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04/06/2008

Relação entre mês de nascimento e doenças respiratórias é tema de estudo

Renata Moehlecke


Avaliar as relações entre o mês de nascimento, as conseqüentes mudanças climáticas e as hospitalizações por asma, bronquite e pneumonia na infância e na vida adulta. Esse era o objetivo de pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, em estudo publicado na última edição da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. A pesquisa teve como base 5.917 nascidos em 1982 em três hospitais da região urbana de Pelotas, dos quais 77% foram acompanhados até a idade adulta (23 e 24 anos). “Há uma preocupação crescente em compreender o impacto das variações climáticas na epidemiologia das doenças”, afirmam os estudiosos. “Esse interesse está fortalecido pelas conseqüências das mudanças climáticas acontecidas em nível mundial nos últimos anos e melhora das habilidades para detectar e predizer as variações ambientais”.


 Um dos resultados do estudo mostrou uma maior incidência de hospitalizações por asma/bronquite aos 4 anos entre crianças nascidas nos meses anteriores ao inverno

Um dos resultados do estudo mostrou uma maior incidência de hospitalizações por asma/bronquite aos 4 anos entre crianças nascidas nos meses anteriores ao inverno


Para a análise, as mães foram entrevistadas e as crianças examinadas no ano de nascimento, em 1984, 1986 e 2004/2005. O estudo apontou três resultados principais. O primeiro mostrou uma maior incidência de hospitalizações por pneumonia até os 2 anos de idade e por asma/bronquite aos 4 anos entre crianças nascidas nos meses anteriores ao inverno (de abril a junho): as chances eram de 1,31 a 2,35 vezes maiores do que nas nascidos entre janeiro e março (verão). Além disso, os bebês que viveram os seus seis primeiros meses de vida expostos ao frio apresentaram risco de hospitalizações por essas doenças respiratórias de até 3,16 vezes maiores.


A segunda conclusão foi que as internações foram mais freqüentes entre crianças menos favorecidas, especialmente por pneumonia nos dois primeiros anos de vida. “Cabe notar, no entanto, que as crianças pobres apresentam altas freqüências de hospitalização por pneumonia durante todo o ano”, comentam os pesquisadores. “Por exemplo, houve maior incidência de internações entre crianças pobres expostas ao clima quente (8,9%) do que as expostas ao frio (8,3%)”.

 

Como terceiro e último resultado, os cientistas apontaram que não houve associação entre sazonalidade ao nascer e variáveis relacionadas à asma na idade adulta. “Os efeitos da sazonalidade do nascimento diminuem com a idade, sendo compatíveis com o desenvolvimento do sistema imunológico e o aumento do diâmetro das vias respiratórias nos primeiros anos de vida”, explicam. “É provável que a sazonalidade do nascimento tenha maior associação com a gravidade e não com os sintomas de asma”.


Os estudiosos alertam que as evidências encontradas não podem ser extrapoladas para outras regiões com características ambientais e/ou sócio-econômicas distintas. “Os atuais resultados contribuem para ajudar na compreensão de influências do meio ambiente em etapas precoces da vida no processo saúde-doença e para a elaboração de políticas multisetoriais para o controle de infecções respiratórias severas”, concluem. “Salienta-se a importância de continuar documentando essas associações em diferentes tempos e lugares para prover evidências mais precisas e consistentes, ajudando a elaborar modelos clima-saúde e investigar o papel das mudanças climáticas sobre as iniqüidades em saúde entre pobres e ricos”.

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