Início do conteúdo

13/01/2010

Saudação a Zilda Arns

Paulo Buss*


Recebi há alguns dias a agradável incumbência de receber como honorária da Academia Nacional de Medicina (ANM) a Dra. Zilda Arns Neumann. Pediatra, sanitarista, ativista social, quantos títulos e funções numa única mulher!


Dra. Zilda transformou-se, ao longo de sua vida de entrega e dedicação, num símbolo brasileiro da dedicação às crianças e velhos, os seres mais frágeis na escala humana.


Tudo começou há muitos anos, em 1983 – há 25 anos, portanto – quando recebeu da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a incumbência de criar um grande movimento social, denominado pelo sínodo brasileiro de Pastoral da Criança. Na verdade, começou muito antes, talvez desde seu berço católico, dos pais Gabriel e Helena, quando nasceu, em Forquilhinha, uma pequena cidade de Santa Catarina, no sul do Brasil, em 25 de agosto de 1934. É irmã dos hoje freis da Ordem dos Frades Menores de São Francisco, dom Crisóstomo e dom Paulo Evaristo Arns, este o cardeal emérito do povo de São Paulo.

 

Em 1959 formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná. A vida de pediatra de posto de saúde despertou-lhe a inquietação quanto às condições sociais em que viviam as crianças que atendia. Passou então a envolver-se mais intensamente com a saúde pública e sua tenacidade na defesa das crianças e mulheres grávidas levou-a a influenciar a CNBB na criação da Pastoral da Criança.


Nos últimos vinte e cinco anos, a Pastoral acompanhou cerca de 2 milhões de crianças menores de seis anos e 1,5 milhões de famílias pobres em 4.060 municípios brasileiros. Nesse período, mais de 260 mil voluntários levaram solidariedade e conhecimento sobre saúde, nutrição, educação e cidadania para as comunidades mais pobres, criando com isso condições para que elas sejam protagonistas de sua própria transformação social. Como costuma dizer a Dra. Zilda: “O voluntário da Pastoral realiza mais do que um trabalho junto às famílias que acompanha: ele tem uma missão de Fé e Vida, de fraternidade cristã, de amor e de co-responsabilidade social”.


A Pastoral da Criança tem como objetivo o desenvolvimento integral das crianças e promove, em função delas, também suas famílias e comunidades, sem distinção de raça, cor, profissão, nacionalidade, sexo, credo religioso ou político.


Seu trabalho, baseado na solidariedade humana e na partilha do saber, visa o desenvolvimento integral das crianças, da concepção aos seis anos de idade, em seu contexto familiar e comunitário, a partir de ações de caráter preventivo e que fortaleçam o tecido social e a integração entre a família e a comunidade. Como também costuma dizer Zilda Arns, “se as famílias vão bem, a criança vai bem!” Ou, também no seu dizer: "A Pastoral só faz coisas simples e fáceis de serem replicadas em grande escala".


Às vezes, ela é chamada simplesmente de "dona Zilda", como fazem a  população ribeirinha da Amazônia, as comunidades pobres do Sul do país, ou as crianças do Nordeste.


Em 2004, Dra. Zilda recebeu da CNBB outra missão semelhante: fundar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa. Atualmente mais de 100 mil idosos são acompanhados mensalmente por 12 mil voluntários de 579 municípios de 141 Dioceses de 25 Estados brasileiros.


Esta maravilhosa atividade rendeu-lhe muitas honrarias internacionais, entre as quais merecem destaque: o Prêmio Heroína da Saúde Pública das Américas, concedido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), em 2002; diploma e medalha O Pacificador da ONU Sérgio Vieira de Mello, concedido pelo Parlamento Mundial de Segurança e Paz, em 2005; a Medalha Simón Bolívar, da Câmara Internacional de Pesquisa e Integração Social, em 2000; o Prêmio Humanitário do Lions Club Internacional, em 1997; e o Prêmio Internacional da Opas em Administração Sanitária, em 1994. Em 2006, esta extraordinária mulher foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz.


Seu país não lhe rendeu menor tributo. É cidadã honorária de dez estados (RJ, PB, AL, MT, RN, PR, PA, MS, ES, TO) e de trinta e seis municípios brasileiros e doutor honoris causa de cinco universidades do nosso país.


Recebeu a insígnia da Ordem do Mérito Médico, na classe Comendador, concedida pelo Ministério da Saúde, em 2002; a Ordem do Rio Branco, no grau de Comendador, honraria concedida pela Presidência da República, em 2001; e a Ordem do Mérito Educativo, em 1994. É Membro da Academia Nacional de Economia (2007) e Honorária da Academia Paranaense de Medicina (2003).


Tive a honra e a satisfação de compartilhar com Zilda Arns da Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), na qual construímos – junto com Adib Jatene, nosso confrade, e muitos outros brasileiros insígnes – uma revisão das influências dos fatores sociais sobre a saúde e um conjunto de sugestões para a implementação de politicas públicas inter-setoriais que visem enfrentá-los e superá-los. Ela foi fundamental, com sua presença delicada e afetiva, nos trabalhos da Comissão. Quando entregamos o relatório ao presidente Lula, em memorável tarde de agosto, na frente do Castelo de Manguinhos, ele enalteceu o trabalho dos membros da Comissão e fez especial menção ao dr. Jatene e à dra. Zilda.


Atualmente com 74 anos, Dra. Zilda divide seu tempo entre os compromissos como coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa e coordenadora internacional da Pastoral da Criança e a participação como representante titular da CNBB no Conselho Nacional de Saúde, e como membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).


Ela foi, é e será uma grande mulher e uma estrela admirada no meio dos médicos, pediatras, pesquisadores e ativistas sociais do mundo. Mas sei também, porque disso muitas vezes conversamos, que seu maior carinho e devotamento são dedicados a sua familia, constituída – desde que ficou viuva, em 1978 – de seus filhos Rubens, Nelson, Heloísa, Rogério e Silvia (esta já falecida), genros e noras, e de seus dez netos: Danilo, Lucas, Caroline, Alessandra, Eduard, Nicole, Nátali, Bárbara, Beatriz e Gustavo, todos aqui presentes.


Zilda Arns, seja benvinda à nossa Academia! Estamos honrados em tê-la como confrade a partir desta noite!


[Este discurso foi proferido no Rio de Janeiro, em 15 de julho de 2008.]


Publicado em 13/1/2010.

Voltar ao topo Voltar