mães de Acari. A mobilização dessas mulheres em luto por esclarecimentos e reparação ganhou repercussão midiática e, a partir dela, ficou conhecido o início dos movimentos de mães de vítimas da violência de Estado.

Mariane Martins, pesquisadora da Cooperação Social da Fiocruz e membro da equipe de comunicação e arte no Radar Saúde Favela, acredita que ouvir as vozes das Mães de Acari e das filhas, filhos e familiares que também tiveram a infância e juventude atravessadas pela ausência e tristeza, é ter a ciência de que existem dores que jamais silenciam. “Nem o tempo é capaz de trazer alento a uma violência tão brutal”. Para ela, que teve contato com algumas dessas mães, a chacina de Acari foi um divisor de águas na vida das famílias. “Nos depoimentos fica nítido o impacto na saúde das famílias. São recorrentes os relatos de depressão, divórcio e desemprego. São traumas que se consolidam e atravessam gerações pela incapacidade do Estado de produzir justiça”, afirma.

Fábio Mallart, sociólogo e membro da equipe do Radar Saúde Favela, afirma que relembrar a Chacina de Acari é uma forma de homenagear à memória das Mães de Acari e dos jovens desaparecidos, bem como denunciar a violência de Estado que continua ocorrendo nos territórios periféricos. “O desaparecimento forçado, as ameaças sofridas ao longo de toda a caminhada de luta, os traumas decorrentes da indiferença e da ineficácia do sistema de justiça são apenas alguns dos fatores que prolongaram a morte de seus entes queridos sobre os seus próprios corpos. Algumas das mães de Acari, inclusive, já não estão mais entre nós", relatou Mallart. “(Essa homenagem) é também uma pequena peça no tabuleiro político no qual tantos movimentos combatem a violência de Estado, sobretudo policial, que continua a aniquilar, dia após dia, populações negras, pobres e periféricas”, reforçou.

Ficha técnica
Roteiro e produção: Aline Leite, Fábio Araújo, Fábio Mallart e Mariane Martins
Edição: Mariane Martins
Arte: Paulo Roberto Ribeiro
Revisão: Fábio Araújo, Fábio Mallart e Mariane Martins

Voltar ao topo Voltar