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26/03/2007

Seminário discute os impactos na saúde da nanotecnologia

Fernanda Marques


A cada 11 segundos uma pessoa morre em decorrência da Aids. Os ataques do coração e o câncer fazem ainda mais vítimas: uma a cada seis segundos e uma a cada quatro segundos, respectivamente. Esses dados impõem grandes desafios à indústria farmacêutica. Assim, o uso da nanotecnologia pode resultar em medicamentos mais eficientes, com melhor solubilidade, biodisponibilidade e seletividade. Contudo, deve-se ficar atento aos possíveis riscos ao meio ambiente e à saúde humana associados à nova tecnologia, que se refere ao controle e à manipulação da matéria no nível atômico para a geração de produtos e processos inovadores.


 Um nanotubo de carbono

Um nanotubo de carbono


A opinião é do químico Nelson Durán, pesquisador da Unicamp e da Universidade de Mogi das Cruzes. Ele foi um dos palestrantes do seminário Novas tecnologias da genética humana: avanços e impactos para a saúde, ocorrido nos dias 22 e 23 de março, na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz. O evento foi promovido pelo projeto Ghente – Estudos Sociais, Éticos e Jurídicos sobre Acesso e Uso de Genomas em Saúde, desenvolvido no âmbito da Coordenação de Gestão Tecnológica da Vice-presidência de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Fiocruz.


Durán falou de seu trabalho à frente da Rede de Nanobiotecnologia, criada pelo CNPq em 2001. Ao destacar estudos sobre encapsulamento de fármacos em nanopartículas, ele lembrou que medicamentos de base nanotecnológica – sobretudo destinados ao tratamento de doenças terminais – já foram aprovados pelo Food and Drug Administration, órgão que controla alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, e estão chegando ao Brasil. Portanto, é necessário que o país esteja preparado para esses novos produtos, o que envolve uma regulamentação adequada.


A necessidade de uma regulamentação da nanotecnologia no Brasil também foi enfatizada pelo sociólogo Paulo Martins, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo e coordenador da Rede de Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente. “Na nanoescala aparecem os efeitos quânticos, que mudam o comportamento óptico, elétrico, magnético e de resistência dos materiais. É preciso estudar a toxicologia desses materiais – um aspecto central para o desenvolvimento nanotecnológico –, mas quase não há pesquisas sobre isso. Se os pesquisadores estudam eventuais riscos à saúde humana, é por iniciativa própria, porque não existe uma política nesse sentido”, disse Martins, defensor de que a nanotecnologia seja objeto de estudo não só da física, química e biologia, mas também das ciências humanas.


Martins disse que, dos cerca de R$ 140 milhões investidos pelo estado em nanotecnologia, apenas em torno de R$ 100 mil foram destinados a estudos na área das ciências sociais. “As decisões sobre o que se faz em nanotecnologia ficam restritas ao estado e à comunidade científica. A sociedade está sendo excluída dos debates”, criticou o sociólogo. “O discurso hegemônico diz que não podemos perder o bonde da história da nanotecnologia e, por isso, qualquer questionamento é visto como um entrave ao desenvolvimento tecnológico. Isso tem que mudar”, concluiu ele, sublinhando que as novas tecnologias podem estar associadas ao crescimento econômico, mas este não significa bem estar social. Pelo contrário: é necessário ter cuidado para que as novas tecnologias não acentuem a desigualdade.


Além da nanobiotecnologia, o seminário do projeto Ghente debateu outros temas, como farmacogenética, terapia gênica e patenteamento das novas tecnologias. Mais informações aqui.

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