Agência Fiocruz de Notícias

No dia 22 de outubro, 235 revistas científicas de 37 países publicaram simultaneamente mais de 750 artigos sobre pobreza e desenvolvimento humano, numa iniciativa internacional liderada pelo Council of Science Editors em 2007. O objetivo é estimular o interesse e pesquisas sobre o tema, além de disseminar resultados de pesquisas realizadas em todos os continentes. No Brasil, a revista Ciência & Saúde Coletiva, da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), apoiou a iniciativa e publicou o número especial Pobreza, desigualdades sociais e saúde: desafios para as políticas públicas, com artigos, debates, revisões e opiniões sobre o tema proposto. Editado por três pesquisadoras, entre elas Rosana Magalhães, do Departamento de Ciências Sociais da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz, o número especial “contribui para iluminar diferentes perspectivas teóricas e conceituais em torno das relações entre pobreza, saúde e políticas públicas”, segundo Rosana, e dá destaque especial aos programas de transferência condicionada de renda. Com contribuições de autores como Paulo Buss, Marcio Pochmann, Karen Griffin e Eduardo Matarazzo Suplicy, entre vários outros, a revista pode ser lida integralmente na base Scielo Public Health. Para a Ensp, o apoio institucional dado à iniciativa é uma forma de estimular novas pesquisas e teses sobre o tema. A seguir, Rosana Magalhães comenta a iniciativa internacional, a participação da revista da Abrasco e a importância da Ensp neste processo.

O número temático Pobreza, desigualdades sociais e saúde: desafios para as políticas públicas, da revista Ciência & Saúde Coletiva, constitui a participação da revista da Abrasco na iniciativa do Council of Science Editors, que escolheu o tema global pobreza e desenvolvimento humano para 2007. Qual foi o objetivo da participação da revista da Abrasco nesta articulação internacional?

Rosana Magalhães: Este número, lançado pela Ciência e Saúde Coletiva da Abrasco em outubro, buscou acompanhar a perspectiva do Council of Science Editors este ano, que foi a de estimular o interesse e o debate sobre os temas da pobreza e do desenvolvimento humano, divulgando resultados de análises e pesquisas em todo o mundo. Participaram desta iniciativa 235 revistas científicas de 37 países. Fruto de um esforço que envolveu como editoras, além de mim, as pesquisadoras da Universidade Federal Fluminense (UFF) Luciene Burlandy e Mônica de Castro Maia Senna, a revista teve como objetivos contribuir para iluminar diferentes perspectivas teóricas e conceituais em torno das relações entre pobreza, saúde e políticas públicas e, também, sistematizar e analisar programas e experiências voltados à superação da miséria e redução de desigualdades sociais em diferentes contextos sociais. Um especial destaque foi dado aos programas de transferência condicionada de renda - os chamados conditional cash transfers - na medida em que, no Brasil e no mundo, tal arranjo institucional tem se tornado uma forte tendência no campo das políticas e programas sociais.

De que forma esta publicação especial está organizada?

Rosana: A revista conta com o “auxílio luxuoso” de autores, que ao longo do tempo vêm contribuindo de maneira consistente e criativa para a discussão das transformações recentes no perfil das políticas de proteção social e na dinâmica da desigualdade e, sobretudo, sobre os impasses colocados para o avanço da cidadania e do direito à saúde. Frente às especificidades do contexto brasileiro e latino-americano, onde as conditional cash transfers vêm assumindo relevância e centralidade no campo das políticas de combate à pobreza, há um especial destaque à reflexão sobre a origem, a concepção, o desenho operacional e a implementação destes programas e, também, sobre os desafios presentes na trajetória de construção de alternativas de integração social.

Que autores e que artigos destacaria?

Rosana: Sem dúvida, a participação de autores como Paulo Buss, Marcio Pochmann, Lena Lavinas, Maria Ozanira Silva, Ana Luíza Viana, Ana Fonseca, Karen Griffin, Patrícia Luchese, Iara Lessa, Eduardo Matarazzo Suplicy, entre outros, é inestimável na medida em que garante densidade analítica, além de múltiplas perspectivas e enfoques. Ao mesmo tempo, o debate proporcionado por Sonia Fleury e Eleonor Connill instiga a reflexão sobre os contornos e dilemas da questão social contemporânea. Mas gostaria de destacar também a oportunidade que tivemos de dar visibilidade aos resultados da pesquisa realizada entre 2004 e 2005 e apoiada pelo CNPq, intitulada Implementação do Programa Bolsa Família no Estado do Rio de Janeiro. A investigação envolveu pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e alunos do Programa de Pós-Graduação da Ensp. Embora tenha sido restrita aos municípios de Duque de Caxias e São Francisco de Itabapoana, permitiu uma rica aproximação com os impasses vividos no processo de gestão local e que, muitas vezes, iluminam fragilidades, inconsistências, mas também avanços na própria concepção e no desenho operacional da política.

Como e onde os interessados podem encontrar a revista?

Rosana: A revista já está disponível em papel e também online no Scielo Public Health.

Qual é o papel da Ensp/Fiocruz neste processo?

Rosana: A revista é um produto gerado a partir do apoio institucional e da interlocução permanente com pesquisadores, docentes e alunos vinculados ao ambiente acadêmico da Ensp/Fiocruz. Neste sentido, o papel dinamizador da pesquisa e do ensino da Ensp em torno das questões da pobreza, das desigualdades sociais e das políticas públicas é atualizado e renovado, estimulando novas pesquisas e teses. Desde março deste ano, está em curso - com o apoio do Centro Colaborador de Alimentação e Nutrição (Cecan) região sudeste, ligado ao Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, da Ensp, e coordenado por Denise Barros, e também com o apoio do Departamento de Ciências Sociais da Escola - uma nova investigação sobre a implementação do programa Bolsa Família em Manguinhos a partir de entrevistas com gestores locais e grupos focais com famílias beneficiárias. Ao mesmo tempo, reforça a perspectiva interinstitucional os laços com universidades como a UFF e a UFFRJ e com organizações não-governamentais como o Ibase.

Fonte: Informe Ensp