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27/06/2012

Rio+20: documento final aponta que saúde e sustentabilidade são indissociáveis

Danielle Monteiro, Marina Lemle e Ricardo Valverde


Apesar de o documento final da Rio+20 ter ficado aquém do que se esperava em termos de compromissos assumidos pelos países, a importância da saúde no desenvolvimento sustentável está registrada no texto oficial, após ter corrido risco de ser deixada de lado, uma vez que no rascunho zero, divulgado em março, não havia qualquer menção. O documento O futuro que queremos deixa claro que a saúde é pré-requisito e resultado do desenvolvimento sustentável, além de ser um importante elemento de mensuração do desenvolvimento. Graças ao esforço da Fiocruz, do Ministério da Saúde, da Organização Panamericana da Saúde, da diplomacia brasileira e de parceiros como o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o tema saúde e população ganhou oito parágrafos - do 138 ao 146 - no documento final. A presença do tema no documento se deve em grande parte ao encaminhamento ao G-77, pelos ministérios da Saúde e das Relações Exteriores, de cinco parágrafos de demandas da saúde elaborados com a colaboração da Fiocruz.


 A presidente Dilma Rousseff discursa na cerimônia de encerramento da Rio+20 (Foto: Agência Brasil) 

A presidente Dilma Rousseff discursa na cerimônia de encerramento da Rio+20 (Foto: Agência Brasil) 





Representaram a Fundação na delegação brasileira no Riocentro o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), Valcler Rangel Fernandes, e o coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris), Paulo Buss. Gadelha destaca que a atuação da Fiocruz para a Rio+20 teve início bem antes da abertura oficial do evento. “Durante meses, a instituição organizou encontros e promoveu debates que tiveram por finalidade engajar a Fundação e contribuir para minorar o problema da ausência do tema saúde na discussão principal. A Fundação levou ao debate público as suas propostas e ideias e ainda as críticas ao modelo de desenvolvimento atual, que é insustentável e põe em risco a atual e as futuras gerações. Elaboramos o documento Saúde, ambiente e desenvolvimento sustentável, que aceitou contribuições diversas e ainda será finalizado. Vamos continuar atuando nessas frentes que compõem hoje uma prioridade absoluta da nossa instituição , com o envolvimento e garra de todos”, afirma.


 Mais de 400 indígenas ocuparam o <EM>campus</EM> Fiocruz da Mata Atlântica (Foto: Tatiane Leal)

Mais de 400 indígenas ocuparam o campus Fiocruz da Mata Atlântica (Foto: Tatiane Leal)


Além da inserção da saúde na pauta oficial do desenvolvimento sustentável, Gadelha também considera muito gratificante a experiência dos eventos realizados nas tendas do Espaço Saúde Ambiente e Sustentabilidade, montadas na Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo por uma parceria entre Fiocruz, Cebes e Abrasco: “Foram expressivos os resultados da mobilização dessa parceria já histórica, principalmente devido à densidade dos debates, marcados pela participação dos movimentos sociais”. Para o presidente da Fiocruz, agora cabe às instituições comprometidas com a saúde da população e a melhoria da qualidade de vida permanecer mobilizadas para viabilizar as mudanças. “O caminho do enfrentamento das questões que são um desafio para a saúde e o ambiente passa pelo reforço das parcerias que a Fiocruz mantém e pela articulação com novos atores, levando a propostas efetivas ao reunir academia, governos e movimentos sociais na elaboração de um modelo que supere os atuais entraves. A Fundação continuará a dedicar um grande esforço para dar centralidade à saúde na construção de um modelo de desenvolvimento que seja sustentável, inclusivo e socialmente justo”, enfatiza Gadelha.


 Plateia participa da discussão sobre os agrotóxicos na tenda da Fiocruz na Cúpula dos Povos

Plateia participa da discussão sobre os agrotóxicos na tenda da Fiocruz na Cúpula dos Povos


Ex-presidente da Fiocruz, Paulo Buss qualifica como “brilhante” e “extremamente rica” a participação da Fundação na Rio+20: “Entramos muito cedo no processo, criando uma página que virou referência para o tema Saúde na Rio+20; tivemos uma importante participação no seminário sobre a Rio+20 em Brasília em maio, que teve 200 pessoas e diversos desdobramentos, e finalmente, estivemos presentes na Cúpula dos Povos com atividades extremamente concorridas e muito bem recebidas pelas pessoas que passavam por ali. É uma satisfação ver a Fiocruz ter uma participação de liderança, não só no campo da saúde, mas também discutindo temas globais e trazendo esses temas globais na sua conexão com a saúde”.


 O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, e o o coordenador do Centro de Relações Internacionais (Cris) da Fundação, Paulo Buss, apresentam o documento elaborado pela instituição, na Cúpula dos Povos

O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, e o o coordenador do Centro de Relações Internacionais (Cris) da Fundação, Paulo Buss, apresentam o documento elaborado pela instituição, na Cúpula dos Povos


Segundo Buss, a presença da saúde no documento oficial é expressiva, tratando de temas prioritários, como doenças não transmissíveis e transmissíveis, saúde reprodutiva e medicamentos. “Tudo isso aparece dentro da área da saúde pelo menos demarcando um território, uma importância para caracterizar a saúde no campo do desenvolvimento sustentável. Agora, no pós Rio+20, até 2015, devemos discutir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e garantir que a saúde apareça nessa discussão”, afirma.


 Auditório Arena de Debates, montado no Pop Ciência (Foto: Luanda Lina)

Auditório Arena de Debates, montado no Pop Ciência (Foto: Luanda Lina)


O vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, Valcler Rangel, ressalta o papel da Câmara Técnica de Saúde e Ambiente da Fiocruz na Rio+20. Ele conta que, numa reunião da Câmara, o representante Luiz Augusto Galvão participou remotamente e alertou os pesquisadores que a saúde estava totalmente ausente das discussões da conferência. “A partir desse alerta, fomos instados a ter uma atuação mais presente junto ao Ministério da Saúde e a promover debates na Fiocruz que pudessem colocar a saúde como um tema a ser explorado na Rio+20. E isso teve resultado no próprio documento final”, conta. Para Rangel, mesmo que poucas decisões tenham sido tomadas, é interessante que a saúde apareça como um parâmetro orientador para a questão ambiental, colocando a humanidade no centro da questão. De acordo com o vice-presidente, o fato de a questão ter passado pela Câmara Técnica de Saúde e Ambiente e também pelo Conselho Deliberativo descentralizou as ações da presidência e provocou um envolvimento maior das unidades da Fiocruz, que desenvolveram suas próprias atividades.


Para Rangel, a participação na Cúpula dos Povos foi muito mais importante para a Fiocruz do que ter representantes no Riocentro, porque na cúpula foi possível abrir espaço para diálogos com atores que promovem o desenvolvimento sustentável local - os movimentos sociais, que efetivamente lidam com problemas ambientais em planos mais locais. “O momento é de ações voltadas para parcerias com movimentos de favelados, de trabalhadores do campo e movimentos pela saúde urbana. Acho que essas são as agendas fundamentais para trabalharmos agora”, diz.


Rangel destaca também a importância da Aldeia Kari-Oca, montada no campus Fiocruz da Mata Atlântica, em Jacarepaguá, graças à articulação com o Comitê Intertribal. A aldeia reuniu 400 índios de várias etnias e regiões brasileiras, assim como índios de outros países. “Possibilitamos lá o encontro entre indígenas e a população urbana e também com autoridades. Foi um encontro de caráter cultural bem importante. Os indígenas já vivem numa cultura de sustentabilidade e temos muito a aprender com eles”, destaca. Rangel acredita que essa iniciativa possa conduzir a parcerias com o Comitê Intertribal, em discussão com a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai). O vice-presidente destaca ainda a participação da Fiocruz no Cais do Porto, tanto no espaço do Ministério da Saúde, como na Mostra de Ciência, no Armazém 4, onde a Casa de Oswaldo Cruz montou uma exposição.


Publicado em 26/6/2012.

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