Início do conteúdo

29/09/2010

Representantes de 23 países estão reunidos em Brasília

Bel Levy


A experiência brasileira na redução da mortalidade infantil e neonatal por meio da estratégia dos bancos de leite humano é modelo internacional, aplicado em mais de 20 países da América Latina, Europa e África. Pioneira na área, a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (RedeBLH) concentra hoje 200 unidades em todo o país. Somente em 2010, mais de 65 mil litros de leite humano disponibilizados por aproximadamente 78 mil doadoras alimentaram 75 mil bebês recém-nascidos, internados em unidades neonatais.


Os bancos de leite humano integram a política de saúde pública brasileira desde 1985. Desde então, os resultados positivos para o aprimoramento à atenção à gestante e a recém-nascidos internados em unidades neonatais – e a redução da mortalidade infantil no país – chamaram a atenção da comunidade internacional para a estratégia nutricional praticada pelo Brasil. O interesse global pelo tema ganhou força em 2001, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a RedeBLH como a ação que mais contribuiu para redução da mortalidade infantil no mundo, na década de 1990.


“O reconhecimento veio acompanhado da responsabilidade de replicar o modelo brasileiro em outros países da América Latina e assim surgiram os primeiros acordos bilaterais na área”, apresenta o coordenador da RedeBLH, o engenheiro de alimentos João Aprigio Guerra de Almeida. Criado em 2007, o Programa Iberoamericano de Bancos de Leite Humano (IberBLH), reúne hoje 23 países, em diferentes estágios de desenvolvimento da iniciativa e com perfis socioeconômios e culturais distintos. Isto é possível pela lógica que norteia a expansão da RedeBLH, condicionada pela equação que combina alta eficiência baixo custo e facilidade de execução.


Durante o V Congresso Brasileiro / I Congresso Iberoamericano de Bancos de Leite Humano, que acontece de 28 a 30 de setembro em Brasília, representantes dos 23 países que integram a iniciativa terão a oportunidade de compartilhar experiências, dúvidas e desafios, para construir coletivamente as soluções.


O consultor em Pediatria e Lactância da Argentina, Gustavo Hugo Sager, apresentará a experiência de seu país na área de bancos de leite humano, inaugurada em 2007. Em três anos, a Argentina registrou avanços importantes em relação à sensibilização das mulheres para a doação de leite materno, ao apoio a mulheres com dificuldades para amamentar, à atenção à saúde de recém-nascidos internados em unidades neonatais e à capacitação de profissionais de saúde.


Gustavo reconhece a importância da iniciativa para o aprimoramento da atenção neonatal. “A promoção da alimentação natural de recém-nascidos é vital para o enfrentamento da mortalidade infantil. Além dos aspectos nutricionais que favorecem a recuperação de bebês prematuros e imunodeprimidos, o baixo custo para implantação e manutenção de bancos de leite humano torna a estratégia viável a países em diferentes situações socioeconômicas”. Por meio de convênio bilateral com o Brasil, a Argentina tem promovido a capacitação dos profissionais que atuam em bancos de leite humano e participado de reuniões com países do Mercosul para definir normas técnicas relativas à atividade.


O consultor argentino destaca os desafios que o país enfrentará nos próximos anos para expandir sua rede de bancos de leite humano. “Nossos objetivos para o futuro são a consolidação de mais seis unidades já projetadas, o prolongamento da amamentação até que a criança complete dois anos de idade e a redução da morbimortalidade infantil e neonatal. Para isso, estamos planejando a criação de instituições de apoio, como a Associação de Bancos de Leite Humano da Argentina e de redes para a integração de hospitais com centros de aleitamento materno e o transporte do produto”, Gustavo apresenta.


O diretor Executivo de Pesquisa, Ensino e Atenção em Neonatologia do Ministério da Saúde do Peru, Julio Potella, conta que está ansioso pelo início do trabalho em seu país. A capacitação da equipe do Instituto Nacional Materno Perinatal do Ministério da Saúde do Peru (INMP), referência peruana na área, terá início em 11 de outubro. Os resultados para o país devem começar a aparecer em três anos após a instalação do primeiro banco de lei humano. As expectativas são as melhores possíveis. “A cooperação internacional é muito importante, porque viabilizará a transferência de tecnologia para países com elevadas taxas de mortalidade infantil ou países que já registraram avanços na redução do problema, mas ainda podem melhorar mais. A experiência do Brasil com bancos de leite humano confirma o potencial da estratégia para a redução da mortalidade infantil e neonatal”, reconhece Portella.


Para o dirigente peruano, o V Congresso Brasileiro / I Congresso Iberoamericano de Bancos de Leite Humano proporcionará a integração dos diversos países que compõem a iniciativa liderada pelo Brasil.“O evento será uma ótima oportunidade para unir os países que já participam do IberBLH e os que estão interessados em adotar a estratégia de bancos de leite humano. A troca de experiências fomentará a geração de soluções para problemas e dúvidas comuns a muitos bancos de leite humano”, aposta Potella.


A experiência brasileira é motivação também para o Paraguai, que inaugurou há quatro meses seu primeiro banco de leite humano. “A experiência internacional e – sobretudo a brasileira – nos mostra que é possível enfrentar a mortalidade infantil e neonatal a partir de ações de baixo custo. Participar desta cooperação internacional é estratégico para nós, pois sozinho o Paraguai não poderia executá-la”, considera a coordenadora do Banco de Leite Humano do Hospital San Pablo, no Paraguai, Marta Maria Herrera Moreno.


Carmen Medina, coordenadora do Banco de Leite do Serviço de Neonatologia do Hospital 12 de Outubro, em Madri, reconhece importância da cooperação com o Brasil para a implantação da estratégia em seu país. “A RedeBLH tem assessorado a implantação de bancos de leite humano na Espanha desde o início, com orientações, diretrizes técnicas, transferência de tecnologias e apoio moral. O portal da RedeBLH foi meu livro de cabeceira no início do projeto”, lembra Carmen.


A comunicação e a informação estão na base do intercâmbio entre os 23 países que integram o Programa Iberoamericano de Bancos de Leite Humano (IberBLH), empenhados em promover a alimentação de recém-nascidos com leite humano e assim contribuir para a redução da mortalidade infantil em todo o mundo. Coordenado pelo Brasil por meio da Fiocruz, o IberBLH promove a troca de experiências, ideias e soluções entre os países que participam da cooperação internacional. Neste cenário, as tecnologias da informação têm papel de destaque. Pesquisas e experiências inovadoras na área serão apresentadas durante o V Congresso Brasileiro, I Congresso Iberoamericano de Bancos de Leite Humano, que acontece de 28 a 30 de setembro, em Brasília.


O secretário executivo do IberBLH e coordenador da RedeBLH, João Aprigio Guerra de Almeida, reconhece que as ferramentas de comunicação e tecnologias da informação são essenciais para integrar países em diferentes estágios de desenvolvimento da atividade. “A Venezuela, por exemplo, tem oito bancos funcionando; Cuba, um, e com projeto de mais nove; Espanha conta com dois; e Portugal, um. Cada etapa do processo de implantação e manutenção de bancos de leite humano requer demandas específicas, diferenciada em cada país. Aprender com a experiência de parceiros internacionais é estratégico para o desenvolvimento da iniciativa”, João Aprigio avalia.


O sistema de informação e gestão de bancos de leite humano foi desenvolvido no Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict/Fiocruz) e está em funcionamento nos 200 bancos de leite humano brasileiros e também no Equador, Uruguai e Guatemala, fornecendo dados sobre os bancos e auxiliando gestores a administrá-los. No Brasil, o sistema de informação da RedeBLH — que serve de modelo para o IberBLH —orienta o Ministério da Saúde sobre os locais onde a iniciativa pode ser mais resolutiva, contribuindo para a redução dos índices de mortalidade neonatal.


João Aprígio reconhece que a expansão da iniciativa só é possível com o auxílio das tecnologias da informação e da comunicação: “Os bancos de leite humano são casas de apoio à amamentação. Dependemos da comunicação e da informação para que a sociedade participe e fortaleça a iniciativa. Um resultado desta parceria é o Dia Nacional de Doação de Leite Humana, que por meio de campanhas veiculadas na mídia sensibiliza mulheres para a doação”, o coordenador da RedeBLH apresenta. A partir desta experiência bem sucedida, a RedeBLH promove mobilização social para criação do Dia Mundial de Doação de Leite Humano. A data será divulgada durante o V Congresso Brasileiro / I Congresso Iberoamericano de Bancos de Leite Humano.


Publicado em 29/9/2010.

Voltar ao topo Voltar