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07/02/2012

Risco de malformação fetal é maior em gestantes com transtornos mentais

Renata Moehlecke


Avaliar se o risco de malformação congênita é maior em bebês de mães com transtornos mentais, em comparação àqueles de mães sem histórico de problemas psiquiátricos: esse era o objetivo de um estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que apontou que essa associação é afirmativa, sendo a probabilidade de a criança ter o problema maior em 63%. Para a pesquisa, publicada na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, eles realizaram uma revisão estudos sobre a temática a partir de bases de dados bibliográficos, incluindo assim na análise um total de 4.194 crianças de mães com transtornos mentais e 249.548 bebês de mães sem essas enfermidades.


 Nos documentos analisados, o principal transtorno mental avaliado era a esquizofrenia, embora alguns estudos também tenham incluído transtornos afetivos.

Nos documentos analisados, o principal transtorno mental avaliado era a esquizofrenia, embora alguns estudos também tenham incluído transtornos afetivos.





“Estudos sobre os desfechos nas gestações de mulheres com transtornos psicóticos têm mostrado um aumento não só na incidência de malformações como também de complicações obstétricas em geral e mortalidade perinatal entre seus recém-nascidos”, explicam os pesquisadores. “Os mecanismos causais dessa relação ainda são desconhecidos, mas suspeita-se que esse risco possa estar associado à administração de medicamentos antipsicóticos durante a gravidez, ao abuso de substâncias (álcool, tabaco e outras drogas), aos fatores relacionados ao estilo de vida (dieta e cuidado pré-natal insatisfatórios) e às precárias condições socioeconômicas nas quais vivem essas mulheres”.



Para a pesquisa, os estudiosos consultaram, em bases de dados como o PubMed/Medline, Isiweb, Scopus, Lilacs e SciELO, artigos publicados durante dez anos (de 2000 a 2010) em inglês, espanhol e português. A busca resultou em 108 documentos, mas apenas seis se enquadraram em todos os critérios pré-estabelecidos para a análise. Os resultados apontaram que esses seis artigos eram provenientes de países como Suécia, Dinamarca, Austrália e Israel.



Nos documentos analisados, o principal transtorno mental avaliado era a esquizofrenia, embora alguns estudos também tenham incluído transtornos afetivos. “De uma maneira geral, não houve restrição quanto aos tipos de malformações investigadas nos estudos, apenas uma pesquisa avaliou somente malformações no sistema nervoso. Aqueles estudos que estratificam a análise por tipos de malformações encontram maiores frequências de malformações cardiovasculares e de defeitos congênitos fatais entre crianças de mães esquizofrênicas, comparadas às crianças de mães sem transtornos”, comentam os pesquisadores, que ainda acrescentam: “Ainda não há hipóteses plausíveis para a associação da esquizofrenia materna com um ou determinado tipo de malformação”.



A análise ainda apontou que, nas pesquisas verificadas, a esquizofrenia e os transtornos afetivos tiveram associação com complicações obstétricas, além das malformações fetais. Gestantes esquizofrênicas ou com transtornos afetivos apresentaram maiores probabilidades de ter hemorragias, anormalidades placentárias e sofrimento fetal.



“Tendo em vista a escassez de estudos sobre o tema, novas pesquisas são necessárias para aprimorar o conhecimento da prevalência desses transtornos antes e durante a gestação e de sua associação com o risco de malformação e de outras complicações obstétricas, visando fundamentar políticas públicas de saúde materno-infantil, que contemplem novas práticas assistenciais, como a implementação da assistência em saúde mental na atenção pré-natal. Isso permitiria a detecção precoce, adequado tratamento e manejo dessas pacientes e mesmo a prevenção dos transtornos mentais maternos posteriores, minimizando com isso os riscos à saúde da criança”, concluem os pesquisadores.



Publicado em 6/2/2012.

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