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13/08/2009

Secretário de Assuntos Estratégicos visita a Fiocruz para firmar parceria

Ricardo Valverde


O secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Daniel Barcelos Vargas, esteve na quinta-feira (13/8) na Fiocruz para, além de conhecer a instituição, a sua atuação e os projetos desenvolvidos, saber como os dirigentes da Fundação preveem que estará a saúde pública em um prazo de 30 anos. A reunião, ocorrida na Vila Residencial, contou com a participação do presidente Paulo Gadelha, de vice-presidentes e diretores de unidades. Segundo Vargas, o objetivo é “estabelecer uma cooperação com a Fiocruz, a elite intelectual da saúde, em relação a assuntos estratégicos”.



Gadelha abriu a reunião ao fazer uma breve retrospectiva histórica da Fiocruz, mostrando como a Fundação esteve envolvida com o desenvolvimento científico ao longo das décadas. Lembrando da experiência com os Planos Quadrienais da Fiocruz, ele disse que a instituição está acostumada a pensar e planejar o futuro, portanto pode ser uma interlocutora válida e de peso para a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).



Vargas afirmou que solicitou o encontro para se inteirar a respeito dos desafios do setor para as próximas três décadas e assim definir prioridades. “A educação tem um projeto de longo prazo de dez anos. O setor elétrico, de 20 anos. O setor de transportes e logística conta com um planejamento para 30 anos. E a saúde? Não existe nada. Temos urgência de construir um projeto semelhante. Em 2010 haverá campanha eleitoral. Portanto, é necessário apresentar ao país este debate, sobre o que queremos para a saúde. E quem é qualificado, como a Fiocruz, pode propor caminhos a serem seguidos” argumentou.



O secretário disse que existe no Brasil uma histórica desigualdade no atendimento à saúde e que o país vive “um apartheid institucionalizado na área, que gera um constrangimento social e um problema moral”. Vargas criticou ainda a concentração de serviços nas regiões mais ricas e enfatizou a importância de romper as barreiras por meio de um planejamento rigoroso do que deve ser feito (e reformulado) na saúde, levando investimentos e tecnologia para os lugares mais pobres.



Para Vargas, o desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde inverte a lógica que se observa no Brasil e abre a possibilidade de o Estado, com seus investimentos, fazer uma transformação no setor. “Não podemos pensar apenas em termos de uma ‘relação hidráulica’ entre Estado e mercado - ora há uma maior participação de um, ora há mais de outro -, e sim não perder de vista que o primeiro tem um papel de estimular o segundo. E assim gerar desenvolvimento e riquezas”.



Gadelha disse que a agenda da SAE é cara à Fiocruz, que com ela se coaduna. “Estamos de acordo sobre a equidade, a regionalização, a concepção de Estado. E estamos buscando um novo modelo jurídico para a Fundação, tendo em vista a nossa atuação diferenciada”. O ex-presidente Paulo Buss alertou para a necessidade de se criar políticas “para” a saúde, e não apenas de saúde, e que estejam voltadas para as grandes macrorregiões sociossanitárias nacionais. “O Brasil está mudando rapidamente. Temos que pensar no impacto que fatores como as migrações internas, a queda da fecundidade, o aumento da longevidade e outros causarão no sistema de saúde nos próximos anos”. O vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel Fernandes, complementou a participação de Buss enfocando a relevância de manter uma perspectiva ecossistêmica na análise dos problemas da saúde e de se abordar as questões dos territórios intraurbanos e suas desigualdades estruturais.



Para o coordenador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS), Carlos Morel, os governos costumavam enxergar a saúde como despesa, e não como investimento. “E temo que, com o atual Congresso, pode até haver retrocesso, tendo em vista o poderoso lobby da indústria farmacêutica”, afirmou Morel, ao citar a experiência da Coreia do Sul, que se tornou um país de alto desenvolvimento tecnológico ao apostar em parcerias internacionais e estimular seus institutos de pesquisa, que conseguiram dar um salto de qualidade. Ao final da reunião, ficou acertado que a Fiocruz apresentará à SAE uma proposta de cooperação, em que estarão identificados os desafios, problemas e metas a serem perseguidas. A secretaria estudará esse material e dentro em breve marcará um novo encontro, para que a parceria SAE-Fiocruz comece a dar frutos.

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