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06/08/2010

Revista de história das ciências e da saúde traz dossiê 'Ciência e mídia'

Portal COC


“Seria o cérebro a fonte de nosso cansaço?” Com essa e outras questões instigantes, os professores do Instituto de Medicina Social da Uerj Francisco Ortega e Rafaela Zorzanelli discutem as possíveis causas da síndrome da fadiga crônica. Eles são autores de um dos artigos inéditos da nova edição da revista História, Ciências, Saúde — Manguinhos que, desta vez, também publica outros textos com temas diversificados, e ainda inclui o dossiê Ciência e mídia, com uma amostra sobre a cobertura dedicada à ciência em alguns jornais brasileiros de distribuição nacional e regionais.


Em A ciência na primeira página: análise das capas de três jornais brasileiros, Flavia Natercia da S. Medeiros, Marina Ramalho e Luisa Massarani confirmam o que vários outros autores já haviam constatado: “Uma diminuta parcela da pesquisa produzida por cientistas é coberta pela mídia". As autoras fizeram uma análise de conteúdo das chamadas de capa relativas a temas de C&T veiculadas em 2006, nos jornais Folha de S. Paulo, Jornal do Commercio, de Pernambuco, e Zero Hora, do Rio Grande do Sul. Observaram que a Folha de S. Paulo levou o tema às capas com maior frequência, ao passo que Zero Hora foi o jornal que lhe deu mais destaque na primeira página.


A partir desta edição, a divulgação científica tem mais espaço na revista. “A ideia”, diz  Jaime Benchimol na carta do editor, “é captar bons materiais para as seções existentes, estudos históricos sobre a comunicação de temas de ciência e tecnologia através de distintos meios: museus, jornais, internet, televisão, exposições, desenhos animados, filmes, histórias em quadrinhos, eventos de rua, artes plásticas”.


Cardápio diferente


Autores do artigo sobre a síndrome da fadiga crônica, Ortega e Zorzanelli intitulam os 1900s como “a década do cérebro”, que atualmente é objeto de muitos estudos. Eles sustentam que uma das consequências desse “novo status” é que as neurociências ampliaram o foco de suas pesquisas: “temas antes tratados apenas pelas ciências humanas e sociais como culpa, vergonha, religiosidade passam a ser investigados por métodos neurocientíficos e, sobretudo, de imageamento cerebral”.


Os autores enfatizam que “diante do atual padrão de exigência que domina as relações de trabalho e do ‘excesso-de-atividades-como-estilo-de-vida’, a abordagem da SFC se empobrece quando deixa de lado o quadro psicossocial em que o paciente se insere”. Os autores insistem: evite reduzir as causas da SFC apenas a aspectos somáticos.


Outro dos artigos é o relato da obervação de César Sabino, Madel Luz e Miguel Montagner: ao longo de três anos eles fizeram entrevistas com freqüentadores de 12 academias no Rio de Janeiro que buscam a hipertrofia muscular por meio de exercícios de musculação e peso, associados a dieta rica em proteína. São os “marombeiros”.


Eles descrevem seu primeiro dia de trabalho de campo, em uma das academias pesquisadas em Copacabana: “observamos um professor de musculação perguntar a um iniciante sobre suas práticas de exercícios anteriores, seus hábitos alimentares, se bebia e fumava, e sobre o histórico familiar de possíveis patologias cardíacas ou diabetes, além de perguntar sobre o tipo de forma física que desejava construir”. Ele queria ficar musculoso, mas nem tanto quanto um Schwarzenegger.


Depois de responder ao questionário, contam os autores, o rapaz recebeu a prescrição de exercícios e uma “dieta forte” indicada para “secar”, que previa para o café da manhã 10 claras de ovos cruas, 10 colheres de aveia, 2 bananas, 1/2 copo de leite desnatado c/10 gotas de adoçante. Durante o dia, muita carne branca de frango e de peixe e macarrão sem molho e sem sal, batata, banana. Os praticantes da musculação intensa associam anabolizantes e esteróides ao regime alimentar, substâncias capazes de “fazer crescer”, ou seja, aumentar a massa muscular.


Nas outras seções da revista, pode-se descobrir a trajetória de Henrique da Rocha Lima e as relações médico-científicas entre Brasil e Alemanha na primeira metade do século 20, em nota de pesquisa de André Cândido da Silva, bem como conhecer em detalhes dois acervos: o da Seção de Pesquisa Social do Sesp, em trabalho de Nísia Trindade Lima e Marcos Chor Maio, e o do Centro de Memória do Esporte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, analisado por Silvana Goellner.


A seção Livros e Redes publica sete resenhas de obras recentemente distribuídas às livrarias. A coletânea Informação, saúde e redes sociais: diálogos de conhecimentos nas comunidades da Maré, organizada por Regina Maria Marteleto e Eduardo Navarro Stotz (Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009) reúne, em 176 páginas, textos de 17 autores de formações diversas e olhares múltiplos. Os trabalhos são reunidos por afinidades temáticas, em três partes que se complementam ao descrever, sob diferentes perspectivas, o cotidiano de moradores da Maré, uma área de alta densidade populacional de camadas de baixa renda, no subúrbio do Rio de Janeiro.


Em meados de agosto, será possível ter acesso gratuito aos textos completos de artigos e outros trabalhos desta edição na versão digital da revista no portal SciELO. Lá será possível consultar toda a coleção, sendo vários artigos publicados no idioma original e em inglês.


Publicado em 30/7/2010.

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