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29/07/2014

Reflexão sobre universidade, ciência e ditadura abre o 16° Encontro Regional de História na Fiocruz

Marina Lemle


Com o auditório do Museu da Vida da Fiocruz lotado, foi aberto nesta segunda-feira (28/7), o 16° Encontro Regional de História, no Rio de Janeiro. A mesa de abertura contou com a presença da vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nisia Trindade Lima, do diretor da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Paulo Elian, do presidente da Anpuh-Rio e pesquisador da COC Flavio Edler e do professor Rodrigo Patto Sá Motta, presidente da Anpuh Brasil e professor da UFMG.

Todos ressaltaram a importância deste evento acontecer pela primeira vez na Fiocruz, o que representa um reconhecimento do trabalho da Casa de Oswaldo Cruz no ensino e na pesquisa em história. Nisia Trindade Lima destacou também a política de conhecimento aberto da Fiocruz, que valoriza a relação entre pesquisa, ensino e comunicação científica.

Universidade, ciência e ditadura

Na conferência de abertura Universidade, ciência e ditadura, Rodrigo Patto Sá Motta abordou o tema de seu último livro, As universidades e o regime militar (editora Zahar), no qual discute os espaços intermediários entre resistência e colaboração. O historiador explicou que a política modernizadora e reformadora do regime militar tornou as universidades instituições científicas mais relevantes, apesar dos “expurgos políticos e ideológicos” nos quais professores acusados de comunismo e subversão eram afastados e aposentados.

“O programa do regime militar não foi enfraquecer as universidades, mas expandi-las para os seus fins”, esclareceu, acrescentando que foram privilegiadas as áreas tecnológicas, seguidas da saúde pública.

Entre os pontos que favoreceram o avanço estão, segundo o professor, o aumento das verbas para pesquisa e bolsas, a criação de uma nova carreira docente com dedicação exclusiva, a criação do Plano Nacional de Pós-graduação e a construção de novas universidades e campi. Ele contou que, no nível federal, houve um crescimento de 50% das universidades públicas e uma expansão de 150% do corpo docente e de 300% do corpo discente.

As reformas começaram em 1965, mas avançaram a partir de 1968. Sá Motta contou que após o AI5 houve um salto de modernização, ao mesmo tempo em que aumentou a perseguição política, com ações como o decreto 477, lançado para aterrorizar o movimento estudantil, que atingiu centenas de estudantes. De acordo com o professor, os “expurgos” nas universidades duraram até 1969, e o “Massacre de Manguinhos”, que vitimou pesquisadores da Fiocruz, em abril de 1970, foi o último dos grandes expurgos, tendo sido maior pela proporção de cientistas afetados.

O pesquisador frisou que, ao contrário da Argentina e do Chile, onde os acadêmicos comunistas foram eliminados das universidades, no Brasil, o expurgo político na elite acadêmica foi incompleto – uns foram demitidos de uma universidade e contratados por outras, outros continuaram em seus postos e outros se acomodaram. Segundo Sá Motta, vários professores que tinham ficha nos arquivos da ditadura não foram aposentados, protegidos por ligações pessoais com pessoas influentes ou por acordos feitos por reitores ou dirigentes que acreditavam na sua importância produtiva para a universidade.

Sá Motta acrescentou que a aceleração da modernização universitária era também uma estratégia política de aplacar críticas e atrair intelectuais. “A esquerda se rende por pragmatismos, flexibilidade ideológica e arranjos personalistas”, destacou, comparando aquele tempo com o quadro político atual.

Apesar dos fatores positivos da modernização autoritária das universidades, o professor enfatizou que os resultados foram paradoxais, com crescimento intenso, mas desequilibrado. Além disso, ressaltou que não se pode esquecer o lado repressor, violento e injusto. “Não se pode fazer uma leitura otimista da ditadura, que teve uma série de furos, principalmente a entrega de uma economia destroçada e uma recessão aterradora. O programa de desenvolvimento econômico teve uma série de fissuras. Teríamos avançado muito mais num regime democrático. É importante dizer isso para não cair em armadilhas saudosistas”, concluiu.

O encontro continua até 1°/8 na Universidade Santa Úrsula, em Botafogo.

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