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13/04/2012

Seminário discute cooperação em ensino em países africanos e latinoamericanos

Danielle Monteiro


Com o intuito de promover maior articulação e integração entre as ações que promove no âmbito da cooperação internacional no ensino, a Fiocruz promoveu, na quarta feira (11/4), o seminário Cooperação estruturante no ensino: a experiência da Fiocruz na América Latina e África. O evento, coordenado pelo Centro de Relações Internacionais (Cris/Fiocruz) e a Vice-Presidência de Ensino, Informação e Comunicação (VPEIC) da Fundação, reuniu os coordenadores de programas de ensino de algumas das unidades da Fundação para apresentar dados sobre os programas de educação oferecidos na América Latina e África. “Sentimos uma necessidade de reflexão compartilhada sobre a experiência de ensino que a Fiocruz tem desenvolvido nos países da África e América Latina. Nossa motivação principal foi trazer uma discussão para nós, em conjunto, refletirmos sobre se, de fato, estamos caminhando para uma cooperação estruturante”, explicou a vice-presidente Nísia Lima, durante abertura do evento.


 O coordenador do Cris, Paulo Buss, e a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nísia Lima (Fotos: Peter Ilicciev)

O coordenador do Cris, Paulo Buss, e a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nísia Lima (Fotos: Peter Ilicciev)





O coordenador do Cris, Paulo Buss, fez uma breve reflexão sobre a atuação do Brasil no cenário internacional nos últimos anos. Segundo ele, com o crescimento econômico do Brasil e a estabilização de sua economia, surgiu a responsabilidade do país em ajudar outros que ainda não conseguiram atingir o mesmo nível de crescimento. Buss também destacou a importância de uma cooperação estruturante no ensino nos países latinoamericanos e africanos e afirmou que, ao contrário de uma parceria isolada, a cooperação estruturante ocorre quando há um alinhamento das ações implantadas aos desejos do país que está sendo ajudado, além de uma harmonia dessas ações com as de outras nações que também desenvolvem programas de ensino naquele país e a apropriação dessas ações pelo país de forma a dar seguimento aos programas que recebeu. “A ideia não é chegar ao país, implantar a ação e ir embora. Cooperação estruturante significa alinhamento, harmonia e apropriação”, ressaltou.



Os programas de ensino e seus desafios



Os desafios na implantação dos programas de ensino foram frequentemente relatados pelos participantes do seminário. Um deles diz respeito à condição financeira de alguns alunos, principalmente do continente africano, o que dificulta sua estadia no período de estudo no Brasil. “É preciso estabelecer normas que melhorem as condições desses estrangeiros em nosso país. Precisamos oferecer a eles não só formação, mas também ajudar na melhoria de suas condições”, destacou Nísia. Outra dificuldade abordada foi a falta de infraestrutura dos países que receberam os programas de ensino, especialmente os africanos. “Tínhamos que dar as aulas dentro de um local pequeno, houve vezes em que faltava luz por problemas no gerador e sofríamos com o calor”, contou Fátima Martins, do Instituto de Comunicação e Informação Cientifica e Tecnológica (Icict/Fiocruz), que coordenou o projeto da criação de uma rede de bibliotecas em Moçambique. O programa, criado para capacitar os recursos humanos e promover o acesso às  fontes de informação e literatura para o desenvolvimento da saúde no país, teve como resultado a capacitação de 19 profissionais e  a obtenção de 18 centros cooperantes em Moçambique.


A mesma dificuldade foi apontada por Elizabeth Artmann, coordenadora do projeto de mestrado em saúde pública em Luanda, Angola, programa que consistiu em disciplinas presenciais com participação de professores brasileiros e de ex-alunos africanos que tenham mestrado e doutorado e estejam em atividade em seus países. “Faltou maior comprometimento por parte do governo angolano. Era comum haver salas sem água e luz, embora Angola disponha de infraestrutura”, afirmou Elizabeth.



Também realizado no país africano, o programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, coordenado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em parceria com o Instituto Nacional de Saúde (INS) de Moçambique, assim como a criação da rede de biblioteca no país africano, rendeu bons frutos. O programa, uma das atividades prioritárias do Plano Estratégico do INS, está para receber sua terceira turma no fim de julho e vai oferecer novas vagas para o pessoal da área clínica. Segundo Ilesh Jani, diretor do Instituto Nacional de Saúde, “a continuação do curso é de importância crítica para a estruturação do INS e do sistema de saúde em Moçambique”. De acordo com o coordenador do programa, Wilson Savino, do IOC, o maior desafio em sua implementação foi definir o que de fato os alunos de Moçambique necessitavam. “Tínhamos que definir o que os alunos de Moçambique precisavam, e não o que nós achávamos do que eles precisavam. Isso não foi fácil”, contou.


Outro programa apresentado no evento foi o curso de mestrado em saúde pública que a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) implantou no Peru, juntamente com o INS e o Ministério da Saúde do país sul-americano. Com o objetivo de fortalecer a capacidade de investigação e ensino em saúde pública de análise estratégica e de formulação de políticas e programas de saúde no país, o programa, que teve financiamento do Ministério da Saúde, por meio da Opas e do INS do Peru, contemplou 27 alunos, alguns eram pesquisadores e docentes do INS e da Universidade San Marcos.


No evento, também foram apresentados os programas de mestrado em epidemiologia na Argentina, coordenado pela Ensp e desenvolvido em parceria com a Administración Nacional de Laboratorios e Institutos de Salud (Anlis), o programa de mestrado em biologia celular e molecular na Argentina, coordenado pelo IOC e implementado na Anlis e as ações desenvolvidas pela Escola Polítécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) no âmbito da cooperação internacional. Com a realização do seminário, a ideia é que o Cris e a VPEIC compilem as informações obtidas de forma a avançar no desenvolvimento de metodologias para os cursos e detectar os pontos fracos das ações implementadas. “Devemos pensar mais na ideia de consórcio e associação de programas para podermos avançar mais. O papel das unidades na cooperação internacional no ensino é importante, mas devemos pensar em mais formas de integração para usar esse potencial tão rico que a Fiocruz tem”, complementou Nísia.


Publicado em 12/4/2012.

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